Goleiro “chapeleiro” aponta tendência da posição e critica fórmula do Paulistão

  • Por Luiz V. Andreassa/Jovem Pan
  • 20/03/2015 16h05
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Reprodução/Site oficial Audax-SP Os goleiros do Audax costumam treinar a saída de jogo com os pés

O Osaco Audax é um time que tem chamado a atenção por conta de seu esquema de jogo diferente, inspirado na Holanda de 1974. Mas esta semana quem virou celebridade foi o goleiro Felipe Alves, por dar um chapéu no atacante Ricardinho, do Ituano, em partida do Paulistão no último domingo. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan Online, Felipe disse que fez o drible sem pensar e colocou a vitória por 2 a 1 em risco.

“Ali eu arrisquei um pouco. Não treinamos pra fazer aquilo, fiz sem pensar. Foi um lance isolado em que exagerei”, disse o arqueiro, que não se ilude com a repercussão da jogada. “Ela poderia ter nos custado a vitória, mas como deu certo teve essa repercussão toda”.

Com a voz calma e respostas ponderadas, o arqueiro de 26 anos não parece ser um “maluco”, como foi chamado por alguns após o chapéu dentro de sua área. Felipe nasceu na Vila Matilde, mas foi criado em Itaquera, bairros da Zona Leste da Capital. Já passou por diversos clubes – como Paulista de Jundiaí, onde começou a carreira profissional, Atlético de Sorocaba e Vitória – e teve dificuldades para começar a jogar bola.

“Quando eu era mais jovem todos os meus amigos faziam aula numa escolinha de futebol, e eu queria fazer. Na época meu pai trabalhava por conta e não tinha dinheiro pra pagar, a escola era cara. Então eu comecei a jogar no gol, porque os goleiros não pagavam para ter aula”, conta Felipe. “Acabei pegando gosto pela posição”.

Para ele, a tendência de goleiros que, como seu ídolo Neuer, sabem jogar com os pés veio para ficar. “Acho que os outros times já deveriam ter implantado isso, como na Europa. Não é uma coisa de outro mundo, basta treinar. No futuro bem próximo vai ser obrigatório.”, analisa o guarda-metas que tem 98,8% de acerto nos passes. “A maioria dos jogos tem muita ligação direita, muito chutão. Não que isso seja proibido, mas se priorizar o futebol o espetáculo fica mais bonito”.

Apesar disso, ele diz que não conseguiria jogar na linha sem uma preparação específica, uma vez que o goleiro treina mais a agilidade e a reação, mas tem menos resistência que os outros companheiros.

Ousadia e (quase sempre) alegria

O ousado estilo de jogo adotado pelo técnico Fernando Diniz no Audax tem trazido resultados opostos. Enquanto a equipe sofre diante dos ataques dos times grandes – perdeu por 3 a 1 para o Palmeiras e 4 a 0 para o São Paulo -, diante dos menores é avassaladora. São quatro vitória seguidas no Campeonato Paulista, incluindo uma goleada por 6 a 1 sobre o mesmo Red Bull que arrancou um empate sem gols com o Corinthians na Arena. Mas, para Felipe Alves, os reveses não são exatamente culpa desse sistema “audaxioso”.

“Só tomamos muitos gols contra os grandes, contra os quais não tivemos um bom desempenho. Esses times, caso tenham três ou quatro chances de gol, marcam. De resto temos ido muito bem, temos sido superiores aos menores e até mesmo com os grandes temos jogado de igual pra igual”, argumenta o goleiro “Na finalização não temos ido bem em alguns jogos, mas dificilmente tomamos mais de um gol nos jogados contra os menores”.

O tom fica mais crítico quando Felipe Alves é perguntado sobre o regulamento do Campeonato Paulista, com quatro grupos de cinco times que não se enfrentam entre si. Como se classificam os dois melhores de cada grupo, os terceiros colocados, mesmo que façam grande campanha, podem cair fora. É o que aconteceria com o Audax hoje, terceiro colocado com 16 pontos no Grupo 2, que tem Corinthians (23) e Ponte Preta (18) como líderes. Capivariano e Botafogo-SP têm menos pontos que o time de Osasco, mas se classificariam por estarem no segundo lugar de seus grupos.

“Eu acho muito estranho, muito ‘nada a ver’. Como pode um campeonato em que a gente com 16 pontos não classificaria e o décimo da classificação geral, com menos pontos, passaria de fase? Não tem lógica nenhuma”, critica o goleiro, que aponta um motivo para o regulamento ser assim. “O regulamento favorece os times grandes, que são cabeças-de-chave e é obvio que vão classificar. Nas quartas de final, vão pegar times pequenos, com vantagem de jogar em casa”.

Apesar dessa vantagem dos times tradicionais, no ano passado o campeão do estadual foi o Ituano, diante do Santos. Santos que é o próximo adversário do Audax, no sábado (21) na Vila Belmiro. Será que contra o melhor time do campeonato Felipe Alves vai dar chapéu? Pelas suas declarações é pouco provável.

Relembre o famoso lance no vídeo abaixo

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