“Não adianta achar que posso trazer a Europa para o Brasil”, avisa Milton Mendes

  • Por Jovem Pan
  • 05/08/2016 17h54
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Milton Mendes: único técnico brasileiro com graduação Uefa Pro

Divulgação Milton Mendes

Terno e gravata, vocabulário técnico e intensidade à beira do campo. Milton Mendes, definitivamente, tem um estilo peculiar no futebol brasileiro. Nascido em Criciúma, o catarinense de 51 anos encara o esporte mais passional do planeta como uma ciência, racional e objetiva. Os 22 anos de carreira em Portugal, um dos principais centros de estudo da modalidade no mundo, transformaram o treinador do Santa Cruz em uma exceção no País acostumado a fantasiar tudo o que envolve a “maior paixão nacional”.  

Seria Milton Mendes um pedaço da Europa no Brasil? 

Seja qual for a resposta, a verdade é que o único brasileiro a ter a graduação Uefa Pro – curso que habilita treinadores a dirigirem qualquer clube profissional europeu – não tem a pretensão de trazer a Europa para o Campeonato Brasileiro. O inteligente técnico do Santa Cruz, famoso por adotar modernos métodos de treinamentoentende ser impossível aplicar conceitos do Velho Continente no Brasil sem a compreensão de que os dois universos são para lá de distintos. 

“Quando alguém vem com alguma metodologia que seja um pouco diferente da que tem aqui no Brasil, tem que entender o contexto. Cultura, forma de trabalho, clima… Não adianta eu achar que, por ser formado na escola europeia, posso trazer o trabalho de lá para cá, trazer a Europa para dentro do Brasil… Não consigo. E nem o inverso: levar o Brasil para a Europa“, afirmou Milton Mendes, em entrevista exclusiva a José Manoel de Barros, da Rádio Jovem Pan. 

O importante é que o treinador entenda contexto em que está inserido: qual o objetivo da equipe, o nível dos jogadores, como vai ser o modelo de jogo… Eu não posso chegar com uma filosofia se os jogadores que estão no meu time não se encaixam nela. Tem que tentar fazer o que todos os grandes clubes do mundo estão fazendo: eles têm o seu modelo de jogo e só depois buscam atletas e treinadores que se encaixem nele, complementou. 

No Brasil, este tal modelo de jogo, de acordo com Milton Mendes, existe, por exemplo, no Atlético-PR. Isto significa dizer que o time rubro-negro, no qual Milton trabalhou em 2015, tem bem definido um conjunto de regras e comportamentos que vai seguir em determinadas situações de uma partida. Os jogadores sabem como vão defender, de que maneira vão atacar e quais decisões tomarão em cada momento do jogo. 

No pensamento de Milton, a definição do modelo de jogo tem de partir dos clubes – e não dos treinadores.  “Hoje, os clubes brasileiros ficam muito à espera do treinador. O cara chega e praticamente recebe a chave do clube… Isso tem que mudar. Os clubes têm que ter o seu DNA, sua metodologia de trabalho, o seu modelo de jogo e, aí sim, precisam buscar profissionais, sejam eles jogadores ou treinadores, com o mesmo perfil, afirmou. 

Mesmo estando no Brasil há apenas dois anos – nada perto dos 12 em que atuou como técnico na Europa -, Milton já se considera pronto para fazer a seguinte constatação: hoje, nós estamos muito refém dos resultados. Ele não se surpreende, portanto, com o chocante fato de que ex-são-paulino Edgardo Bauza, que trabalhou em apenas 49 jogos, despediu-se do Brasil como o técnico estrangeiro que mais vezes comandou um clube do País nos últimos dez anos.  

“É muito mais fácil colocar um treinador na frente de um clube para servir de escudo do que desenvolver um modelo de jogo. As pessoas estão mais preocupadas com o momento do que com o projeto. Elas não colocam o farol alto, e sim o baixo. Só olham o que estão perto e não o que estão longe. Não adianta só contratar um treinador estrangeiro e achar que ele vai resolver todos os problemas. Ele precisa ser apenas uma peça de um sistema“, encerrou.

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