Espanha autoriza transferência de inquérito contra Ricardo Teixeira ao Brasil

  • Por Estadão Conteúdo
  • 03/11/2017 20h08
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Divulgação Ricardo Teixeira Presidente da CBF entre 1989 e 2012, Ricardo Teixeira é investigado por envolvimento nos crimes de falsidade ideológica, apropriação indébita e evasão de divisas

A Espanha atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República e aceitou transferir ao Brasil o processo criminal e inquérito existente contra o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O compromisso, porém, é de que ele seja investigado e processado no País. O cartola havia sido indiciado na Espanha por corrupção, em um caso que levou à prisão do ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell.

Uma ordem de prisão foi emitida em Madri. Mas diante da lei brasileira que rejeita a extradição de nacionais, a opção foi a de transferir o caso de forma completa ao Brasil, na esperança de que ele possa enfrentar de fato a Justiça.

A decisão da Audiência Nacional na Espanha de transferir o caso ao Brasil foi decretada em meados de outubro e, segundo o jornal O Estado de S.Paulo apurou, representa um passo “decisivo” para uma investigação no País.

Procuradores federais brasileiros receberam em meados deste ano informações oficiais de que a Justiça espanhola emitiu uma ordem internacional de prisão contra o brasileiro. Ele já tinha o mesmo pedido vindo dos Estados Unidos. Agora, com o sinal verde da Audiência Nacional na Espanha, todos os documentos das investigações contra Ricardo Teixeira, seus extratos bancários e gravações serão enviados ao Brasil.

Quando o procedimento for completado e se a investigação brasileira concluir que existe um crime no Brasil, Ricardo Teixeira então poderia ser detido no País. Ele fora considerado por procuradores em Madri como um dos pilares de uma “organização criminosa” que envolveu amistosos realizados pela Seleção Brasileira.

Conforme o jornal O Estado de S.Paulo revelou ainda em 2013, acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da Seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell, aliado de Ricardo Teixeira. Em meados deste ano, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Teixeira. “Durante 2010, Teixeira e sua mulher eram detentores de dois cartões Visa Platinum, com contas da Uptrend em Andbank”, apontou a Justiça espanhola.

“Resulta da investigação que, de sua posição de presidente a CBF, (Ricardo Teixeira) influenciou na concessão de direitos audiovisuais aos jogos da Seleção, e, enquanto isso, por trás e para o prejuízo da CBF, Rosell negociava um contrato de intermediação”, apontou o documento do processo do caso do ex-dirigente catalão.

Os investigadores concluem, portanto, que “parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira”. De acordo com a Audiência Nacional, na Espanha, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o “destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)”.

As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Ricardo Teixeira foi “a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira”. Desde a prisão de Sandro Rosell, a defesa de Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade.

A insistência do brasileiro em declarar a sua inocência não convenceu a juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional, que pediu sua prisão. “Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última”, afirmou. A decisão da juíza seria do dia 12 de junho.

CUNHA – A transferência do processo judicial ao Brasil segue o mesmo procedimento que já foi realizado com o ex-deputado Eduardo Cunha. Ao garantir que o parlamentar seria julgado no País, a PGR conseguiu convencer a Suíça a transferir centenas de páginas de provas sobre suspeitas relacionadas com Cunha ao Brasil. Berna, entre 2014 e 2015, investigou o ex-político brasileiro e abriu um inquérito por corrupção passiva. Mas, mesmo se o condenasse, não conseguiria convencer as autoridades brasileiras a entregá-lo. Pelas leis nacionais, o Brasil não extradita seus cidadãos.

A Suíça, assim, entregou as provas sobre as contas secretas de Eduardo Cunha e os procuradores brasileiros conseguiram processar o ex-deputado federal, inclusive por evasão. Agora, o mesmo cenário deve ocorrer com Ricardo Teixeira, mas desta vez com a Espanha.

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