Enfim, uma esperança. Familiares abrem linha de diálogo com a Chapecoense

  • Por Jovem Pan
  • 10/08/2017 12h34 - Atualizado em 11/08/2017 15h59
EFE Oito meses depois do acidente da Chapecoense, familiares das vítimas reclamam de falta de amparo

“Aquela noite, para a gente, não terminou.” A frase, marcante, é de Fabienne Belle, viúva do fisiologista Cesinha. Presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (AFAAVC), ela luta, há alguns meses, por amparo às pessoas que perderam entes queridos na tragédia de 29 de novembro do ano passado. O suporte, até o momento, não existiu. Mas, agora, ao menos, há uma esperança.

Em entrevista exclusiva a Zeca Cardoso que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan, Belle revelou que uma representante da Chapecoense se reuniu com a AFAAVC nessa semana e deu sinal verde para as pretensões da associação. Um novo encontro já foi marcado, e a tendência é que as famílias ganhem espaço para atuar em algumas frentes importantes dentro do clube. A situação era tão ruim que a simples abertura de uma linha de diálogo com a Chapecoense foi classificada como “uma conquista” pelos familiares.

“Até esses dias, nós não tínhamos nenhuma linha de diálogo com a Chapecoense. Mas, nessa semana, nós tivemos um contato com uma representante do clube, uma porta-voz. Nesse encontro, nós decidimos que há algumas frentes nas quais a associação tem a necessidade de atuar. Temos uma série de ações definidas. A primeira delas é um projeto de apoio às famílias. Apresentamos isso a essa pessoa, e, a partir daí, abriu-se a possibilidade de uma agenda. Na quarta, soubemos que teremos uma nova reunião para apresentarmos as nossas propostas ao clube. Isso, para a gente, agrega muito. É uma conquista”.

A celebração pela sinalização positiva por parte da Chapecoense se justifica. Como era casada com um fisiologista, e não um jogador, Fabienne não recebeu nenhum tipo de seguro do clube ou da CBF até o momento. Essa mesma situação também vem sendo encarada por outras famílias – os parentes dos atletas mortos no acidente receberam um seguro cujo valor equivale a 26 salários do seu respectivo ente.

A resseguradora contratada pela LaMia, por sua vez, ainda negocia qual será o valor das indenizações – a empresa ofereceu 200 mil dólares (R$ 626 mil) para cada família, mas a proposta foi negada, sob a justificativa de que a companhia aérea só oferecia cerca de metade do valor da apólice (R$ 12,8 milhões, e não R$ 25 milhões, divididos por 64 famílias).

“Já se passaram oito meses desde o acidente, e, até agora, nós não recebemos nenhum tipo de suporte. Não tivemos acesso nem à apolice do seguro. Não recebemos seguro. As famílias, hoje, vêm enfrentando uma grande dificuldade nessa questão de suporte. Nós não tivemos nenhum tipo de gerenciamento de crise”, lamentou Fabienne.

A única ajuda que ela teve até o momento foi o encaminhamento de parte da renda de um amistoso realizado no início do ano, entre Chapecoense e Palmeiras. Nem mesmo as despesas por uma possível viagem a Roma, no fim do mês, para um encontro com o Papa, serão pagas pelo clube.

“Sim. Isso é verdade. Nós recebemos uma mensagem, dizendo que o clube faria essa viagem, e que nós seríamos convidados se arcássemos com as nossas próprias despesas”.

Além da dor da perda, os familiares também têm tido de lidar com as críticas de muitos torcedores, que os consideram “oportunistas”. Fabienne compreende esse sentimento, mas ressalta que os familiares das vítimas foram as pessoas mais lesadas com a tragédia.

“Nós, da associação, compreendemos que esse assunto envolve diversos tipos de emoção. Há torcedores, por exemplo, que temem que, com o nosso pleito, nós acabemos com a existência do clube. Mas não é assim. Nós queremos que a Chapecoense continue. Ela tem um apelo social e econômico muito importantes para a cidade de Chapecó. Estamos focados apenas numa questão de amparo amplo às famílias. Para que elas consigam pelo menos se reestruturar”, finalizou.

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