Pelé fala sobre racismo: “no fim dos jogos, todos vinham me pedir desculpas”

  • Por Estadão Conteúdo
  • 24/10/2017 09h29
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Reprodução / Instagram Várias vezes Pelé negou que havia sofrido discriminação racial no futebol

Pelé nem sempre foi chamado assim. Houve uma época, no início da carreira, logo que chegou ao Santos, em que ele era o Gasolina. Claro, uma referência irônica e enviesada ao petróleo. Depois, na Copa do Mundo de 1958, passou a ser chamado de Alemão. Outra ironia, agora dos colegas da Seleção Brasileira. Depois veio Crioulo, mais uma referência à cor da sua pele. Por influência direta da imprensa, prevaleceu o apelido de Pelé, que havia sido dado a ele em Bauru (SP).

Tudo isso está no livro “Pelé: Estrela Negra em Vampos Verdes”, de Angélica Basthi, biografia que aborda, entre outros temas, a relação do jogador com a questão racial. Inspiração para milhões de negros no mundo todo, Pelé nunca se engajou diretamente na luta contra o preconceito racial. Em vários momentos, afirmou que não havia sofrido discriminação, posicionamento que modificou nos últimos anos. Em alguns momentos, a postura foi de negação.

Em 2014, só para ficar em um exemplo recente, o Rei chegou a criticar o goleiro Aranha, chamado de “macaco” na Arena Grêmio, em Porto Alegre. “Aranha se precipitou um pouco em querer brigar com a torcida. Se eu fosse parar o jogo cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, toda partida teria que parar. O torcedor, dentro de sua animosidade, ele grita. Acho que temos que coibir o racismo, mas não é em um lugar público que vai coibir”, disse o ex-jogador, ídolo do Santos e seleção.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, Pelé reconhece que sofreu casos de injúria racial, mas minimiza o problema. “Durante os meus mais de 20 anos de carreira, aprendi a entender as ofensas pelo fanatismo dos torcedores e jogadores. Na emoção, durante os jogos, o torcedor e o jogador desabafam, ofendendo as mães e também pelo lado do racismo”, afirmou o Atleta do Século.

Pelé sentiu o racismo em vários momentos da carreira. No Senegal, durante uma excursão do Santos certa vez, a recepcionista branca do hotel onde o time brasileiro se hospedou chamou de “selvagens” os torcedores negros que tentavam se aproximar dos santistas. Ela foi advertida por um policial e encaminhada à delegacia na hora. “Senti que aquilo representava uma esperança para os africanos, como o negro que conseguiria fazer sucesso no mundo”, escreveu Pelé em sua autobiografia publicada em 2006.

O autor de mais de 1.200 gols acredita que a situação é melhor atualmente em função da atuação da imprensa, entre outros fatores. “No meu caso, quando terminava o jogo, todos vinham me abraçar e pedir desculpas. Atualmente acho que é bem diferente. Há mais respeito e a imprensa está mais presente”.

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