O 2019 glorioso do Flamengo do ‘cheirinho’ até a Libertadores

  • Por Pedro Sciola
  • 27/12/2019 07h00 - Atualizado em 27/12/2019 09h54
  • BlueSky
EFE/Antonio Lacerda O Flamengo se consagrou bicampeão da Libertadores

O Flamengo teve um ano mágico ao conquistar a Copa Libertadores, o Campeonato Brasileiro e o Estadual. Investindo alto para ter um elenco de luxo, acabou com a sina do “cheirinho” e se transformou no grande bicho-papão do futebol nacional. O clube carioca, por outro lado, também viveu a pior tragédia de sua história fora de campo.

No início de fevereiro, um incêndio no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento, vitimou dez garotos e deixou outros três feridos no alojamento em que viviam os atletas da base. Processado pelas famílias dos meninos, o Fla passou a arcar com indenizações após o episódio e, recentemente, recorreu da decisão da 1ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que o obrigou a pagar mais uma quantia aos parentes dos jovens.

Enquanto a briga judicial acontecia, o Flamengo mexia no time para o restante do ano. Depois de vencer o Carioca sem empolgar e fazer uma fase de grupos na Libertadores “meia-boca”, o clube trocou Abel Braga por Jorge Jesus, reforçou seu elenco com jogadores mais badalados e criou um grupo praticamente imbatível dentro das quatro linhas.

Incêndio

CT do Flamengo

O incêndio no Ninho do Urubu aconteceu na madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019, deixando 10 vítimas fatais. Arthur, Athila, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo, Samuel e Vitor, todos entre 14 e 16 anos, morreram em decorrência de um curto circuito no ar-condicionado no alojamento das categorias inferiores.

Mais de dez meses depois, a diretoria do Flamengo acertou o pagamento de indenizações às famílias de todos os 16 jogadores sobreviventes, reincorporados às categorias de base, e de quatro meninos que não resistiram às queimaduras.

A negociação com as outras famílias, no entanto, está travada e deve se encaminhar para uma longa batalha nos Tribunais. Na semana passada, a 1ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que o clube pagasse o valor de R$ 10 mil para as famílias dos 13 garotos envolvidos na tragédia. A ação, que partiu da Defensoria Pública e do Ministério Público estaduais, pede também a interdição do Ninho do Urubu e o bloqueio de ativos do Flamengo. Tais pedidos já foram indeferidos.

O Flamengo, por outro lado, afirmou que irá recorrer. Desde o episódio, o clube já paga R$ 5 mil mensais para cada família até que as disputas judiciais cheguem ao fim. Para cumprir o que determina a Justiça, o Flamengo pagaria R$ 120 mil por ano para cada família. São 13 no total, o que daria um custo de R$ 1,5 milhão por ano.

Vence o Carioca, mas não emplaca

Dentro de campo, a equipe então comandada por Abel Braga rendia menos que o esperado. Depois de contratar Gabriel Barbosa, Bruno Henrique, Arrascaeta e Rodrigo Caio, o Flamengo até comemorou o título do Estadual, mas não empolgou sua torcida. Na fase de grupos da Libertadores, a classificação foi suada para o mata-mata.

Sem conseguir tirar o máximo dos atletas e possuindo um clima nada amistoso com a diretoria, Abel Braga pediu demissão no final de maio. No mercado, o clube encontrou Jorge Jesus, treinador ex-Benfica sem nenhuma passagem pelo futebol brasileiro.

Jesus “abençoa” o grupo 

Anunciado no dia 1º de junho, Jorge Jesus teve a pausa para a Copa América como tempo para conhecer os jogadores do Flamengo, testá-los e promover uma revolução na maneira do time atuar. Turbinado com as chegadas de Rafinha, Filipe Luís, Pablo Marí e Gerson, a equipe passou por um rápido processo de mudança no estilo de jogo.

Mesmo caindo para o Athletico-PR na Copa do Brasil, o Flamengo, então comandado por Jorge Jesus, não se abalou e iniciou uma arrancada poderosa no Campeonato Brasileiro, fazendo várias vitimas no meio do caminho.

Ao mesmo tempo, o clube carioca superou o trauma das oitavas de final da Libertadores ao bater o Emelec nos pênaltis, derrubou os gaúchos Internacional e Grêmio demonstrando superioridade e chegou à final do torneio após 38 anos.

No Brasileiro, o time atingiu pontuação recorde e faturou o campeonato com quatro rodadas de antecedência. Depois de ficar 24 rodadas sem sofrer derrotas, o Flamengo só foi perder a invencibilidade na última rodada, quando perdeu por 4 a 0 para o Santos, em partida que só serviu para cumprir tabela.

Já na final única da Libertadores, o time demonstrou poder de reação e contou com a estrela de Gabigol, que virou o placar diante do River Plate nos minutos finais.

O Bi não veio

Campeão da Libertadores, o Flamengo chegou ao Catar para a disputa do Mundial com status de clube brasileiro mais bem preparado, pelo menos nesse século, para encarar um campeão da Champions League. Na semifinal, encarou o Al-Hilal e, depois de tomar um susto ao levar o 1 a 0, virou para 3 a 1 com tranquilidade no segundo tempo.

Frente a frente com o Liverpool, atual líder da Premier League e considerado o time mais letal da atualidade, o Flamengo fez uma partida digna. Em alguns momentos, chegou a ter o domínio do jogo e mais posse de bola. Apesar da boa atuação, os comandados de Jorge Jesus não conseguiram dar tanto trabalho assim para Alisson.

O 0 a 0 se arrastou no placar durante os 90 minutos do tempo regulamentar e a decisão do título mundial foi para a prorrogação. Nos 30 minutos a mais do que o planejado, os jogadores do Fla sentiram a parte física. Para o Rubro-Negro, a partida era a última da temporada — enquanto o Liverpool estava no meio das competições. Em um contra-ataque fulminante, Roberto Firmino fez o gol que impediu o bicampeonato do clube da Gávea e consagrou o Liverpool com seu primeiro título mundial.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.