Investigação aponta corrupção de cabo eleitoral de Bach no COI

  • Por Estadão Conteúdo
  • 28/04/2017 16h06
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O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, fala sobre a oitava visita oficial de inspeção para os Jogos Rio 2016 (Fernando Frazão/Agência Brasil) Fernando Frazão/Agência Brasil O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI)

Investigações do FBI sobre a corrupção na Fifa se ampliam e revelam como um dos homens que se apresentava como um “reformador” no esporte mundial atuou para comprar votos e apoio. No centro do inquérito está Ahmad Al Fahad Al Sabah, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e conhecido como um dos atores mais poderosos do esporte mundial. Foi seu apoio, por exemplo, que garantiu a escolha de Thomas Bach na liderança do movimento olímpico. Na Fifa, Al Sabah ainda age como um dos homens mais influentes e parte da cúpula da entidade.

Mas documentos do Departamento de Justiça dos EUA revelam agora que ele pagou US$ 850 mil entre 2009 e 2014 para que outro cartola – até hoje membro do Comitê de Auditoria da Fifa – identificasse dirigentes que estivessem dispostos a entrar no esquema de fraude e garantissem apoio a seu grupo. O objetivo era permitir que a facção que o estava pagando ganhasse poder e influência dentro da Fifa.

O auditor da Fifa em questão, Richard Lai, se declarou culpado diante da corte de Nova York, revelando como havia sido “contratado” para recrutar outros cartolas em esquemas de corrupção. Na Fifa, ele foi suspenso temporariamente do futebol nesta sexta-feira.

Mas é o envolvimento direto de Al Sabah que abre uma nova crise no esporte mundial. O representante árabe foi um dos homens que desenhou as reformas da Fifa e se apresentava como a pessoa que poderia eleger qualquer dirigente, em qualquer instituição.

Ex-soldado do Exército do Kuwait, ex-ministro do Petróleo e ex-presidente da poderosa Opep, o dirigente passou a ser um personagem incontornável no esporte. Em 2015, seu discurso também apontava para um complô dos Estados Unidos ao prender cartolas. No Brasil, durante os Jogos Olímpicos de 2016, o suspeito manteve uma relação íntima com os dirigentes da CBF.

Nos documentos, porém, ele aparece como “co-conspirador 2”, um alto funcionário da Fifa, da Federação de Futebol do Kuwait e do Conselho Olímpico da Ásia. Apenas Al Sabah mantinha tais cargos.

Em uma das reuniões, Lai pediu dinheiro para supostamente contratar treinadores para o time de Guam, onde era presidente da federação local. Al Sabah respondeu que poderia enviar US$ 200 mil. Mas, no lugar de dar os dados de uma conta oficial, Lai passou seus dados bancários pessoais, e não da federação. Segundo os americanos, o dinheiro saiu de uma conta no Kuwait para outra do HSBC, em Hong Kong. O dinheiro jamais foi usado para contratar treinadores.

De acordo com o Departamento de Justiça, depois desse pagamento, Al Sabah “começou a usar a ajuda de Lai” para influenciar decisões dentro da Fifa e minar seus rivais. A investigação aponta que a estratégia funcionou, com Al Sabah sendo eleito para o Comitê Executivo da Fifa.

“Depois do pagamento inicial de US$ 200 mil em novembro de 2009, Lai recebeu de forma sistemática, em contas offshore, transferências de contas no Kuwait”, declarou o Departamento de Justiça.

Lai, por sua vez, foi nomeado pela gestão de Gianni Infantino para ser um dos membros do Comitê de Auditoria da Fifa. Seu nome foi aprovado, apesar de ter sido “examinado” pelos controles internos da entidade.

Mas Lai ainda fez outras revelações. Como presidente da associação de futebol de Guam desde 2001, ele recebeu em 2011 cerca de US$ 100 mil para dar seu voto para Mohammed Bin Hammam, do Catar, na eleição presidencial da Fifa. Bin Hammam já foi banido do futebol.

Segundo o auditor, o dinheiro enviado era oficialmente designado para que sua federação pagasse por treinadores para equipes de base. “A palavra ‘treinador’ era o código do pagamento, que na realidade era para mim”, afirmou. “Nunca usei esse dinheiro para pagar pelos treinadores”, admitiu. Ao declarar culpado, Lai terá de pagar multas de US$ 1,1 milhão à Justiça dos EUA.

“Trata-se de um outro importante passo no esforço de limpar o futebol”, disse a procuradora, Bridget Rohde. “O acusado abusou da confiança depositada nele para se enriquecer e isso foi especialmente significativo diante de sua posição no comitê de auditoria da Fifa, que deve ter um papel importante dentro da Fifa se a entidade quiser eliminar a corrupção”, alertou.

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