Nível viral de águas olímpicas está próximo ao de um esgoto, diz estudo da AP
Os níveis virais de dejetos humanos nas águas onde ocorrerão parte dos eventos olímpicos estão próximos ao observado em um esgoto bruto, contaminação que representa riscos para a saúde dos atletas e das pessoas que entrarem em contato com a água. O estudo elaborado pelo virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale do Brasil, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, foi encomendado pela agência de notícias Associated Press.
No teste viral, não foi encontrado local seguro de água propícia às competições esportivas de natação, velas ou remo. Foram coletadas 37 amostras de alguns pontos da capital fluminense, como a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Praia de Copacabana e a Marina da Glória. A análise concluiu a presença de três tipos de adenovírus humano, de rotavírus, de enterovírus e também de coliformes fecais.
Fernando Spilki disse que os locais analisados foram escolhidos de acordo com os pontos de saída e chegada de provas olímpicas, conforme informado pelo Comitê Organizador Rio 2016. Segundo o professor, outros pontos foram escolhidos para observar a disseminação dos agentes infecciosos para dentro do corpo hídrico do ambiente.
“A conclusão é de uma contaminação fecal muito grande. No Rio, é agravado pelo fato de haver um grande contingente populacional, acumulado num espaço pequeno e com pouquíssimo tratamento de esgoto, inclusive comparado a outras grandes cidades do mundo. Efetivamente, essas águas, seja por ingerir, seja por atividades atléticas ou esportivas, oferecem risco. Isso não quer dizer que as pessoas vão entrar na água e vão ficar doentes.” Ele alertou que é importante que os atletas saibam que existe um “risco inerente” e que devem ser tomadas precauções para evitar o contato com a água.
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter afirmado, em outubro deste ano, que não havia necessidade de serem feitos testes virais rotineiros por causa da falta de métodos padronizados e de dificuldades na interpretação dos resultados, o virologista defende a necessidade de incluir esses marcadores virais pelo risco que eles causam.
O presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio, Alberto Chebabo, concorda com Spilki que a recomendação da OMS não interfere na possibilidade de analisar a presença de vírus na água. “Se eu tenho coliforme fecal, que é o que a gente faz testes, eu vou ter vírus. É mais um marcador, mais um dado. Se tem coliforme fecal é porque tem vírus também. O coliforme fecal é um marcador que define a presença de vírus. Achar o vírus é só ter certeza do que eu já sabia anteriormente.” Ele explicou que a presença desses vírus e bactéria são marcadores de não balneabilidade nas áreas analisadas.
Chebabo afirmou que estes vírus podem causar doenças diarreicas, vômitos e gastroenterite. Para isso, a pessoa precisa ingerir a água contaminada. Quando o contato se dá somente pela pele não há absorção e os riscos caem. “A ingestão dessa água pode ter um risco da pessoa desenvolver uma gastroenterite, principalmente se a pessoa não teve contato anterior com estes vírus e não têm anticorpos contra estes vírus. Se a pessoa já tem anticorpos a chance de desenvolver alguma doença é menor, mas não significa que ele está imune a estas doenças infecciosas.”
Em nota, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que faz há mais de 30 anos testes de balneabilidade e garantiu que as áreas olímpicas da Baía da Guanabara estão dentro dos padrões brasileiros, europeus e americanos para contato primário em Copacabana e secundário na baia. “O Inea segue a orientação da Organização Mundial da Saúde com a qual vem mantendo intercâmbio científico.”
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