Lesionado na Seleção, jogador perde clube, vive drama e pode pôr CBHb na Justiça

  • Por Jovem Pan
  • 05/12/2016 16h32
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Ponta Felipe Borges sofreu grave lesão no ombro direito e Facebook/Reprodução Ponta Felipe Borges sofreu grave lesão no ombro direito e

Quadrifinalista dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a Seleção Brasileira masculina de handebol vive uma das melhores fases de sua história. Fora das quadras, porém, a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) segue deixando a desejar no trato com os jogadores. Que o diga Felipe Borges… Ponta da Seleção há quase dez temporadas, o atleta de 31 anos se lesionou enquanto jogava com a camisa verde-amarela, teve o seu contrato rescindido com um clube da Europa e, hoje, vive um incrível drama – que pode fazê-lo até mesmo acionar a entidade na Justiça. 

Tudo aconteceu em junho deste ano. Principal goleador da Seleção Brasileira, Borges sofreu uma grave lesão no ombro direito durante a final do Pan-Americano de handebol, diante do Chile, na Argentina. O atleta teve de passar por uma cirurgia, foi cortado dos Jogos Olímpicos e ainda ficou sem clube. O contrato do jogador com o Sporting Lisboa, afinal, possuía uma cláusula que previa a rescisão automática do vínculo em caso de lesão que fizesse o atleta desfalcar o time por pelo menos 60 dias.  

Foi o que aconteceu.  

Borges já está longe das quadras há quase seis meses e, apesar de ter tentado negociar a permanência na equipe portuguesa, teve de voltar para a França, onde atuava pelo Montpellier. O clube não o contratou de volta e nem lhe pagou a cirurgia, é verdade, mas pelo menos disponibilizou toda a sua estrutura para que ele pudesse se recuperar da grave contusão. Desempregado desde então, o jogador hoje se mantém graças a um seguro-desemprego que será pago pelo governo francês até junho do ano que vem. O valor, no entanto, corresponde a apenas 40% do que ele recebia enquanto estava empregado.

Em apuros, Felipe Borges pediu ajuda ao presidente da CBHb, Manoel Oliveira, mas, até agora, não obteve nenhum tipo de respaldo. “Talvez a gente tenha que jogar 20 anos e se lesionar umas 40 vezes na Seleção para ter um pouco de respeito”, detonou o jogador, em entrevista exclusiva a Fredy Junior e Guilherme Campos que foi ao ar no último Domingo Esporte, na Rádio Jovem Pan. “Eu entrei em contato com o presidente e expliquei a minha situação. Ele entendeu, disse que tentaria me ajudar de alguma maneira, mas quatro meses se passaram e eu ainda não tive nenhum tipo de retorno. Ainda tenho um pouco de esperança, mas, a cada dia que passa, me desmotivo mais, complementou. 

Sem qualquer tipo de resposta, o atleta cogita até mesmo acionar a CBHb na Justiça. “Não entendo muito bem de direito, mas acho que, se eu estava à serviço da Seleção, a confederação teria de se responsabilizar, e não o clube. Alguns amigos até vieram falar comigo, dizendo que poderia ter uma saída jurídica. Eu comecei a ir atrás, sim, para saber como é que é. Porque, se a gente não pode confiar na palavra da confederação, é o caso de apelar“, afirmou. “Ainda tenho uma confiança, mas não tive nenhum tipo de resposta por parte da confederação“, complementou. 

Ao contrário do que acontece com os jogadores que atuam na NBA, por exemplo, os atletas que defendem as seleções brasileiras de handebol não contam com nenhum tipo de seguro por parte dCBHbNo basquete, se um jogador se lesiona representado o seu país, tem o direito de receber parte ou a totalidade do salário pelo período em que ficar indisponível – isentando clube e atleta de prejuízos. No handebol brasileiro, isso ainda não acontece, apesar de já haver conversas para uma possível mudança. 

“Fomos nós mesmos que pedimos esse tipo de proteção. Não foi a confederação que veio atrás”, revelou Felipe Borges, que teme até mesmo pelo futuro da Seleção Brasileira de handebol. “Muitos brasileiros jogam na Europa, em clubes profissionais, mas pode ser que eles achem que ainda somos amadores. Pode ser que, daqui para frente, se não existir este seguro, os clubes deixem de ceder jogadores para a Seleção Brasileira, porque quem acaba se prejudicando são eles, acrescentou.

O presidente da Confederação Brasileira de Handebol, Manoel Oliveira, argumenta que o término dos Jogos Olímpicos acarretou a diminuição dos valores pagos pelos Correios à entidade. Por causa disto, ela estaria vivendo dificuldades financeiras, com todos os recursos comprometidos. No entanto, o dirigente garante que não tem economizado esforços para tentar ajudar o atleta economicamente – já que a possibilidade de encontrar um clube para Borges está temporariamente descartada. 

O jogador, por sua vez, ainda não sente segurança nas palavras do mandatário, como deixou claro na entrevista exclusiva à Jovem Pan. Fui eu que fui atrás dele. Se eu não o ligasse, não sei se teria algum tipo de preocupação. A gente não está em um caminho bacana. Pode ser que, daqui a um, dois meses, ele me ofereça um suporte, mas, hoje, é uma incógnita“, lamentou, desconfiado a ponto de sequer descartar a possibilidade de um boicote à Seleção nos próximos anos.  

Parece que temos sempre de forçar a barra para as coisas funcionarem. Talvez, se um dia dissermos que não vamos participar de um Mundial, eles passem a nos encarar de uma forma mais séria“, insinuou. “Não acredito que ninguém vai fazer uma greve por agora, deixar de disputar o Mundial de janeiro, por exemplo. Mas temos de ficar espertos, abrir o olho, porque é uma situação que pode acontecer com qualquer um. O que dá para entender é que, hoje, a Seleção não  nenhum tipo de suporte aos seus atletas”, finalizou.

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