Com ano memorável, base pode ser a “carta na manga” para o Palmeiras de 2018

  • Por Cléberson Santos/Jovem Pan
  • 22/11/2017 10h23 - Atualizado em 22/11/2017 10h26
Divulgação / Fabio Menotti / Ag Palmeiras Base do Palmeiras está na final do Campeonato Paulista Sub11, 13, 15, 17 e 20, além da decisão da Copa do Brasil Sub-17

O ano de 2017 do futebol profissional do Palmeiras ficou abaixo do que se esperava por conta do investimento feito. O time campeão brasileiro no ano passado foi eliminado precocemente no Paulistão, na Copa do Brasil, na Libertadores e busca se contentar com o vice-campeonato brasileiro após não conseguir superar o rival Corinthians.

Por outro lado, as categorias de base do clube vivem um ano espetacular e inédito. Os garotos do Verdão disputam nesta semana as finais do Campeonato Paulista do sub-11 ao sub-20, além da decisão da Copa do Brasil Sub-17, contra o rival Corinthians.

Apesar disso, o Palmeiras é um dos times que menos aproveita os garotos da base em seu time profissional. Em 2017, um dos poucos jovens que entrou em campo no Brasileirão foi o atacante Fernando, na recente derrota contra o Vitória, em Salvador. E essa é uma questão histórica: o time não tem tradição de revelar jogadores. Pode reparar, quantos craques do Palmeiras foram revelados pela sua base?

“O Palmeiras historicamente nunca deu muita bola para a base e a torcida nunca teve muita paciência com quem veio da base. Só pegar os craques históricos do Palmeiras, como o Oberdan Cattani ou o Waldemar Fiúme, ambos vieram da várzea. Outros ídolos chegaram muito jovens como o Ademir da Guia que veio do Bangu, o Marcos que veio do Lençoense, mas nenhum formado no Palestra Itália. O Palmeiras formou poucos jogadores. Pensando em atacantes, nos últimos 60 anos o Palmeiras revelou o Mazzola, que veio do XV de Piracicaba, o Vágner Love, que veio da base de outros clubes, e agora o Gabriel Jesus”, relembrou o comentarista da Jovem Pan, Mauro Beting.

O momento de virada para o “Verdãozinho” veio através de Paulo Nobre, presidente do clube entre os anos de 2013 e 2017. O ex-mandatário apostou na renovação das estruturas para as categorias de base e na profissionalização do clube como um todo. Os frutos, conforme aponta João Paulo Sampaio, coordenador da base do Palmeiras, já começam a ser colhidos.

“Os resultados estão aparecendo em todos os setores e um deles é a base, assim como marketing, financeiro, futebol profissional. Chegar a todas as finais possíveis no Paulista é um dos indicativos de que o trabalho está no caminho certo, assim como as convocações de atletas para as Seleções Brasileiras de base, títulos em torneios internacionais, equipes com mais de 100 gols marcados. O clube só tem a ganhar com esse crescimento da base”, afirmou Sampaio.

Um olho na casa e outro no mercado

Como tem sido nos últimos anos, o diretor de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos, já se mexe para montar o elenco alviverde para 2018. Enquanto trabalha na contratação de reforços já garantidos como Emerson Santos, Diogo Barbosa e Weverton, o dirigente também tem observado de perto o que tem sido feito principalmente pelo time sub-20.

“A relação (entre a diretoria de futebol profissional e a base) é a melhor possível. Temos um processo muito bem definido de transição dos atletas. O Alexandre Mattos e o Cícero Souza estão totalmente inseridos neste processo. O Sub-20 treina diariamente na Academia de Futebol ao lado do Profissional, o Sub-17 e o Sub-15 eventualmente também. O Alexandre também acompanha os jogos. Ele conhece os jogadores da base e, agora que estamos com safras de grande talento, a tendência é que as chances aumentem no profissional”, garante João Paulo Sampaio.

Além disso, Mattos também observa os garotos que estão emprestados para outros clubes. Se por um lado o time aproveitou quase nada da sua base em 2017, os últimos anos tiveram alguns nomes além de Gabriel Jesus. É o caso do volante Matheus Salles, famoso por ter “colocado o Lucas Lima no bolso” na final da Copa do Brasil de 2015. Vários destes jovens voltam ao clube neste fim de ano após empréstimos e podem resolver problemas no time principal, conforme aponta Mauro Beting.

“Victor Luís (lateral esquerdo do Botafogo) deve voltar, se ele aceitar, para ser reserva do Diogo Barbosa, assim como o João Pedro (lateral direito da Chapecoense) vai voltar para disputar posição com o Mayke. Thiago Martins (zagueiro do Bahia) volta, até porque o Mina vai embora depois da Copa da Rússia. Matheus Salles (volante do Bahia) já é difícil, embora seja um bom jogador e tenha ido muito bem na final da Copa do Brasil. E ainda tem o Artur, que está no Londrina”.

Artur está no Londrina e tem 8 gols marcados na Série B (Divulgação / Gustavo Oliveira / LEC)

E agora?

Com a base vivendo um bom momento e com a chance de jogar um Campeonato Paulista com lista ilimitada de jogadores formadas pelo clube, será que o Palmeiras voltará a dar mais atenção aos seus garotos em 2018? Para Mauro Beting, a resposta é sim. O comentarista acredita que o Alviverde não fará tantas contratações quanto fez nos últimos anos e por isso contará com a ajuda de mais garotos para fechar o elenco da próxima temporada.

“O Palmeiras tem, pela primeira vez depois de muitos anos, um ótimo time Sub-20, com potencial para revelar alguns jogadores. O Palmeiras não revelava tanto nos últimos tempos porque não tinha jogadores, com exceção daquele monstro que era o Gabriel Jesus. Se é pra comprar um jogador com potencial e mais caro, muito melhor você ir na base. Mas é fundamental que a torcida e a própria imprensa tenha mais paciência, como parece que Alexandre Mattos e a direção de futebol também terão para usar os frutos que o Palmeiras está tendo graças ao investimento em sua base”, afirmou Mauro.

Obviamente, o Palmeiras não é o único time que olha para seus garotos na hora de se reforçar. Um exemplo disso é o meia Alanzinho, que foi semifinalista do Mundial Sub-17 com a Seleção Brasileira no mês passado. O garoto, cuja multa rescisória custa 20 milhões de euros, chamou a atenção de times como o Real Madrid, que já teria um acordo verbal com a joia palestrina, e de Barcelona e Arsenal. Na opinião de João Paulo Sampaio, esse assédio da Europa não assusta e ele garante que o Palmeiras trabalhará para ver suas promessas saírem do time como ídolos, assim como foi com Gabriel Jesus.

“Hoje é difícil competir com Europa, China, países com poder financeiro maior. Também tem o próprio sonho do atleta de jogar por clubes da Europa. Temos de criar nos meninos o sonho de primeiro vencer, ganhar títulos no Palmeiras, para depois pensar em algo fora do clube. Esse assédio dos europeus é algo que faz parte e nós nos protegemos com contratos, de formação ou profissionais, e mantendo o staff e a família dos jogadores inseridos no nosso projeto”, afirmou o dirigente.

Alan é formado pela base do Palmeiras e foi o camisa 10 da Seleção no Mundial Sub-17 (Reprodução / Twitter / Bleacher Report)

Quem é que sobe?

Mauro Beting apontou alguns nomes que podem pintar no time profissional do Palmeiras em 2018, mas deixou um aviso ao torcedor alviverde: “O Palmeiras e qualquer clube não revela de uma hora para outra alguém como o Gabriel Jesus. Hoje não tem ninguém na base do Palmeiras com o mesmo potencial dele. Mas o clube tem bons nomes como há anos não tinha”.

O Palmeiras pensa em usar o zagueiro Pedrão e o Vitão, que lembra muito o Mina. Tem o volante Matheus Neris, talvez o lateral direito Maílton, que pode ser usado caso não venha o Rafinha. Tem o Leo Passos, que já esteve na Libertadores esse ano, embora não tenha sido usado. Também tem o ótimo Fernando, que foi contratado para o time sub-20 há um ano, vindo de um time de Minas Gerais. Do time base atual, tem o Daniel Fuzato, que deverá ser o quinto goleiro com a chegada do Weverton”.

Mauro também citou a situação do disputado Alanzinho, que brilhou no Mundial Sub-17: “ele tem um potencial técnico e uma visão de jogo impressionante para alguém de 17 anos. Mas o Alanzinho, até pelo corpo de apenas 1,63m, tem que ter muita paciência. Não é de uma hora para outra que vai dar certo, tem que ganhar muito mais corpo, mais massa e mais rodagem”.

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