Mito ou chato? Relembre a carreira de Rogério Ceni no futebol

  • Por Daniel Keny/Jovem Pan
  • 11/12/2015 14h45

O goleiro é tido por grande parte da torcida do São Paulo como maior ídolo da história do clube

Reprodução/Facebook Rogério Ceni

O dia era 25 de junho de 1993. Aos 20 anos de idade, Rogério Ceni estreava como profissional no São Paulo, clube pelo qual jogaria durante toda a sua carreira. Em amistoso diante do Tenerife, na Espanha, atuou na vitória por 4 x 1 e até defendeu pênalti. A titularidade só veio em 1997, quando Zetti deixou o time. Desde então, foram 18 temporadas seguidas como titular, mais de mil jogos, 18 títulos conquistados e 131 gols marcados.

Ceni é o maior goleiro artilheiro da história; é, também, recordista de jogos e vitórias por um mesmo clube. Contudo, para o torcedor são-paulino, os números são secundários. O amor pela camisa, a entrega dentro de campo, o pioneirismo, a liderança e o protagonismo em diversos momentos decisivos fizeram dele, para muitos, o maior atleta da história do São Paulo Futebol Clube. Já para a torcida adversária, Ceni está longe de ser unanimidade, sua personalidade forte e o envolvimento em algumas polêmicas fizeram dele um jogador pra lá de questionável, ainda que fora das quatro linhas.

Mito ou chato? Relembre a história do goleiro e decida:

O primeiro gol

Em 15 de fevereiro de 1997, Rogério marcou um gol pela primeira vez como profissional. Em jogo válido pelo Campeonato Paulista, balançou as redes na vitória por 2 a 0, contra o União São João, em Araras.

Ao site oficial do São Paulo, Ceni detalhou a longa preparação para realizar o feito. “Eu treinava 100 faltas por dia durante seis meses para ter essa oportunidade. O Muricy me deu essa chance. Foi algo memorável”, lembrou.

Suas defesas, gols e crescente liderança a cada temporada o elevaram ao status de grande ídolo da torcida do São Paulo. A consagração veio com a conquista do Mundial de Clubes sobre o Liverpool. Naquele dia 18 de dezembro de 2005, com a vitória por 1 a 0 e a espetacular defesa em uma cobrança de falta de Steven Gerrard, o goleiro se tornou o “Mito”.

Para Wanderley Nogueira, apresentador do “Esporte em Discussão”, a qualidade de Ceni é indiscutível. “Ele foi excelente sob todos os aspectos. Muita gente o criticava por ele abaixar dentro da área, mas acho isso conversa da oposição. Levou o São Paulo a grandes vitórias, segurou grandes pressões em cima do time dentro de campo, liderou a equipe, fez defesas espetaculares, algumas que até poderiam ser definidas como milagrosas”, opina.

Preterido na Seleção

Rogério teve escassas oportunidades na Seleção Brasileira.  Em 1997 ganhou a Copa das Confederações, mas acabou se indispondo com o técnico Zagallo por reclamar da brincadeira dos outros jogadores de raspar o cabelo dos colegas, com ou sem permissão. Na opinião do treinador, faltou espírito de grupo ao goleiro.

Com Luxa,em 1999, teve nova chance. Mas a fraca atuação em amistoso diante do Barcelona o afastou do selecionado nacional. Ceni voltou a ser convocado por Émerson Leão nas Eliminatórias da Copa de 2002, mas sua fase como titular foi tão curta quanto a passagem do treinador, que deu lugar a Felipão após resultados ruins. Depois disso, só foi chamado como reserva, incluindo a participação como terceiro goleiro no grupo pentacampeão do mundo.

Segundo Wanderley, faltou a Rogério uma grande oportunidade com a camisa verde e amarela. “É uma questão de opinião, mas acho que ele deveria ter sido titular em algum momento. Até mesmo recentemente, já mais coroa. Pela carreira, por sua condição técnica, pela forma como pode influenciar um time, acho um desperdício ele não ter tido mais oportunidades em jogos importantes”.

Recordes

Rogério disputou 1.248 partidas com a camisa de um mesmo time, recorde absoluto na história do futebol. Foram 651 vitórias, 279 empates e 318 derrotas, com aproveitamento de 59,80% dos pontos disputados. No total, balançou as redes 131 vezes, outro recorde registrado no Guinness Book.

Outras marcas significativas do capitão tricolor: mais vezes capitão de um time (978), maior número de títulos pelo São Paulo (18), recordista de jogos no Brasileirão (575), maior número de vitórias no Brasileirão (279), jogador brasileiro com mais jogos na Libertadores (90), maior número de vitórias na Libertadores (51), maior número de vitórias no Morumbi (375), goleiro com maior número de assistências (7), artilheiro do time nas temporadas 2005 (21 gols) e 2006 (15 gols).

Números em clássicos

Rogério disputou 298 clássicos paulistas, anotando 82 vitórias, 54 empates e 72 derrotas. Contra Palmeiras e Portuguesa o retrospecto é positivo, mas contra Corinthians e Santos foi derrotado mais vezes do que venceu. Confira o retrospecto contra cada rival:

Corinthians: 63 jogos, 20 vitórias, 20 empates e 23 derrotas. 3 gols marcados, 92 sofridos;

Palmeiras: 55 jogos, 25 vitórias, 14 empates e 16 derrotas. 7 gols marcados, 67 sofridos;

Portuguesa: 32 jogos, 18 vitórias, 4 empates, 10 derrotas. 3 gols marcados, 36 sofridos;

Santos: 58 jogos, 19 vitórias, 16 empates, 23 derrotas. 4 gols marcados, 86 sofridos.

Um chato do futebol. Um teimoso vencedor

Rogério Ceni foi, sim, um chato do futebol. Chato porque fugiu do estereótipo do jeitinho brasileiro de fazer as coisas. Foi um trabalhador incansável e se superou repetidas vezes. Além do dom de ser goleiro e para bater na bola, sempre buscou estar em alto nível, sempre foi um atleta dedicado e um vencedor obstinado.

A inteligência acima da média dos boleiros e a personalidade forte renderam a ele fama de arrogante, entretanto, Wanderley Nogueira destaca o seu comportamento profissional ao extremo. “Ele é um cara sério e de personalidade marcante, isso pode incomodar muita gente. Ele responde a todas as perguntas e discorda, mas explica o porquê. Se você pergunta sobre o jogo, ele faz um tratado, para alguns dá a impressão de ‘eu sei tudo’. O vejo como um cara  que sabe expressar as suas opiniões com lucidez, seja na hora certa ou não”, conclui.

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