Morre Muhammad Ali, muito mais que um mito do esporte mundial

  • Por EFE
  • 04/06/2016 08h28
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JGM13. Las Vegas (United States), 14/02/1973.- A handout picture provided by the Las Vegas News Bureau (LVNB) on 04 June 2016 shows US boxer Muhammad Ali (C) shouting during the weigh-in for his fight against Joe Bugner at Caesars Palace in Las Vegas, Nevada, USA, 14 February 1973. Born Cassius Clay, boxing legend Muhammad Ali, dubbed as 'The Greatest,' died on 03 June 2016 in Phoenix, Arizona, USA, at the age of 74, a family spokesman said. (Fénix, Estados Unidos) EFE/EPA/LAS VEGAS NEWS BUREAU -- Mandatory credit: Las Vegas News Bureau via european pressphoto agency -- HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES/NO ARCHIVES EFE/EPA/LAS VEGAS NEWS BUREAU Muhammad Ali em 1973 após vencer Joe Bugner em Las Vegas

O três vezes campeão do mundo de boxe Muhammad Ali, que morreu nesta sexta-feira em um hospital de Phoenix aos 74 anos, era algo mais que uma lenda do esporte mundial por causa de seu compromisso político e social.

Sua imagem, como a de John F. Kennedy, Marilyn Monroe, Elvis Presley e Beatles, estará para sempre associada à de uma época: os anos 60 e 70.

Ali, conhecido também por Cassius Clay no início de sua carreira, foi três vezes campeão do mundo dos pesos pesados e campeão olímpico dos meio pesados em 1960. Disputou 61 lutas como profissional, com 56 vitórias e cinco derrotas.

Clay nasceu em Louisville, Kentucky, Estados Unidos, em 17 de janeiro de 1942.

Segundo seus biógrafos, sua chegada ao boxe aconteceu quando tinha 12 anos, através de um policial e treinador amador, Joe Martin, em um ginásio pouco depois que lhe roubaram a bicicleta.

Até 1959 tinha conseguido no campo torcedor várias vitórias; entre elas, seis Luvas de Ouro de Kentucky, duas luvas nacionais em Nova York, e dois campeonatos norte-americanos.

Não tinha mais que 18 anos quando nos Jogos Olímpicos de Roma ganhou a medalha de ouro dos meio peados e decidiu ir para o profissionalismo. Naqueles tempos, o boxe era, em parte, tutelado pela máfia e liderado pelos pugilistas Floyd Patterson e Sonny Liston.

Em 25 de fevereiro de 1964 ganhou o título mundial dos pesos pesados, após um combate contra Liston no qual fez alarde de suas duas melhores virtudes: um jogo de pernas e um golpe demolidor.

Naquele ano, ganhou ainda maior notoriedade ao anunciar sua conversão ao Islã e o abandono de seu nome original pelo de Muhammad Ali. O pugilista militava no movimento Nação do Islã de Malcolm X, que propunha a libertação dos guetos negros e o fim da segregação.

Os EUA ficaram fascinados com este campeão rebelde que acumulava títulos sem cessar.

Nos dois anos seguintes continuou tombando rivais. Nocauteou Patterson, Chuvalo, Cooper, Brian London, Mildenberger, Williams e Jerry Quarry, o orgulho da América branca, no Madison Square Garden de Nova York.

Em 1967 fez um novo gesto espetacular. Se negou a entrar para o Exército e ir lutar na Guerra do Vietnã. Condenaram-no a cinco anos por insubordinação, foi suspenso três anos e lhe retiraram seu título.

Em 26 de outubro de 1970 retornou vitorioso ao quadrilátero, vencendo Jerry Quarry, e novamente se dispôs a chegar ao topo.

Quando sua carreira parecia terminar com duas claras derrotas, contra Joe Frazier, em 8 de março de 1971, e Ken Norton em 31 de março de 1973, aceitou um combate contra George Foreman em Kinshasa, no antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo), em 30 de outubro de 1974. A luta foi acompanhada no mundo todo, foi tema de um filme anos depois e transformou em mitou cinturãos ambos os lutadores: Foreman e Ali, que reconquistou o título mundial.

De outubro de 1974 a fevereiro de 1976 pôs cinco vezes em jogo seu cinturão e sucessivamente derrotou Chuck Wepner, Ron Lyle, Joe Burgner, Joe Frazier e Jean-Pierre Coopman.

Mas perdeu o título em 15 de fevereiro de 1978 para Leo Spinks. A deste de enfrentar o aspirante oficial, Ken Norton, lhe permitiu lutar de novo pelo título mundial e em 15 de setembro o reconquistou pela terceira vez contra Spink, no Superdome de Nova Orleans. Pouco depois anunciou sua aposentadoria.

Ali ganhou mais dinheiro que todos os pesos pesados anteriores juntos. Em 15 lutas que disputou entre 1971 e 1978 embolsou, por exemplo, mais de US$ 43 milhões.

E como veio, assim foi embora o dinheiro. Generosas contribuições, festas lendárias, caprichos e negócios ruinosos acabaram com parte de sua fortuna.

Excepcionalmente, em 2 de outubro de 1980 voltou ao ringue para enfrentar Larry Holmes pelo título do Conselho Mundial de Boxe, um combate que perdeu por abandono no décimo assalto.

Pendurou as luvas definitivamente após perder em 11 de dezembro de 1981 um combate de 10 assaltos contra Trevor Berbick, em Nassau (Bahamas).

Pós-carreira

Pouco depois, em 9 de setembro de 1984, foi diagnosticado que sofria de mal de Parkinson, uma doença degenerativa do sistema nervoso, que, segundo o diretor da Clínica de Doenças Motrizes da Universidade de Colúmbia, doutor Stanley Fanh, tinha como causa imediata o boxe.

Desde então lutou contra a progressão do mal. Sua imagem ficou mais famosa entre o público nesta época. Ainda é lembrada sua emocionante apresentação na inauguração dos Jogos Olímpicos de Atlanta onde não só mostrou as marcas que o Parkinson estava deixando em seu corpo, mas, entre aplausos e vivas, reivindicou seu momento na história do esporte.

Quando abandonou o boxe continuou com seu trabalho em defesa dos valores do Islã e dos muçulmanos. Em novembro de 2002 visitou o Afeganistão como “Mensageiro da Paz” das Nações Unidas.

Em novembro de 1999 assistiu em Viena à entrega de um dos prêmios que lhe reconheciam como um dos melhores desportistas do século XX, após ser eleito por um júri internacional. Apesar de sua abnegada vontade, era evidente sua avançada deterioração física.

No mês seguinte, a revista americana especializada “Sports Illustrated” lhe entregou o prêmio de “maior campeão do século”.

Nos primeiros dias de dezembro de 2001 voltou a Atlanta para receber a chama olímpica vinda da Grécia e segurá-la para o início do percurso até a cidade de Salt Lake City, sede dos Jogos de Inverno em fevereiro seguinte.

No início de 2002 recebeu em Los Angeles a estrela na Calçada da Fama de Hollywood e pediu que não a pusessem no chão, mas na parede.

Dois anos depois, recebeu o Prêmio Khalil Gibran do Instituto Árabe-Americano (2004), por sua obra em favor do mundo em desenvolvimento. Em março de 2005, se anunciou que em dezembro receberia em Berlim a Medalha pela Paz Otto Hahn.

No final de outubro de 2005 sua filha Laila disse que seu pai continuava perdendo a batalha contra o Parkinson e que nos últimos tempos o mal tinha progredido notoriamente.

Em 9 de novembro de 2005 recebeu das mãos de George Bush a Medalha Presidencial da Liberdade e em 21 desse mês inaugurou em sua cidade natal um Centro que leva seu nome para promover seus ideais humanitários e culturais.

Em junho de 2012, o Conselho Mundial de Boxe anunciou que em sua convenção de dezembro seria nomeado “Rei do Boxe Mundial”, em Cancún (México), e se lhe daria uma coroa de 2 quilos banhada em ouro de 24 quilates.

Outro reconhecimento desse ano foi o ser portador por alguns momentos da bandeira olímpica durante a cerimônia de inauguração dos Jogos de Londres, em 27 de julho.

Sua vida foi levada ao cinema em 2001 por Will Smith no filme Ali, dirigido por Michael Mann.

Em 20 de dezembro de 2014 foi hospitalizado por causa de uma leve pneumonia.

Foi casado quatro vezes, a última com Lonnie, e teve oito filhos, além de adotar outro. Laila Ali, a mais nova de seus filhos, se dedicou ao boxe como profissional (1999-2007) e em 2002 ganhou a tripla coroa mundial dos supermédios.

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