Retorno prematuro do futebol pode render ações trabalhistas, diz presidente do Fluminense

  • Por Jovem Pan
  • 12/05/2020 16h06
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Lucas Merçon/Fluminense F.C. Presidente do Flu, Mario Bittencourt é contra o retorno do futebol sem garantias

A decisão do Superior Tribunal Federal (STF), que reconheceu a covid-19 como uma doença ocupacional, pode afetar também os clubes de futebol. Em uma live com o juiz do trabalho Marcos Dias, o presidente do Fluminense Mário Bittencourt, que também é advogado, reconheceu que há riscos para os times que retornam às atividades sem garantias de segurança.

“A questão entra na esfera trabalhista. Com a decisão do STF recente, com relação à doença ocupacional, a partir do momento que se testa 40 jogadores e eles não estão infectados, você atrai o ônus para o empregador, pelo menos na minha visão. Se o funcionário entra, não tem nada e contrai o vírus depois que retornou. Não posso negar que muitos atletas, não só do Fluminense, gostariam de voltar a treinar presencialmente. Tenho dito que vai chegar esse momento, mas quando a gente entender que não está se colocando a vida dos outros em risco”, disse.

Mesmo que os jogadores sejam mais jovens que a faixa etária mais atingida pelas complicações da doença, o cartola não concorda com um retorno prematuro. “O argumento de que atleta não é grupo de risco não me convence como ser humano. Todos têm avós, esposas, filhos em casa”, disse.

Na visão dele, acelerar a volta do futebol pode trazer muitos prejuízos. “Não vou citar nomes de clubes, mas alguns fizeram imposição de maneira unilateral, o que eu discordo. A maioria, pelo que se leu, foi que impôs a condição, e isso pode virar uma enxurrada de ações trabalhistas. E no futuro alguém vai pagar essa conta. Eu optei por outro caminho, tenho uma relação muito boa com os jogadores, de transparência”.

Bittencourt lista os riscos que o sistema de saúde sobrecarregado, como é o caso da maioria dos hospitais públicos e privados do país, podem acarretar nas situações comuns do dia a dia do esporte, como lesões e fraturas.

“Suponhamos que voltem os jogos no pico pandêmico, um atleta se choca com outro no ar, bata a cabeça e precisa de uma UTI porque teve uma lesão mais grave, uma fratura. Corremos o risco de não ter UTI para atender, como não somos serviço essencial. Em que pese que o povo inteiro ama. Futebol sempre fez parte da minha vida e hoje, como presidente, faz da minha vida e do meu trabalho. Não estamos nem 60 dias em casa. Diante de tantos anos que a gente passa pelo mundo, tem tanta vida pela frente, por que não pode esperar só mais um pouquinho e voltar com mais segurança e preservando as pessoas?”, conclui.

Entre os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro, apenas Fluminense e Botafogo não assinaram um documento em conjunto com a Ferj, que pedia o retorno das atividades. O Flu analisa juridicamente as possibilidades de impedir que a Federação ordene o retorno.

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