Sobrevivente da tragédia com a Chapecoense garante que voltará a voar

  • Por EFE
  • 04/12/2017 10h28
JUAN CARLOS TORREJON / EFE Ximena Suárez foi a única mulher que sobreviveu ao acidente aéreo com o avião da Chapecoense

“Tripulante de cabine, esse é o meu ofício e ninguém cortará as minhas asas. Voltarei a voar. Essa sou eu”, diz a boliviana Ximena Suárez Otterburg, uma das sobreviventes da trágica queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, há pouco mais de um ano.

A comissária de bordo lançou nesta semana o livro “Volver a los cielos” (“Voltar aos céus”, em tradução livre). Na cidade natal, Santa Cruz de la Sierra, o evento de apresentação da obra foi marcado pela emoção, e também pela presença do técnico de voo Erwin Tumiri, outro que também escapou com vida do desastre.

O escritor boliviano Homero Carvalho, que editou o depoimento da sobrevivente, afirmou que Ximena é uma “Celícola”, uma habitante dos céus, que “está curando as feridas, como águas que esperam para voltar a observar o mundo do alto”.

A comissária de bordo revelou que carrega o sonho de “viver no céu” desde a primeira vez que entrou no avião, quando era criança: “É como se eu estivesse em um lugar mágico, e tivesse ficado hipnotizada para sempre nesse lugar”, se emociona Ximena, que antes de trabalhar para a companhia aérea boliviana LaMia, foi modelo por um período e depois começou a trabalhar na Aerosur, durante quatro anos.

A chegada na empresa dona do avião do trágico voo para Medellín aconteceu pelas mãos de dois amigos, um deles, Romel Vacaflores, assistente de voo, que morreu na madrugada de 29 de novembro de 2016, em Cerro Gordo, na província de Antioquia. Ximena conta que, em vários momentos, o pagamento de salários na LaMia atrasava, por “várias semanas e até meses”, mas que seguiu na companhia por que se sentia “em família” com seus colegas.

No livro, a comissária, de 29 anos, relata que sentiu fortes dores no pé durante o embarque dos passageiros. Ela chegou a pedir para não voar, mas não foi localizado nenhum outro profissional para substituí-la.

O voo, segundo Ximena, aconteceu normalmente, em meio a um ambiente de muita alegria, já que a delegação da Chapecoense, que ainda tinha convidados e a companhia de jornalistas, viajava para o duelo histórico com o Atlético Nacional, no jogo de ida da final da Copa Sul-Americana.

Quando se aproximaram de Medellín, os tripulantes seguiam a rotina habitual: acordaram os passageiros e pediram para que colocassem os assentos na posição vertical, e também que apertassem os cintos.

A aterrissagem, no entanto, não aconteceu, nem mesmo houve qualquer aviso do que estava acontecendo, segundo a comissária, que incluiu no livro a transcrição divulgada pela imprensa da conversa entre o piloto Over Goytia, morto na tragédia, e a operadora na torre de controle.

O avião ficou sem combustível a poucos quilômetros de Medellín, se chocando com uma colina em Cerro Gordo, região que foi rebatizada de Cerro Chapecoense, após a queda do avião que matou 71 pessoas.

“O golpe atroz, indescritível. Não existem palavras para isso. Os gritos eram horríveis, o estrondo”, relembra Ximena, que completa dizendo que aqueles instantes pareceram uma eternidade.

A comissária conta que sentiu uma presença a protegendo enquanto estava presa sob uma parte da fuselagem do avião. Em seguida, foi ajudada por Tumiri. Os dois caminharam pela mata e começaram a subir a colina, em busca de ajuda. “A espera foi longa, muito longa, dolorosa”, relembra.

A comissária ficou internada em um hospital na Colômbia e disse ter se sentido confortada pelo apoio da família e por muitas pessoas que não conhecia, principalmente colombianas.

A jovem diz ter sentido dor somente na volta à Bolívia, já que sofreu hostilidades de pessoas que a culpavam pelo acidente e de outras que a criticaram por aceitar a realização de uma campanha para arrecadar dinheiro para pagar seu tratamento médico, já que não tinha recebido qualquer quantia do antigo empregador. “Até agora, não recebi um centavo de seguros da LaMia”, destaca.

Em agosto, a comissária voltou à Colômbia, para se reencontrar com as pessoas que a ajudaram no resgate, como forma de “curar as feridas da alma”. Além disso, fez uma tatuagem, “um avião da LaMia entrando em uma ferida na minha pele”, imagem que ilustra a capa do livro que lançou. “Sei que o acidente é uma ferida que cicatrizará, mas jamais se apagará. Não a levo no meu corpo, a levo na minha alma”, conclui.

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