“Atingi um grau de maturidade que não é aceito no Brasil”, diz Emily Lima

  • Por Jovem Pan
  • 07/10/2017 13h26
CBF/Divulgação emily lima, seleção feminina Saída de Emily Lima expôs o racha da treinadora com o comando da CBF

Demitida após 10 meses no comando da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, a técnica Emily Lima revelou que o episódio não lhe causou estranheza, uma vez que, segundo ela, havia toda uma estrutura preparada nos bastidores para sua queda, que culminou na volta de Vadão ao cargo.

Em participação no programa “O Mundo da Bola” da Jovem Pan, Emily confirmou que seu dia a dia na Seleção se tornou um problema. “Após alguns meses eu entendia que estava no lugar errado. É bastante difícil desenvolver o futebol feminino na CBF. Sempre havia alguma pessoa que barrava as ideias e dizia que não daria certo. Eu sabia que não iria chegar à Copa América”, disse a treinadora.

Contrária à filosofia dos chutões, Emily afirmou que suas ideias se baseiam em pensar o modelo de jogo, o que também criou rusgas com a cúpula da CBF. “Consegui deixar um legado de ensinamento do futebol. Elas (jogadoras) não tinham ensinamento do que era um modelo de jogo e isso tudo me chamou atenção. Estamos em 2017 e nossas atletas ainda não são preparadas para entrar em campo e entender o que é futebol”, criticou.

Após se destacar à frente do São José, a treinadora acredita que as certificações internacionais junto à Fifa lhe credenciam para um trabalho fora do País. “É mais fácil trabalhar na Europa porque atingi um grau de maturidade que não é aceito no Brasil. Se eu quiser implantar algo aqui, como implantei, vou encontrar várias barreiras e lá esse caminho já está bem desenvolvido”, projetou.

Fã de Tite e Felipão, Emily se sente altamente preparada para assumir uma equipe masculina. “Se pintar uma oportunidade eu aceitaria sim. Seria um novo desafio e sei que não deve ser simples como parece. Mas o feminino me preparou bem para todas as dificuldades que devem aparecer”, ratificou.

Queda de braço com Marco Aurélio

A treinadora nunca escondeu que um dos pivôs para sua queda foi o coordenador de seleções, Marco Aurélio Cunha. “Eu trabalhava muito e isso não era bom. Ele sempre perguntava porque eu estava sempre lá na CBF e se havia tanta coisa para fazer. No futebol feminino sempre terá coisas para fazer. Nós fizemos um mapeamento do futebol regionalizado e soubemos o que era o futebol feminino no País. Isso leva trabalho e tempo, mas começou a incomodá-lo”, revelou.

“Ele disse que não fez parte da minha demissão. Mas é complicado porque ele é o coordenador de seleções. E como ele não sabia? Nosso coordenador não tem influência nenhuma sobre contratações ou demissões. Qual a função dele ali eu não sei”, completou.

Em 13 partidas no comando da Seleção Brasileira, Emily Lima não resistiu a sequência negativa de seis jogos sem vitórias. “Fizemos um planejamento para enfrentar as melhores seleções. Só que as coisas não deram certo pelo resultado. Mas eles (dirigentes) só olham resultados. Esse foi meu erro, mas eu não mudaria nada”, reconheceu.

Desistências e carta

A demissão do comando técnico da Seleção Brasileira também pode ser o início de uma revolução no modelo de gerir o futebol feminino. Logo após a saída de Emily Lima, cinco jogadoras (Cristiane, Rosana, Andreia Rosa, Francielle e Maurine) anunciaram que não vestem mais a camisa canarinho. Já outras ex-atletas como Formiga, Sissi, Marcia Taffarel, Rosana e Juliana Cabral, além de Fran e Cristiane, enviaram uma carta à imprensa cobrando melhores condições para a modalidade.

Após a divulgação do documento, no final da última sexta-feira (6), a entidade convocou uma reunião para 17 de outubro às 15h.

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