Pelé, 80 anos: Queria ter nascido uns 30 anos antes só para ter visto o Rei jogar

Autor do livro ‘1970 o Brasil é tri’, Thiago Uberreich seleciona podcasts que contam o resumo da carreira do craque e ainda trazem a narração original do milésimo gol do Rei no Maracanã

  • Por Thiago Uberreich*
  • 23/10/2020 07h00
ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO - 1965 Pelé marcou mais de mil gols ao longo de sua carreira Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, durante lance da partida entre Santos e Corinthians, em que o peixe venceu por 4 a 2

Um documentário sobre o Rei do futebol, exibido pela TV Cultura, em outubro de 1990, quando ele tinha acabado de completar 50 anos, trazia a seguinte descrição: “Pelé é uma palavra que não quer dizer nada em língua alguma. Hoje não há quem desconheça o seu significado. (…) Virou adjetivo: ‘é o maior’, ‘é o melhor'”. Essas palavras resumem bem o que representa o “atleta do século vinte”, que chega aos 80 anos. Eu costumava dizer que gostaria de ter nascido uns 30 anos antes só para ver Pelé jogar. Eu sou de 1976, um ano antes dele se despedir de vez dos gramados, no Cosmos de Nova York. No entanto, desde os 13 anos, quando comecei a colecionar material sobre futebol, passei também a vasculhar a vida do maior esportista de todos os tempos. Costumo dizer que o futebol e o Brasil jamais foram os mesmos depois do surgimento de Pelé. Em 1958, na Suécia, quando a seleção conquistou o Mundial pela primeira vez, boa parte da Europa nunca tinha ouvido falar do Brasil. Aos 17 anos, o Rei se revelou para o planeta, ao lado de Mané Garrincha: marcou seis gols em quatro partidas. Ouça abaixo episódio do podcast “90 anos de Copa”, que traz a biografia dessa dupla que nunca perdeu junta com a camisa da seleção.

Tudo o que se podia dizer de Pelé já foi dito. Todas as homenagens possíveis já foram. Sem dúvida alguma, o Rei é o maior embaixador que o Brasil já teve. Até guerra ele parou. Na Colômbia, um árbitro foi obrigado a deixar o gramado, depois que expulsou a estrela principal da partida: Pelé. Nascido em Três Corações, Minas Gerais, em 23 de outubro de 1940, filho de Celeste e Dondinho, Pelé começou a se “formar” como jogador nos campinhos de Bauru, interior de São Paulo, para onde a família se mudou em meados daquela década. Waldemar de Brito, um grande craque do passado, levou o garoto para o Santos, em 1955. Foi no time da Vila Belmiro que o Rei explodiu. Os números de Pelé são até hoje imbatíveis: 1.281 gols. Em 1958, por exemplo, ele balançou as redes adversárias 58 vezes. Em Copas, o Rei é o único jogador campeão mundial três vezes como jogador: 1958, 1962 e 1970. Vale lembrar, no entanto, que no bicampeonato, no Chile, Pelé se machucou no segundo jogo da seleção e não mais entrou em campo. Ouça abaixo nesse episódio do podcast “90 anos de Copa”, um resumo da carreira de Pelé em Copas.

Pelé surgiu quando a TV ainda estava engatinhando no Brasil. Alguns gols mais famosos, infelizmente, não foram registrados pelas câmeras ou se perderam no tempo: contra o Juventus, na rua Javari, em 1959, e diante do Fluminense, em 1961, que ficou conhecido como “gol de placa“. Mas, ao longo da década de 60, os registros da carreira do Rei vão se ampliando. A chegada do videoteipe também ajudou a armazenar as jogadas e os gols inesquecíveis. Já o rádio e Pelé sempre fizeram uma tabelinha perfeita. Foram inúmeros os narradores que deram voz aos lances geniais. Eu não posso deixar de citar o mestre Joseval Peixoto, um dos grandes nomes da história do rádio. Antes da carreira consolidada no comando do Jornal da Manhã, da Jovem Pan, Joseval marcou época na narração esportiva. Em 19 de novembro de 1969, Pelé marcou o milésimo gol dele, no Maracanã, e a narração de Joseval (ouvimos acima) é uma obra-prima.

Chegamos agora ao grande momento da carreira de Pelé: a Copa de 1970. Além do meu fanatismo pela história do Rei, sou vidrado pela seleção brasileira que conquistou o tricampeonato, há 50 anos. Para mim, é a que mais se aproximou da perfeição no futebol. E muito de tudo isso se deve a genialidade de Pelé. Aos 29 anos, ele estava no auge da forma, da técnica e da genialidade. A história do eterno camisa 10 também tem um capítulo reservado aos gols que ele não fez, mas são lances que não saem da nossa memória: contra a Tchecoslováquia, Inglaterra e Uruguai, no Mundial do México. Encerro essas linhas fazendo um convite a você. Ouça um compacto especial do duelo entre Brasil e Itália, jogo decisivo da Copa de 1970, disputado em 21 de junho, no Estádio Azteca. Momento máximo da carreira de Pelé, que chega aos 80 com todas a reverências.

*Thiago Uberreich é jornalista, trabalha na Jovem Pan há 15 anos e é autor dos livros “Biografia das Copas” e “1970 o Brasil é Tri”.

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