Melhor do mundo entre cegos é brasileiro e ama Messi: “dizem que conduzimos a bola igual”
Camisa 10 como Messi
Camisa 10 como MessiA visão, perdida aos oito anos, não foi necessária para que Ricardo Steinmetz Alves se transformasse em um gênio com a bola nos pés. Bicampeão mundial e duas vezes eleito o melhor jogador do planeta no futebol de cinco para cegos, o gaúcho de 27 anos é um dos principais astros da delegação brasileira que vai disputar os Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Ricardinho, como é conhecido, perdeu a visão em 1996, após cinco cirurgias e dois anos de luta contra um inoportuno descolamento de retina. Por dias, o sonho de virar jogador de futebol ficou ameaçado. Mas bastaram algumas semanas e um pouco de paciência para que o então jovem talento percebesse que, se, por um lado, havia acabado de se tornar deficiente visual, por outro, novas oportunidades poderiam, por que não, aparecer.
E assim aconteceu. Ainda menino, Ricardinho foi levado pelo pai de Osório, no litoral norte do Rio Grande do Sul, à capital, Porto Alegre – onde conheceu o Instituto Luzia. Além de referência no ensino em braile, o local também é famoso por estimular as práticas esportivas a deficientes visuais. Não à toa, foi lá que o jovem teve o primeiro contato com o futebol de cinco, modalidade semelhante ao fustal, mas praticada por cegos – apenas o goleiro enxerga, e a bola contém um guizo que, por meio do barulho, orienta os atletas de linha.
Foi o encontro perfeito. Aos 15 anos, Ricardinho já jogava por um clube profissional de futebol de cinco. Aos 16, era um dos mais jovens integrantes da Seleção Brasileira – que foi campeã paralímpica em Atenas-2004 sem o gaúcho de Osório, mas manteve o 100% de aproveitamento e ganhou o ouro em Pequim-2008 e Londres-2012 já com o seu maior craque.
“Eu sempre tive o sonho de ser jogador de futebol. Quando fiquei cego, cheguei a pensar que nunca mais poderia jogar bola. Mas a vida dá voltas, né? De uma situação em que eu estava completamente desacreditado, consegui encontrar uma nova oportunidade“, celebrou o hoje consagrado Ricardinho, em inspiradora entrevista exclusiva concedida a André Ranieri – o bate-papo, na íntegra, vai ao ar no próximo Domingo Esporte, da Rádio Jovem Pan.
Bicampeão mundial em 2010/2014 e eleito o melhor do planeta em 2006 e 2014 (no futebol de cinco, só se faz esse tipo de escolha a cada quatro anos), o brasileiro é, atualmente, o maior nome do esporte que lhe proporcionou realizar o sonho de infância. Artilheiro e extremante habilidoso, Ricardinho se inspira nos principais jogadores de futebol do mundo para brilhar com a bola de guizo nos pés – ele os conhece graças aos relatos de amigos e transmissões de rádio.
“Gosto muito do Neymar, do Cristiano Ronaldo e do Falcão, do fustal… Mas sou fã, mesmo, do Messi“, revelou o melhor do mundo no futebol de cinco. “Já me explicaram que ele tem uma condução de bola muito diferenciada… Ele leva a bola muito colada no pé, e isso é uma coisa muito peculiar do futebol de cinco. Os jogadores conduzem a bola muito próxima aos pés justamente para não perder o domínio, ter sempre a referência do contato. Por isso, as pessoas até me falam que eu carrego a bola igual ao Messi“, contou, sem conter o orgulho.
No entanto, ao contrário do argentino, que quase não sofreu graves lesões ao longo da carreira, Ricardinho por pouco não perdeu a oportunidade de disputar uma Paralimpíada em casa por causa de uma séria contusão. Em abril deste ano, o craque brasileiro fraturou a fíbula e rompeu os ligamentos do tornozelo esquerdo. Não fosse a genética abençoada e a força de vontade, ele certamente seria desfalque nos Jogos do Rio.
“Minha participação na Rio-2016 ficou bastante arriscada. Muitas pessoas não acreditavam que eu disputaria o torneio, mas eu consegui voltar a jogar e ser convocado. Ainda estou em fase final de recuperação. Tem sido uma batalha diária para mim”, admitiu, mantendo os pés no chão com relação à possível conquista do tetracampeonato olímpico por parte da Seleção Brasileira de futebol de cinco.
“A nossa equipe é considerada uma das grandes favoritas ao ouro, até pelo histórico de títulos, mas estamos cientes das dificuldades que vamos enfrentar. As melhores seleções do mundo estarão no Rio de Janeiro. Por isso, temos de deixar esse favoritismo fora de campo. A nossa seleção é vitoriosa porque sempre teve essa mentalidade. Não vamos mudar agora“, encerrou, com discurso para Lionel Messi nenhum botar defeito.
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