Jogo decisivo mostra ingredientes que tornam 2ª divisão paulista mais especial

  • Por Allan Brito/ Jovem Pan
  • 16/04/2019 08h34 - Atualizado em 16/04/2019 08h48
Allan Brito/ Jovem Pan "Maior torcida do ABC" fez bonita festa antes e durante o jogo

No final de semana passado aconteceram duas decisões bem diferentes no futebol paulista. No domingo, no Estádio do Morumbi, Corinthians e São Paulo fizeram um jogo repleto de expectativas e atenções. Um dia antes, times do interior e da região metropolitana disputaram semifinais que não contam com holofotes, mas valem como títulos, pois garantem acesso à elite em 2020. Um destes jogos, entre Santo André e Água Santa, teve todos ingredientes que fazem a Série A2 do Campeonato Paulista ser bastante especial.

O primeiro ingrediente é a paixão dos torcedores, que fica mais aflorada do que nunca. Torcedores do Santo André, por exemplo, estão acostumados a caírem e subirem com frequência no Campeonato Paulista – neste século o time esteve na segunda divisão por 8 temporadas, alternadamente. Mas quando são perguntados sobre o que muda em cada divisão, eles são categóricos: “não muda nada. Nós somos apaixonados pelo Santo André, não importa a divisão. Estamos sempre apoiando, mesmo no interior”, afirma Roberto Mouro, torcedor veterano do Santo André, que esteve no Maracanã quando o time bateu o Flamengo e foi campeão da Copa do Brasil 15 anos atrás.

Líder de uma torcida organizada do Ramalhão, Wesley “Duplex” também destaca a paixão como ingrediente principal da segunda divisão: “costumo dizer que a gente tem aquela gana pela A2, porque A2 é raça. Não é tanto o futebol em si, mas a gente ganha na raça. Nosso time é limitado, a gente sabe, mas a torcida está junto com o time. É uma só força”.

Toda essa paixão foi transformada em festa assim que o ônibus do Santo André chegou ao Estádio Bruno José Daniel. Torcedores fizeram a melhor recepção que puderam, com fogos de artifício, sinalizadores, bateria, bandeirões e uma proximidade que não é vista na elite do Campeonato Paulista. Pouco antes da bola rolar, um bandeirão enorme, com a inscrição de “maior torcida do ABC”, impressiona e motiva os atletas.

Mas é claro que a paixão não é exclusividade do Santo André. O Água Santa tem uma história interessante com a torcida, pois era um time de várzea até 2013. Sempre teve uma ligação forte com boa parte da comunidade de Diadema, com bons públicos e títulos importantes. Em 2013 o clube passou a ser bancado por um grupo de empresários, subiu rapidamente nas divisões de acesso e disputou a elite em 2016. Agora o time tem uma mistura de torcedores no estádio: existem aqueles que começaram a torcer depois do profissionalismo e também aqueles que o conhecem desde a várzea.

Líder organizada Tubarão Azul, Domingos “Barba” acompanha o time desde 1999 e acredita que o profissionalismo foi positivo porque assim a diretoria passou a ajudar os torcedores. Já Luciana Honorato, que também é torcedora desde a várzea, comemora porque assim foi possível enfrentar e até bater as principais equipes do futebol paulista: “principalmente naquele 4 a 1 que a gente deu no Palmeiras”, lembra ela.

Público da segunda divisão tem muitas mulheres e crianças

No jogo diante do Santo André, a torcida do Água Santa teve uma dificuldade – a Polícia Militar chegou a informar que ninguém poderia entrar com uniformes da torcidas organizadas. Isso gerou revolta em alguns torcedores, mas tudo foi resolvido depois de muitas conversas e negociações.

Outra dificuldade que o time costuma enfrentar é o preconceito gerado por causa de um boato – frequentemente as pessoas identificam o Água Santa como “time do PCC”. Tanto a diretoria quanto os torcedores negam. Dizem que é algo criado por um antigo rival, o licenciado Clube Atlético de Diadema. O presidente Paulo Faria diz que o dinheiro vem de uma empresa de transportes. E todos acreditam que o tempo fará com que essa história seja esquecida. De fato não há nenhuma investigação ou comprovação de recursos ilícitos para o Água Santa.

Mais ingredientes

Quando a torcida do Santo André enfim conseguiu entrar no estádio, encontrou outros ingredientes que fazem a Série A2 ser mais especial: marcação agressiva, qualidade técnica e resultado surpreendente. Mas só o Santo André soube utilizá-los corretamente e venceu por 2 a 0.

Dois dias antes, em entrevistas à Jovem Pan, atletas e o técnico do Água Santa, Márcio Ribeiro, destacaram que as partidas da Série A2 tinham mais “pegada” que jogos de outros estaduais. “Além de levar pontapé, você tem que dar pontapé. É na mesma moeda sempre. Se conseguirmos marcar forte, a gente sai na frente. E o time foi montando para encarar esse tipo de jogo”, comentou Márcio. O experiente volante Serginho seguiu o mesmo tom: “é uma competição muito acirrada, de brigas e o clima é mais quente. A A2 tem mais violência. Tem pegada, tem provocações e tem a torcida que às vezes atrapalha também”.

Ou seja, o time foi montado para encarar esse tipo de jogo, tinha conhecimento do que enfrentaria, mas na prática não deu certo dessa vez. Em um jogo que teve 9 cartões amarelos e muita catimba, prevaleceu a agressividade do Santo André e também a qualidade técnica de um jogador: o experiente Cristian, que já jogou pelo Palmeiras e hoje tem 39 anos, fez gol e deu uma assistência.

O Água Santa tem a melhor campanha da A2 com sobras, com 12 vitórias, 1 empate e 5 derrotas. Era favorito nessa semifinal, mas tomou um prejuízo muito grande. No jogo decisivo o Santo André poderá se classificar até com derrota por 1 gol de diferença.  Mas é melhor não falar em favoritismo, pois é um jogo da A2 paulista.

A partida de volta será no domingo (21), às 11h (de Brasília), em Diadema.

A outra semifinal

No mesmo sábado, Inter de Limeira e XV de Piracicaba fizeram a outra semifinal da A2. É mais um confronto decisivo de times que ficam a poucos quilômetros de distância. O jogo terminou empatado por 0 a 0.

O jogo de volta acontecerá no sábado (20), às 19h (de Brasília), em Piracicaba.

“Vaga extra” para o Água Santa?

Se o Red Bull realmente comprar o Bragantino e não vender a própria vaga na elite do Campeonato Paulista, a Série A2 vai distribuir uma “vaga extra”. Este acesso irá para o time que ficar em 3º lugar geral, ou seja, aquele que tiver a melhor campanha entre todos que não foram para a decisão. Como o Água Santa teve ótimo desempenho na 1ª fase e nas quartas de final, já garantiu essa posição. Ninguém poderá alcançá-lo, mesmo se ele for eliminado com duas derrotas. O clube até já deu indícios de que está contando com essa vaga, pois começou obras no próprio estádio.

Estádio do Água Santa precisa ter capacidade para receber 10 mil pessoas na Série A1

 

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