Indonésia revela lado obscuro do futebol aos jogadores latino-americanos

  • Por Agencia EFE
  • 19/05/2014 06h34

Eduardo Mariz.

Jacarta, 19 mai (EFE).- Os jogadores latino-americanos que atravessam o Pacífico para jogar no Campeonato Indonésio com promessas de bons salários e condições costumam se deparar com uma realidade diferente, na qual a precariedade pode se sobrepor aos sonhos de prosperar no mundo da bola.

O número de estrangeiros inscritos no Campeonato Indonésio chega a 74 – descontando seis que se nacionalizaram -, sendo 22 da América Latina, com Brasil (8) e Argentina (7) à frente dessa lista.

Embora essa relação já possa ter mudado, já que o campeonato local segue em recesso até o dia 20 de maio, época em que as equipes reforçam seus elencos, a presença de estrangeiros no futebol indonésio é cada vez mais frequente, tanto que os clubes podem ter apenas quatro atletas inscritos, mas só três podem entrar em campo a cada partida.

Esta estratégia para internacionalizar a liga e a promessa de salários mais altos do que os pagos em divisões inferiores da América Latina e da Europa Oriental atraíram à Indonésia jogadores como o argentino Cristian Gastón, que considera o fanatismo da torcida local como outro ponto a favor.

“É uma liga que sempre está na televisão, mas que milhares de pessoas também comparecem aos estádios. São muito fanáticos por futebol” declarou à Agência Efe Gastón, atacante do Pelita Raia Bandung e que é considerado uma celebridade local.

Mesmo com toda essa favorável descrição, ele e Walter Brizuela, meia argentino que chegou ao mesmo clube há três anos, recomendariam uma transferência ao futebol da Indonésia. “Aqui não é como em outros países”, destacou Gastón, de 28 anos.

Neste aspecto, o caso negativo mais famoso internacionalmente foi o do paraguaio Diego Mendieta, que, no final de 2012, morreu em um hospital sem dinheiro para pagar os médicos.

“Conheço inúmeras histórias de jogadores que não cobram e acabam esperando meses para receber um salário, mas nunca havia ouvido um caso de um jogador que foi abandonado completamente à própria sorte por um clube”, comentou o secretário-geral para a Ásia da Federação Internacional de Jogadores (FIFPro), Frederique Winia.

Oito semanas antes da morte de Mendieta, o brasileiro Bruno Zandonadi, jogador do Persikota Tangerang, morreu em decorrência de um vírus (citomegalovirus), que é uma forma de herpesvirus.

“É difícil recomendar (alguém) porque para vir tão longe e que não receber é complicado. Eu já sei como são as regras do jogo e espero que algo mude, tenho confiança que algo possa mudar”, comentou Brizuela, de 33 anos.

Gastón opinou que grande parte de culpa da precariedade no futebol indonésio está relacionada à flexibilidade dos elencos e nos curtos contratos baseados no rendimento do jogador.

Pensando em contornar essa situação, uma conferência foi realizada nesta semana no país sob o lema de “Com melhores direitos, todos ganhamos”, que contou com a participação do vice-presidente da FIFPro, Brendan Schwab; do ministro de Juventude e Esportes indonésio, Roy Suryo Notodiprojo; e do sindicato de jogadores da Indonésia (APPI).

A ausência da federação de futebol da Indonésia (PSSI) evidenciou as tensões que envolvem jogadores e equipes, tendo em vista que, além de não reconhecer a APPI como sindicato oficial, a federação criou outro sindicato próprio sem apoios.

Asep, um torcedor que costuma marcar presença nos jogos todos os domingos, acredita que a situação de precariedade “não deveria ser assim”, mas acrescentou que “os jogadores estrangeiros também devem estar atentos aos riscos, já que, segundo ele, “a Indonésia não é como seus países”.

Apesar de ser uma potência regional no esporte, a Indonésia só participou de uma edição da Copa do Mundo, a de 1936, e ocupa a posição de 151º no ranking da Fifa na atualidade.

No entanto, o futebol é o esporte mais praticado e, segundo uma pesquisa da agência Nielsen, mais de 81 milhões de indonésios (em um país de 240 milhões) se declaram fãs do esporte. EFE

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