Na Espanha, Afonsinho diz ver Seleção sem identidade desde derrota em 1982
O ex-jogador Afonsinho, que está na Espanha a convite do Athletic Bilbao para participar do festival de cinema “Thinking Football”, acredita que a Seleção Brasileira não se recuperou do que chama de “período de decadência” iniciado com a derrota na Copa do Mundo de 1982, apesar dos dois títulos conquistados em 1994 e 2002, e que desde então vive uma crise de identidade.
“O sentimento e a emoção das pessoas não foram os mesmos depois (da eliminação para a Itália em 82). E o que interessa no futebol é a criatividade e a emoção que provoca nos torcedores. É preciso mudar a orientação completamente”, argumentou.
De acordo com o ex-meia de Botafogo e Santos, entre outros clubes, o principal ícone da Seleção na atualidade, Neymar, representa “as duas caras do futebol” porque, apesar de seu brilho com a bola nos pés, desvia o foco em relação ao problema da falta de identidade da Seleção.
“É fantástico que tenhamos Neymar. Ele é espetacular, mas serve também como tapa-olhos. Não se vê o quanto precisamos de uma identidade. É um momento terrível. Os Jogos Olímpicos estão chegando, há bons jovens, mas não se sabe quase nada da equipe, nem quem vai ser o treinador. É muito triste”, destacou Afonsinho em entrevista à Agência Efe.
O ex-jogador viajou a Bilbao junto com o cineasta Pedro Asbeg, que recebe nesta segunda-feira o prêmio Thinking Football 2015 pelo filme “Democracia em Preto e Branco”, que aborda o movimento Democracia Corinthiana.
Asbeg doará os 2 mil euros do prêmio à escolinha de futebol para crianças carentes que Afonsinho – que após encerrar a carreira nos gramados trabalhou muitos anos como médico psiquiatra – mantém na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
Conhecido também por seu compromisso político no período da ditadura militar, Afonsinho considera que o futebol pode continuar a ser um bom instrumento para canalizar reivindicações sociais em “um tempo maravilhoso de tecnologia, mas terrível nas relações de trabalho e pessoais” devido ao que classificou como “a desgraça humana do chamado liberalismo”.
“Se alguém tem consciência, é preciso agir como pensa. O futebol tornou-se um dos grandes negócios, mas há necessidades maiores do que ganhar dinheiro. O dinheiro não serve para comprar outros valores como a fraternidade ou a solidariedade”, destacou o ex-meia, que em 1971 se tornou o primeiro jogador a conseguir, após uma árdua briga nos tribunais, o passe livre.
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