Lesão cerebral de Bianchi pode deixar múltiplas sequelas, dizem especialistas

  • Por Agência EFE
  • 07/10/2014 16h42
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Piloto está em estado grave

EFE Marussia divulga comunicado e pede paciência sobre estado de Bianchi

A lesão cerebral sofrida pelo piloto francês Jules Bianchi pode deixar “múltiplas sequelas”, algumas delas consideradas severas, afirmaram neurologistas consultados pela Agência Efe, que não estão envolvidos com o processo de recuperação.

De acordo com comunicado emitido pelos pais do piloto, em conjunto com o Hospital Geral de Mie, no Japão, Bianchi sofreu uma lesão axonal difusa (LAD), uma das lesões encefálicas mais greves, já que o dano acontece em região ampla do cérebro, ao invés de um ponto concreto e isolado.

Para Francisco Gilo, secretário do Grupo de Neurologia Crítica da Sociedade Espanhola de Neurologia, “é um milagre” que Bianchi tenha sobrevivido ao grave acidente na curva 7 do circuito de Suzuka, no Japão. Isso porque a lesão sofrida consiste basicamente na ruptura dos axiônios do cérebro.

“O cérebro está formado por neurônios, que se compõem basicamente de duas partes: o corpo e diversos prolongamentos com o restante da célula. O axônio é o principal desses prolongamentos na relação com os demais neurônios. É uma estrutura com fio estreito e longo”, afirmou o médico.

Segundo o especialista, a LAD aparece sempre nos casos de traumatismo craniano grave.

“A pessoa que sofre uma pancada grave na cabeça, no momento do impacto submeterá o cérebro a uma intensa aceleração, desaceleração e rotação que lhe forçará a colidir contra estruturas rígidas situadas dentro do próprio crânio”, explicou.

A este movimento, será gerado uma “tração e estiramento dos axiônios”, que se romperão parcialmente, produzindo a lesão. Francisco Gila lembra que as partes rígidas da cabeça são o crânio e outras estruturas não-ósseas.

“Segundo a disposição destas estruturas, há determinadas regiões do cérebro, como o corpo caloso, situado no centro ou o talo cerebral, mais vulneráveis aos efeitos nocivos dos traumatismos, por sofrer mais com as forças que geram os movimentos de aceleração, desaceleração e rotação”, diz o médico.

A extensão da lesão ocasionará “mal funcionamento do cérebro” em função da intensidade do golpe e do estado de saúde da própria massa cerebral. Segundo o neurologista, 90% dos pacientes que sofrem este tipo de problema, ficam em “estado vegetativo”.

Segundo Manuel Muríe, neurologista da Clínica Universitária Navarra, as consequências causadas pela lesão são múltiplas, indo desde transtornos de mobilidade, de sensibilidade (na percepção de estímulos como o tato, a temperatura ou a dor), de linguagem, cognitivos (perda de memória) e hormonais.

Dependendo do nível de traumatismo e da altura da lesão, a LAD pode até levar a morte. Em muitos casos, se opta pelo coma induzido para “evitar” que os mecanismos de proteção desenvolvidos pelo corpo submetam o cérebro a mais exigência que a devida.

Para Muríe, é “impossível” neste momento, prever se Jules Bianchi voltará para as pistas algum dia.

“Você pode ter uma vida normal com 70% de suas capacidades cerebrasi, mas para o esporte é preciso estar 100%”, avaliou à distância o especialista.

Para o especialista ouvido pela Efe, a “única estratégia de melhora após a fase aguda” é a chamada neuroreabilitação, que no caso da lesão grave precisaria ser intensiva e iniciada o mais rápido possível.

O método, diz Muríe, consiste em “recuperar cada uma das fases cerebrais”, a partir do estabelecimento de uma série de objetivos a curto prazo, em processo que pode durar de seis a oito meses. A realização é multidisciplinar, com participação de neurologistas, fisioterapeutas, neuropsicólogos, psiquiatras, entre outros.

Bianchi está internado desde domingo, quando a carro da Marussia que guiava se chocou com um guindaste, na curva 7 do circuito de Suzuka, onde acontecia do Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1. O médico Gérard Saillant, presidente da Comissão Médica da FIA, e o neurocirurgião Alessandro Frati, participam do tratamento.

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