Dois anos após tragédia da Chapecoense, famílias passam por necessidades e lutam na Justiça
Há exatamente 2 anos, na madrugada de 29 de novembro de 2016, aconteceu a tragédia aérea com a delegação da Chapecoense. A queda do avião matou 71 pessoas. E não foi só isso. Quase 100 pessoas também morreram um pouco naquele dia. São os familiares das vítimas, que precisam lutar na Justiça por direitos, passam por necessidades diárias e provavelmente vão esperar cerca de 5 anos para receber uma indenização da companhia aérea Lamia, principal responsável por tudo que ocorreu.
As famílias pretendem receber o valor do seguro da Lamia, mas a companhia não quer pagar. Alega que havia uma “restrição territorial”, ou seja, a indenização não teria que ser paga caso o voo fosse para Colômbia. Isso já deveria ter impedido o avião de decolar. Mas ele partiu em direção a Medellín e aconteceu a tragédia.
Agora existe uma organização, a Afav-C (Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo da Chapecoense), que presta apoio jurídico aos familiares das vítimas. A vice-presidente da associação é Mara Paiva, viúva do ex-jogador e comentarista Mário Sergio, que morreu na tragédia. Ela rebate a alegação da seguradora: “Os passageiros não têm culpa. Não vem a informação para gente sobre isso. Essa tragédia nos jogou em um abismo de informações”.
A falta de informações gerou problemas para a Afav-C. Existe uma grande dificuldade para reunir documentos e fazer as ações processuais na Justiça. Inclusive há um prazo de 2 anos para isso, que portanto venceria nesta quinta-feira (29), mas foi feito um pedido de suspensão, que evitará problemas futuramente.
Mas essa demora fez com que algumas famílias aceitassem um acordo financeiro com a seguradora. Elas vão receber o valor de 225 mil dólares (R$ 880 mil) e não participarão mais do processo. Mas o seguro do avião era de 25 milhões de dólares (R$ 98 milhões), valor que deveria ser dividido entre todas famílias e renderia uma indenização maior que os 225 mil dólares. Muitas famílias ainda lutarão por esse valor superior.
Mara conta que todas famílias estão passando por necessidades: “Elas não receberam quase nada. E se não estão necessitadas financeiramente, estão abaladas psicologicamente. Elas não tiveram nem direito ao luto, porque tiveram que ver essas questões legais. Elas não tinham respaldo algum e não conseguiram curar as feridas. Já tiveram que sair reagindo e lutando por direitos”.
Ajudas recebidas
Há um pouco de esperança no meio de tanta tragédia e desespero. A Abravic (Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense) promove ajudas que são fundamentais para o sustento de quase 50 famílias.
A organização foi criada pelo jogador Túlio de Melo, que atuou na Chapecoense em 2015 e 2017. Ela não tem fins lucrativos e busca dinheiro para manter 5 projetos, que fornecem cartões de vale-alimentação, ajuda com medicamentos, consultas psicológicas, auxílio escolar e apoio para famílias em necessidades específicas. Além disso, a Abravic já organizou um jogo beneficente para arrecadar fundos em benefício das famílias.
A Afav-C também criou um projeto para ajudar as famílias financeiramente e psicologicamente. É a Fundação Vidas, que foi anunciada no mês passado, mas ainda não está em funcionamento. O projeto é buscar ajuda da iniciativa privada pelos próximos 5 anos pelo menos.
Críticas contra a Chapecoense
No ano passado, a Afav-C chegou a reclamar da postura da Chapecoense no apoio aos familiares. Mas de acordo com Mara, o clube melhorou nesse sentido: “Hoje podemos dizer que a gestão atual da Chapecoense entendeu o compromisso moral que tem com as famílias das vítimas”.
O time tem contribuído inclusive com as brigas na Justiça. A diretoria pagou pelo serviço de um especialista em seguro aeronáutico e também custeou viagens da Afav-C para a Colômbia, quando aconteceram negociações sobre o pagamento do seguro.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.