Federação de futebol dos EUA derruba proibição de se ajoelhar durante hino
O conselho de administração da Federação de Futebol dos Estados Unidos decidiu revogar, por meio de votação, a regra que proibia os jogadores de seleção nacional de protestarem ajoelhando-se no gramado durante a execução do hino do país. A medida foi divulgada na quarta-feira (10).
A norma estabelecia desde 2017 que os jogadores de futebol deveriam “ficar de pé respeitosamente” durante a execução do hino nacional antes dos jogos. Além de derrubar a regra, a federação norte-americana pediu desculpas aos atletas, especialmente aos negros, e reconheceu que a proibição não deveria existir.
“Está claro que a essa norma estava errada e prejudicava a importante mensagem de que vidas negras importam”, reconheceu a Federação de Futebol dos Estados Unidos, por meio de um comunicado. A nova presidente da US Soccer, Cindy Parlow Cone, já havia sugerido inicialmente a ideia de anular a regra.
A proibição de não ficar de pé durante o hino tinha sido imposta em fevereiro de 2017 depois de a estrela da seleção norte-americana e melhor jogadora do mundo atualmente, Megan Rapinoe, ter se ajoelhado no gramado, repetindo o gesto de Colin Kaepernick, jogador de futebol americano, em protesto contra a violência policial contra os negros nos Estados Unidos.
Kaepernick virou um ícone na luta contra o racismo e inspirou diversos outros atletas, norte-americanos ou não, como o astro da NBA, LeBron James, a se posicionarem diante da descriminação racial. O ex-quarterback do San Francisco 49ers foi boicotado pela NFL e, sem uma equipe para jogar, concentrou seus esforços no ativismo.
“Não fizemos o suficiente para ouvir – especialmente os nossos jogadores – para entender e reconhecer as experiências reais e significativas de negros e de outras comunidades minoritárias no nosso país. Pedimos desculpas aos nossos jogadores – especialmente aos jogadores negros – funcionários, adeptos e a todos os que apoiam a erradicação do racismo”, completou a federação.
A mudança ocorre na esteira de uma onda de protestos contra o racismo nos Estados Unidos e em vários outros países. O estopim para as manifestações foi a morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos que morreu em 25 de maio, em Minneapolis, depois de um policial branco ter pressionado o seu pescoço com o joelho durante cerca de oito minutos em uma abordagem.
O Conselho dos Atletas de Futebol dos Estados Unidos, que inclui nomes como Alex Morgan e Ali Krieger, além de ex-jogadores como Landon Donovan, pediu à federação que também se desculpasse pela política que havia imposto a fim de promover “uma relação positiva daqui para frente”.
“Então e só então, sentiremos que um novo capítulo pode começar entre a federação e seus atletas. Além disso, pedimos que a federação desenvolva um plano com ações focadas no combate ao racismo, que seja compartilhado publicamente com seus atletas, membros-chave e fãs”, disse o conselho no início desta semana em um comunicado.
A Associação de Jogadores da seleção dos Estados Unidos solicitou também um pedido de desculpas da federação e um plano para resolver os problemas de desigualdade racial.
“Enquanto a USSF não fizer isso, a própria existência da norma continuará perpetuando os equívocos e o medo que nublavam a importância e o verdadeiro significado de Colin Kaepernick, Megan Rapinoe e outros atletas terem colocado o joelho no chão – o fato de as pessoas negras nos Estados Unidos não receberem e continuarem a não obter as mesmas liberdades que os brancos, e que existe brutalidade policial e racismo sistêmico neste país”, destacaram os futebolistas em sua declaração.
Fora dos Estados Unidos, recentemente, jogadores do Borussia Dortmund e Liverpool ajoelharam-se no gramado durante uma sessão de treinamento como forma de apoiar a luta por igualdade racial. O atacante do Borussia Mönchengladbach, Marcus Thuram, filho do ex-jogador campeão mundial pela França, Lilian Thuram, também ecoou as manifestações ao escolher não comemorar um gol e sim ficar de joelhos no campo.
*Com Estadão Conteúdo
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