Novo ministro do Esporte garante que crise não vai atrapalhar os Jogos do Rio
Novo ministro do Esporte, Ricardo Leyser (PCdoB) assumiu oficialmente o cargo nesta quinta-feira com a missão de evitar que a crise política contamine os Jogos Olímpicos. Sua própria nomeação teve ligação direta com o momento turbulento em Brasília – ele substitui George Hilton, indicado pelo PRB e exonerado do cargo após o rompimento do partido com o governo da presidente Dilma Rousseff.
“Nós achamos que, independentemente das posições políticas das pessoas, do que elas pensem das condições políticas atuais, elas querem um Brasil mais rico, mais justo. Acho que a Olimpíada é um desses momentos em que todos nós nos vemos como brasileiros iguais, sem distinção nenhuma de raça, credo ou ideologia”, afirmou, nesta entrevista exclusiva.
Integrante do ministério desde 2003, quando a pasta foi criada, Leyser ocupava o cargo de secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento. Ele chegou a ser secretário-executivo (espécie de vice-ministro) durante dez meses em 2015, mas acabou retornando à secretaria de Alto Rendimento em uma decisão política nunca explicada.
O novo ministro afirma que pretende manter a linha de trabalho que vinha sendo executada pelo antecessor, mas quer aumentar o foco nas federações e confederações esportivas. “A minha visão mais pessoal é de que nós temos que dar mais peso ou incrementar o esforço para melhorar a gestão das entidades”, diz.
Agência Estado – Como é assumir o Ministério do Esporte a quatro meses dos Jogos Olímpicos?
Ricardo Leyser – O ministério já estava preparado para os Jogos, nós estamos envolvidos há muito tempo com isso. Para mim, mais do que qualquer coisa, é uma honra ter essa responsabilidade às vésperas dos Jogos. A preparação vai muito bem tanto do ponto de vista da infraestrutura da cidade e da estrutura esportiva para os Jogos, quanto das nossas equipes que vão disputar.
AE – Esta semana a Justiça Federal bloqueou o pagamento de quase R$ 130 milhões destinados a obras no Complexo de Deodoro. Isso não preocupa?
RL – A obra de Deodoro está praticamente concluída. Falta uma parte pequena, menos de 10%. Essas discussões de Justiça, questões de auditoria, acontecem ao longo das obras com muita normalidade. Isso precisa ser esclarecido 100% e só será pago aquilo que se achar razoável por todas as partes. Faz parte do processo, não é nada de extraordinário e não tem impacto sobre o cronograma de obras.
AE – O senhor acompanhou o processo olímpico desde o começo, mas o que muda agora como ministro?
RL – Nos Jogos Olímpicos, nada. Mesmo estrategicamente, tanto o ministro George Hilton (exonerado esta semana) manteve uma linha que já existia no ministério, como eu vou manter também. Acho que muda um pouco os olhares pessoais, a abordagem. A minha visão mais pessoal é de que nós temos que dar mais peso ou incrementar o esforço para melhorar a gestão das entidades esportivas e do esporte brasileiro. Os Jogos dão grande visibilidade para o esporte, o que nós não tínhamos antes dos Jogos, e nós temos que aproveitar este momento para consolidar entidades esportivas mais sólidas e ser capaz de criar um novo momento.
AE – Nos bastidores, comenta-se que a interlocução entre o Comitê Rio-2016 e o governo federal não era das mais fáceis. Como o senhor pretende fazer esta interlocução?
RL – Existe essa interlocução antes de existir o próprio comitê, desde a candidatura. Projetos complexos como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos só podem ser entregues se forem um projeto de nação e com o envolvimento e coordenação de todos os envolvidos. A pressão de entregar Jogos com perfeição, seguros, com uma boa imagem do Brasil, só vai acontecer se o governo federal tiver uma excelente relação com o Rio-2016, com Prefeitura, com Estado, com todos os entes, sejam patrocinadores privados ou prefeituras que vão receber a visita da tocha, sejam as confederações que estão preparando os atletas. Todo esse sistema precisa estar funcionando de forma azeitada, perfeita. Nós vimos nascer o comitê, a gente conhece a maior parte das pessoas desde os Jogos Pan-Americanos (de 2007), da Copa do Mundo.
AE – O senhor acha que a crise política atrapalha a preparação olímpica?
RL – Acho que não, e não é questão de otimismo exagerado. O projeto olímpico é um sonho do Brasil pelo qual muita gente brigou. A primeira candidatura do Rio, para 2012, só saiu por apoio do prefeito Cesar Maia (DEM). O governador Geraldo Alckmin (PSDB) junto com a prefeita Marta Suplicy (ex-PT, hoje no PMDB) apresentaram a candidatura de São Paulo para os Jogos, e depois que o Rio foi escolhido passaram a apoiar o Rio. O projeto olímpico é de toda sociedade, do esporte brasileiro. A gente lutou muito para que pudesse fazer parte dessa indústria. É uma indústria que gera muita riqueza para o País, gera muitos empregos, visibilidade. Tem uma repercussão no turismo gigantesca. Os Jogos em si têm o seu valor, mas também tem um significado para a economia, um significado para o papel que o País quer ocupar no mundo. Nós acreditamos na união do País, não acreditamos que a gente possa, por causa de uma crise política, dividir o País, chegar a um grau de irracionalidade tamanho que as pessoas sejam contra um projeto bom para o País. Nós achamos que, independente das posições políticas das pessoas, do que elas pensem das condições políticas atuais, elas querem um Brasil mais rico, mais justo. Acho que a Olimpíada é um desses momentos em que todos nós nos vemos como brasileiros iguais, sem distinção nenhuma de raça, credo ou ideologia.
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