Luta livre: um exemplo de rivalidade que une os sul-sudaneses

  • Por Agencia EFE
  • 13/10/2014 10h13
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Atem Mabior.

Juba, 13 out (EFE). – Apesar de o conflito iniciado em dezembro do ano passado ter dividido o povo do Sudão do Sul, seus cidadãos continuam vendo na luta livre uma forma popular de manter as tradições e se socializar.

Trata-se de uma prática cultural muito antiga na qual os grupos étnicos expressam suas habilidades e seu patrimônio musical. Ela prevalece de forma significativa entre os grupos de pastores das duas margens do Rio Nilo, em particular entre os da tribo Dinka, a principal do Sudão do Sul, e de outras como as Mundari e Lokuta, no sul do país.

O lutador Ajang Kout, da região oriental de Juncáli, começou a pegar gosto pela luta livre ainda pequeno quando aprendeu a prática com seus amigos em um estábulo de sua cidade.

“É muito fácil e você se transforma em uma pessoa importante sobre a qual as pessoas cantam, muita gente te cerca e passa a ter prestígio porque defende a honra da sua família e sua tribo”, afirmou à Agência Efe Kout, que conseguiu várias vitórias até se tornar representante de seu clã.

Para estes grupos, o esporte busca a socialização de seus membros e o fortalecimento da autossuficiência, desenvolvendo sua força e coragem perante as dificuldades da vida, além das artes da luta. Como prática tradicional, as comunidades de pastores competem entre elas em concursos e festas populares.

Na capital do país, Juba, foi criado um campeonato anual no qual lutadores de distintas partes participam diante dos olhares atentos de um enorme público.

Um de seus organizadores, Majok Agany, afirmou à Agência Efe que a realização deste evento pretende “lembrar a riqueza e a diversidade cultural no Sudão do Sul e como a luta livre pode ajudar a aproximar os grupos nacionais e contribuir para a paz e a estabilidade”.

Estes concursos, em que os participantes querem dar motivos de orgulho a suas respectivas tribos, são acompanhados de rituais populares nos quais as mulheres de cada grupo elogiam seu lutador e sua tribo. Enquanto isso, os dois combatentes se batem vestidos com roupas feitas de pele tigre.

Apesar do conflito armado, no qual desde dezembro passado as tropas governamentais enfrentam os rebeldes, os grupos étnicos continuam preservando este costume, inclusive depois que um grande número de pessoas se viu obrigada a abandonar suas casas. No local onde se reinstalam continuam praticando a luta livre e outras tradições.

O dirigente tribal do Estado de Lagos (centro), Aguak Nuer Ngueny, acredita que se trata de uma cultura da qual não se podem desprender.

“A luta na cultura dos Dinka é um esporte que encoraja as pessoas e contribui para aumentar a fama do lutador na sociedade local”, comentou Ngueny, acrescentando que “esse esporte é ensinado pelos avôs e praticado para esquecer as pressões da vida”.

Além de preservar suas raízes, seus fãs defendem que haja uma modernização das regras e sua divulgação em nível mundial.

Para o jornalista esportivo Sheikh Chol Ajing, a luta livre no Sudão do Sul “precisa de apoio”, estabelecimento de novas regras que substituam às tradicionais e mais investimento em publicidade.

Algumas mudanças já foram introduzidas: foram iniciados os contatos com treinadores para melhorar o rendimento de cada competidor, como na luta livre internacional, e os golpes na cabeça ou com as pernas estão proibidos. Entre as novas demandas há a de um uniforme especial para todos no lugar das roupas típicas.

Em qualquer caso, o objetivo continua sendo o mesmo: derrubar o adversário, o que o torna mais popular do que o futebol no Sudão do Sul e, principalmente, uma forma de aproximar os grupos étnicos. EFE

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