Neto sobre tragédia da Chapecoense: ‘Nunca mais deixei de ter dor’

  • Por Jovem Pan
  • 07/05/2020 11h10
Tarla Wolski / Futura Press / Estadão Conteúdo Tarla Wolski / Futura Press / Estadão Conteúdo Neto é um dos sobreviventes da tragédia da Chapecoense

Três anos e meio após a tragédia da Chapecoense, Neto segue sentindo dores. Em entrevista ao “Estado”, nesta quinta-feira (7), o ex-jogador afirmou que ainda sente as consequências do acidente aéreo que matou 71 pessoas, entre jogadores, membros da comissão técnica, dirigentes e jornalistas, no final de novembro de 2016.

“Sinto, na coluna e no joelho. Mais na coluna. Todo dia. Nunca mais deixei de ter dor. Tem dias que eu tomo remédio para dormir, para aliviar um pouco, um relaxante muscular. Às vezes para deitar e para levantar, dói um pouco. Até o jeito de dormir incomoda um pouco mais”, disse.

Um dos três atletas que sobrevieram ao episódio trágico, o ex-zagueiro teve o fim de sua carreira decretado pelos médicos no final do ano passado. E agora tenta reconstruir a sua vida em nova função, longe dos gramados. Tornou-se o superintendente de futebol da Chapecoense, tentando ajudar o clube em crise financeira na intermediação entre a diretoria e o vestiário e também entre o clube e empresas e instituições das quais a Chapecoense cobra indenizações.

“Quero ajudar de fato. Depois da tragédia, teve muita gente que se aproveitou do clube. Ajudar a Chapecoense não é só estar ali e fazer número. Ajudar a Chapecoense é ser mais efetivo numa resposta, numa contratação, às vezes numa mudança. E a gente precisa ter conhecimento para realizar tudo isso. A Chape é um clube que amei e amo, que fui feliz e vivi o melhor momento da minha carreira profissional, declarou Neto.

O ex-zagueiro também comentou como está a busca pelas indenizações. Até o momento, Neto alega que não recebeu qualquer tipo de recurso. “Não recebemos nenhuma indenização até hoje. É um absurdo. A Chapecoense não recebeu nada, as famílias não receberam nada porque foi feito um seguro, que ninguém sabia, que não poderia viajar para a Colômbia e nem para o Peru. Só que a Bolívia liberou o avião para ir para Colômbia, mesmo sem seguro, e a Colômbia aceitou o avião mesmo sem seguro. Foi uma sequência de erros. A (falta de) gasolina no avião foi o último problema. Se não tivesse subido o avião, não teria havido o acidente”, disparou.

Na entrevista, Neto também lembrou o momento exato em que o motor do avião desligou. “Lembro de tudo até o socorro e o resgate. Estava consciente o tempo todo. Lembro de quando o avião desligou, uma sensação horrível. Quando o avião apagou, senti uma aflição muito grande porque eu tinha sonhado que aquilo iria acontecer, três dias antes. Tinha até falado para a minha esposa, quando saí para viajar: ‘estou achando o dia estranho, ora por mim, pede a Deus, porque meu sonho está na minha cabeça’. O avião desligou, acabou o barulho do motor. Escutava o barulho do vento, o avião planando, tudo desligado, mexendo muito, e todo o mundo pedindo a Deus”, recordou.

“Eu falava muito: Jesus, eu sei que você existe e sei que você faz milagres. Eu li na Bíblia. Eu li um monte de vezes a mesma coisa. Sei que tu pode nos ajudar. Eu pedia para nós, e não para mim. Sabia que não tinha como eu ficar vivo sozinho. Ou nós ficaríamos vivos todos juntos, ou nós todos morreríamos. Quando o avião bateu, eu apaguei. Só fui acordar 11 dias depois”, completou Neto.

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