Ex-zagueiro Lúcio relembra carreira e pede seleção brasileira mais coletiva

  • Por Jovem Pan
  • 01/02/2020 19h15
Reprodução/Instagram Lúcio foi campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002

Aposentado oficialmente desde a última quarta-feira, quando anunciou o fim da vitoriosa carreira aos 41 anos, o ex-zagueiro Lúcio repassou a própria carreira em entrevista à Agência Efe neste sábado e comentou a fase atual da seleção brasileira, que em 2019 quebrou um jejum de seis anos ao conquistar o título da Copa América.

Lúcio defendeu 11 clubes na carreira e tem títulos por cinco deles, com destaque para a Liga dos Campeões de 2010, pela Inter de Milão. Além disso, é o oitavo jogador que mais vestiu a camisa da seleção em toda a história, com 107 partidas, e tem como principal conquista a Copa de 2002.

No ano passado, o Brasil confirmou o favoritismo e venceu a Copa América em casa, seis anos depois de ter ficado com a taça da Copa das Confederações. Nos dois casos, a final foi realizada no Maracanã. Sobre o momento atual da equipe pentacampeã mundial, Lúcio vê o técnico Tite com bastantes talentos individuais, mas considera que sua equipe não apresenta um futebol coletivo.

“A nossa Seleção tem grandes jogadores, como Marquinhos, o Philipe Coutinho, o próprio Neymar, o Éverton Cebolinha, mas acho que o importante é tentar tornar essa força individual em algo coletivo. Se isso não acontecer, sempre haverá um preço a ser pago lá na frente”, comentou o ex-defensor à Efe em Brasília.

Lúcio, que no ano passado defendeu o Brasiliense, comparou a seleção desta década, que foi eliminada nas semifinais da Copa de 2014, com direito à derrota para a Alemanha por 7 a 1, e nas quartas de final em 2018, com a que foi campeã há mais de 18 anos na Coreia do Sul e no Japão. Para ele, a equipe de 2002 seguiu uma linha ascendente, o que fez a diferença.

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Comemorando os 40 anos 😂😂

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“Para o Brasil, acho que falta crescer na hora certa. O que acontece muito é o Brasil trazer uma expectativa grande do torcedor, o que é normal, mas durante a competição tem que haver esse salto de qualidade. Por exemplo, o que aconteceu conosco em 2002, quando tivemos uma eliminatória conturbada, mas crescemos muito durante as eliminatórias. Na semifinal e na final, estávamos no limite máximo fisicamente, tecnicamente e mentalmente. Acho que falta isso para a seleção atual. É complicado criar toda uma expectativa que acaba frustrada, como em 2014 e 2018. Entristece muito e chegou até ser vergonhoso como foi em 2014”, analisou.

Nos últimos dois ciclos de Copa do Mundo e no atual, o principal jogador brasileiro é o atacante Neymar, que, no entanto, vez ou outra deixa as páginas esportivas do jornais. O jogador de 27 anos é frequentemente notícia pelas festas de que participa, figurou as páginas policiais por causa de uma acusação de estupro – o caso foi fechado por falta de provas.

Mesmo em âmbito esportivo, nem sempre o camisa 10 do Paris Saint-Germain não é notícia apenas pelos gols. As boas jogadas dividem espaço com as lesões e com o desejo de voltar a defender o Barcelona.

“Acho que independentemente do clube, é importante o jogador ter foco e fazer o melhor junto com os seus companheiros. Acho que isso reflete muito na seleção brasileira também. Quando você está vivendo um grande momento no seu clube, você leva isso para a seleção. Atualmente, os jogadores precisam ser menos individualistas, o que nós vemos na seleção também. Cada um puxando mais para o seu lado e, lá na frente, se paga o preço”, alertou.

“Já joguei contra o Neymar quando eu estava no São Paulo e ele no Santos. Tem uma qualidade indiscutível, muito rápido e cada dia tem feito mais gol. É um jogador completo e só falta alguns ajustes, principalmente fora de campo. É um cara que também está alcançando uma idade que precisa alcançar a maturidade. Acho que ele alcançar isso, o que nós torcemos para que aconteça, acho que o futebol dele vai crescer muito inclusive na seleção brasileira”, considerou.

Neymar é apenas um dos vários grandes jogadores que Lúcio teve que marcar ao longo de quase de 23 anos de carreira. Segundo ele, o argentino Lionel Messi foi o mais difícil de marcar.

“Um jogador muito rápido, inteligente, solidário para a equipe, que corre muito, não é egoísta nem vaidoso. Ele já ganhou várias bolas de ouro, é um gênio, e para mim o que mais chama atenção é sua humildade. Então, além de ser um admirador dele, também foi o jogador mais difícil de marcar”, afirmou.

O ‘xerife’ conquistou outros dois títulos pela seleção, nas edições de 2005 e 2009 da Copa das Confederações, e participou também das Copas de 2006 e 2010. No entanto, ele não esconde que o a equipe mais especial foi a do penta.

“Pra mim, o melhor time foi o de 2002. Nosso time estava recheado de grandes jogadores. Em 2006, nós tínhamos praticamente os mesmos jogadores, mas o clima foi bem diferente, até pela preparação, que não foi a ideal. Tínhamos ganhado já o Mundial, o que inconscientemente deixa o time mais tranquilo. A cobrança não é a mesma. Então, para mim, o ápice da seleção foi em 2002, em que a fórmula da seleção se encaixou perfeitamente”, recordou.

Lúcio se transferiu para o futebol europeu em 2001, quando trocou o Internacional pelo Bayer Leverkusen. Três anos depois, assinou contrato com o Bayern de Munique, pelo qual atuou até 2009, época em que perdeu espaço com a chegada do técnico Louis van Gaal.

Desprestigiado no Bayern, o brasileiro deixou a Alemanha rumo à Itália, e um ano depois, jogando pela Inter de Milão, enfrentou e venceu justamente a equipe bávara na final da Liga dos Campeões. Ele negou ter tido qualquer sentimento de revanche em relação ao ex-time e ao treinador holandês.

“Eu estava mais focado mesmo em ganhar a Champions League. Estava focado e poderia ser Bayern de Munique, Real Madri, Barcelona… Para nós jogadores, uma Champions League representa muito. Eu já havia passado perto em 2002 (vice pelo Leverkusen), tinha esse desejo, e também tinha um carinho muito grande pela Inter, um clube que estava a quase 50 anos sem chegar a uma final de Champions League. Então, a expectativa em Milão e dos milanistas era muito grande. Aquele título também nos fez entrar para a história, porque foi o único clube italiano que conseguiu fazer o triplete, que é o Campeonato Italiano, a Copa da Itália e a Champions League. Havia muita pressão, muita ansiedade, mas no fim deu certo”, lembrou.

“Eu não pensava muito em dar resposta, revanche, até porque respeito muito os amigos que estavam do outro lado. Mas talvez tenha sido uma resposta, não para o clube, mas para o treinador que, ao meu modo de pensar, foi muito imaturo e rude no modo de pensar. E no fim, foi isso que me ajudou a ter essa passagem importante pela Inter de Milão”, completou.

Perguntado se faltou uma passagem pelo futebol espanhol, Lúcio revelou que houve a possibilidade de ter defendido o Real Madrid, mas que gostaria mesmo é de ter defendido algum time inglês.

“Não tinha tanto essa vontade (de jogar na Espanha). Tinha muita vontade de jogar o Campeonato Inglês, mas isso foi até suprido pela Champions League, que você joga contra vários clubes, como Tottenham, Liverpool, Chelsea e Manchester United. Então não sinto falta e nem me arrependo de não ter escolhido esses clubes”, disse Lúcio, que revelou que a carreira poderia ter tomado rumos diferentes em alguns momentos.

“Recebi sondagens do Real Madri quando ainda estava no Bayer Leverkusen. Quando eu estava na Inter, recebi várias sondagens de clubes ingleses, mas como o (Massimo) Moratti, presidente na época do Inter, era muito fanático, ele não quis se desfazer do time. Como minha família estava super bem na Itália, nós ganhando tudo, acho que mesmo se houvesse interesse de outro time eu não sairia da Inter naquele momento”, afirmou.

Aposentado, Lúcio disse que neste primeiro momento após ter pendurado as chuteiras quer dar mais atenção à família, mas deixou claro que pretende continuar no meio do futebol.

“Nos próximos meses vou dar mais atenção para minha família e meus filhos, vou acompanhá-los nessa fase importante que eles querem sair do Brasil e estudar. Mas também tenho a pretensão de fazer cursos preparatórios para treinador, de me qualificar. Acho uma coisa importante, porque sei que não basta eu ter sido um grande jogador para estar apto a me tornar um grande treinador. Então quero me qualificar esse ano para, no ano que vem, me tornar um treinador. Quem sabe, de um grande clube”, projetou.

*Com informações da EFE

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