Cristiano Ronaldo se impõe na Itália depois de má fase dentro e fora de campo
O período turbulento na Itália parece ter ficado para trás para Cristiano Ronaldo. Depois de problemas com a justiça – acusação de estupro e sonegação fiscal-, perda de patrocinadores e seca de gols, CR7 parece finalmente estar em casa na Juventus.
Cinco vezes melhor do mundo e campeão de maneira consecutiva das últimas três edições da Liga dos Campeões da Europa, o português surpreendeu ao trocar o Real Madrid – é o maior artilheiro de sua história, com 451 gols -, pela equipe italiana. A transferência beirou os 100 milhões de euros (R$ 450 milhões na ocasião).
Além da expectativa pelo resultado esportivo, a Juventus comemorou de saída o bom negócio: 24 horas após o anúncio da compra, mais de 520 mil camisas do atleta foram vendidas, gerando faturamento de US$ 62 milhões (R$ 240 milhões), de acordo com o site Business Insider, voltado ao mercado financeiro. Além disso, a Juventus ganhou mais de 1 milhão de seguidores em sua página no Instagram um dia após a oficialização.
“O Real foi o pioneiro em apostar na contratação de grandes nomes, pagar salários altos e ganhar projeção, sócios, levar mais público ao estádio e vender mais camisas/licenciamentos, ainda que nem sempre seus times de estrelas (batizados de galácticos) fossem vencedor”, explicou Ivan Martinho, professor da ESPM do curso ‘Como vender Patrocínios no Esporte & Entretenimento’.
“Muito mais do que jogadores, os atletas hoje são verdadeiros embaixadores dos clubes. É por isso que observamos o foco em aumentar seus seguidores em redes sociais, participar de causas beneficentes que auxiliam na construção de uma boa imagem”, pregou o especialista. Cristiano Ronaldo não só mudou o patamar da Juventus como também do Campeonato Italiano.
Antes de a bola rolar, porém, o nome de Cristiano Ronaldo saiu das páginas esportivas e foi parar nas policiais. Ele foi acusado pela norte-americana Kathryn Mayorga de estupro. Ela diz ter sido abusada em um hotel em Las Vegas, em 2009. Segundo a revista alemã Der Spiegel, o jogador teria pago US$ 375 mil (R$ 1,5 milhão) para que ela não tornasse o caso público. À publicação, a mulher disse que aceitou o dinheiro por temer por ela e sua família.
Na única vez que se pronunciou sobre o caso, o astro luso negou as denúncias. “Nego terminantemente as acusações de que sou alvo Considero a violação um crime abjeto, contrário a tudo que sou e em que acredito. Não vou alimentar o espetáculo midiático montado por quem quer se promover à minha custa”, escreveu nas redes sociais.
A Juventus veio a público defender o seu novo atleta. “Cristiano demonstrou nestes meses o seu profissionalismo e seriedade, apreciados por todos no clube. Os alegados acontecimentos de aproximadamente dez anos atrás não modificam esta opinião, partilhada por todos que entraram em contato com este grande atleta campeão”.
A ação é uma regra para contenção de crise, como destaca o professor Ivan Martinho. “Atletas são humanos como quaisquer outros e que, portanto, são suscetíveis a falhas. A diferença está na projeção que esses funcionários têm e a polêmica que seus passos geram. A narrativa do clube ao contratar um astro é sempre a de tentar associar ao máximo sua imagem, transmitindo a impressão de que o atleta está em casa. Portanto, tirando proveito de seu prestígio”, disse Martinho. “No momento de crise, o clube não pode ignorar a situação, mas pode se posicionar com opinião de entidade, que eventualmente é diferente da do atleta, primando pela postura do que é correto. No caso do CR7 foi uma investigação que não se comprovou em culpa ainda. Porém, já causou estragos financeiros à Juventus”.
Uma semana após o escândalo ter sido divulgado, as ações da Juventus perderam valor em mais de 10% na Bolsa de Milão. Dona de contrato vitalício com Cristiano Ronaldo, estimado em 760 milhões de libras (R$ 3,5 bilhões), a Nike disse à época que vai “monitorar a situação”.
EM CAMPO – Os problemas afetaram o desempenho do atacante. Além de passar em branco nas três primeiras rodadas do Campeonato Italiano, a sua estreia na Liga dos Campeões foi um desastre. Ele jogou 29 minutos contra o Valencia antes de ser expulso. Nos cinco jogos que disputou pelo Grupo G (que tinha ainda Manchester United e Young Boys), fez apenas um gol – contra a sua antiga equipe na Inglaterra.
Maior artilheiro da história da competição, com 121 gols, o português teve o seu pior desempenho na fase de grupos desde 2008, quando defendia o Manchester United, do lendário Alex Ferguson. Naquela edição do torneio, passou em branco em todos os jogos contra Villarreal, Aalborg e Celtic, mas ainda era um garoto em crescimento.
Diferentemente do que ocorria na Espanha, onde o bom desempenho do Real Madrid estava ligado à produtividade do atleta, a Juventus conseguiu passar ilesa pela má fase de seu astro. A heptacampeã nacional se manteve soberana na Itália, onde lidera a liga, e esperou pela recuperação de seu maior craque.
Quem teve papel decisivo nesse processo foi o técnico Allegri. Defendendo seu atacante, chegou a pedir a Bola de Ouro para Cristiano Ronaldo pelo que ele representava ao futebol. “Eu não sei nada sobre as indicações para a premiação, mas o Cristiano merece ganhar. Ele trouxe para a Itália um alto nível de competitividade e todos aumentaram o seu nível”.
Não se sentir valorizado foi um dos motivos que fizeram o português deixar Madri. Em entrevista aos jornais italianos La Gazzetta dello Sport e Corriere dello Sport, ele afirmou que este é o melhor grupo com o qual já trabalhou. “Aqui somos uma equipe. Em alguns lugares, alguém se sente maior do que os outros. Aqui estão todos na mesma linha, querem ganhar. Se o Dybala ou o Mandzukic não fazem gols, você os vê felizes, sorrindo. Para mim, isso é lindo, sinto a diferença. É mais uma família”.
Com a confiança voltou o futebol. Autor de 11 gols nos últimos 13 jogos, está atrás do polonês Piatek (Genoa), com 12, na briga pela artilharia do Campeonato Italiano.
*Com informações de Estadão Conteúdo.
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