Hernanes se reinventa na Juve e avisa Tite: “ir à Copa é minha prioridade”

Hernanes deu alguns passos para trás. Não só na caminhada rumo à Seleção Brasileira que muito provavelmente disputará a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, como também dentro de campo. O meia-atacante agressivo, que arriscava dribles, passes agudos e finalizações da entrada da área em Lazio e Inter de Milão, hoje não existe mais.

Na Juventus desde agosto do ano passado, o ex-são-paulino foi tirado da posição na qual mais brilhou no futebol italiano e sofreu. Amargou incontáveis minutos no banco de reservas, chegou a flertar com uma transferência a Portugal, mas, agora, parece ter se reencontrado – em uma função diferente, é verdade, mas que, por incrível que pareça, pode fazê-lo sonhar com uma vaga entre os possíveis convocados para o Mundial da Rússia.

Foi instantâneo. Bastou Hernanes disputar uma partida como meia-atacante na Juventus para que o técnico Massimiliano Allegri o chamasse de lado… A partir daquela conversa, o camisa 11 teria de jogar mais recuado, como o primeiro homem de meio de campo da Velha Senhora – o jogador até atuou como volante no São Paulo, no fim da década passada, mas nunca como peça mais defensiva do setor, como na Juventus. 

Em um primeiro momento, o lugar, ocupado com maestria por Andrea Pirlo entre 2011 e 2015, causou estranheza ao brasileiro – que tanto havia encantado os italianos jogando atrás apenas dos atacantes, como na Lazio, por exemplo. E, por alguns meses, fez congelar o futebol de um dos jogadores mais talentosos do País na atualidade.

Foram apenas 16 partidas de Hernanes como titular durante a temporada passada inteira. Mas ele foi paciente. E, em 2016/17, começou a colher os frutos da perseverança. Jogando ao lado de Khedira e à frente apenas dos zagueiros Barzagli, Bonucci e Chiellini, o brasileiro enfim se encontrou na atual pentacampeã italiana. Dos oito jogos feitos pela Juventus na nova temporada, Hernanes entrou em campo em cinco. E foi titular em três – incluindo, aí, a partida mais importante realizada pela equipe até aqui, contra o Dínamo de Zagreb, pela Liga dos Campeões da Europa. 

“Demorei um pouco para me adaptar, porque cheguei à Juventus jogando de meia ofensivo e o treinador me colocou em uma nova função, para ajudar na saída de bola. Demorei um pouco para aprender as coisas necessárias para jogar nesta posição, mas, agora, estou em um momento legal. Aprendi algumas manhas importantes para atuar neste setor“, explicou Hernanes, em entrevista exclusiva ao repórter Marcio Spimpolo, da Rádio Jovem Pan.

A adaptação, no entanto, foi dura. “Eu sempre joguei com mais liberdade, meio que no instinto. Pegava a bola, partia para cima, tentava o drible, um passe mais agudo, um chute... Mas, nessa nova posição, eu tenho que ser mais racional, ter uma excelente leitura de jogo. Preciso saber quando posso acelerar, quando é necessário cadenciar, quando tenho que dar o bote, quando basta fechar o espaço… É uma posição que exige muito da razão e menos do instinto“, ensinou.

A lesão de Claudio Marchisio, que, em tese, estaria à frente de Hernanes na preferência de Massimiliano Allegri, contribuiu para a maior utilização do brasileiro neste início de temporada. Mas é inegável que o futebol do camisa 11 cresceu bastante depois de alguns meses de mais treino do que jogo – e olha que Hernanes já tem 31 anos.

“Eu me sinto bem. Por causa desse tempo que eu demorei para me adaptar aqui na Juventus, as pessoas começaram a falar que era culpa da idade… Mas não. Hoje, eu me sinto no melhor momento físico da minha carreira. Não tinha nada a ver com fôlego. Eram entendimentos e percepções dentro de campo que eu precisava administrar“, esclareceu. 

O jogador, que foi utilizado por Luiz Felipe Scolari em três das sete partidas disputadas pelo Brasil na última Copa do Mundo, “sumiu” da Seleção desde então. A última vez que Hernanes ouviu seu nome ser anunciado por um técnico canarinho foi justamente antes do Mundial, em maio de 2014, quando ainda jogava pela Inter de Milão. Fim da linha no time nacional? Não, não.

“Voltar à Seleção está no topo das minhas prioridades“, tratou de dizer Hernanes. “Meu objetivo é estar entre os convocados para a Copa de 2018. Passei por esse momento em que não jogava tanto, mas espero que, agora, eu consiga ter uma sequência maior, para poder convencer o Tite de que eu tenho condições de estar na Seleção“, acrescentou o meia.

De acordo com Hernanes, até mesmo a nova função na Juventus pode ajudá-lo a ser convocado por Tite. “Essa rodagem na Itália me deixou bem mais completo. Hoje, eu posso jogar mais atrás, como primeiro homem, ou mais à frente, como um meia-atacante. Depende do Tite. Ele me conhece. Mantendo essa boa fase, pretendo convencê-lo de que posso ter uma chance na Seleção“, encerrou.