O ano em que Pistorius trocou as pistas pela prisão

  • Por Agência EFE
  • 15/12/2014 19h29
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EFE Oscar Pistorius terá que cumprir 15 anos de prisão por assassinato da namorada

Pela primeira vez nos mais de sete meses de duração de seu julgamento, Oscar Pistorius não deixou o tribunal em um carro de sua família, mas em um furgão que o levou à prisão de Kgosi Mampuru II, na capital da África do Sul, no dia 21 de outubro.

Ele foi considerado culpado por homicídio após matar a tiros sua namorada, a modelo Reeva Steenkamp, em quem atirou através da porta do banheiro de sua casa durante a madrugada de 14 de fevereiro de 2013.

Pistorius atirou acreditando que se tratava de um ladrão e sem a intenção de matar, segundo aceitou a juíza Thokozile Masipa em um controverso caso, no qual foi descartado o crime de assassinato pedido pela promotoria.

Antes de a juíza dar o julgamento por terminado, o mesmo policial que muitas manhãs cumprimentou Pistorius na sala, se aproximou para escoltá-lo pelas escadas rumo ao calabouço.

Seus parentes pareciam preparados para este desfecho, e com gesto contido, estenderam a mão enquanto Pistorius descia com uma expressão diferente rumo ao porão dos tribunais.

Talvez, naquele momento, Pistorius tenha começado a contar os dias para voltar para casa, já que pode sair em liberdade condicional após cumprir dez meses, um sexto da pena, se as autoridades penitenciárias o considerarem um presidiário modelo.

Essa possibilidade é um dos argumentos da apelação apresentada pela promotoria, que não conseguiu provar que Pistorius cometeu um assassinato premeditado.

O recurso classifica a sentença de “surpreendentemente inadequada”, e enfatiza que o atleta disparou “não uma, mas quatro vezes” na direção de um cubículo do qual “não havia escapatória”.

À espera de conhecer o resultado da apelação, e apesar de não ter evitado a prisão como pretendia, o veredicto de Masipa limpa de certo modo o nome de Pistorius ao absolvê-lo de assassinato e estabelecer que ele não disparou em sua namorada com intenção de matá-la.

“Nos liberta de uma grande carga”, disse o porta-voz familiar e tio do velocista, Arnold Pistorius, que acrescentou que seus amigos e parentes nunca duvidaram da versão de seu sobrinho.

No entanto, a sentença pode ter posto um fim à carreira do atleta, que aos 27 anos desejava outras grandes conquistas como a conquistada em Londres 2012: ser o primeiro atleta com as duas pernas amputadas a competir junto com velocistas que não são deficientes.

O processo judicial – um dos mais midiáticos da história e um dos poucos televisionados do princípio ao fim – serviu também para revelar ao mundo, com um grau de detalhe clínico, a vida privada de um ícone internacional do esporte e uma referência moral.

Embora quase todas as provas apresentadas pelo promotor e a defensoria (mensagens telefônicas, testemunhos de amigos e psicólogos) tenham sido descartadas pela juíza, elas retratam um jovem amável e de temperamento explosivo ao mesmo tempo, além de inseguro, arrogante, sedutor, generoso e egoísta.

Por trás da face da criança amputada aos 11 meses por um problema genético, que não conhece limites e se transforma em um velocista de elite, emergem as dúvidas, temores e angústias de todas as pessoas, acentuadas talvez pela incapacidade e a auto-exigência.

O julgamento também sobre a obsessão pela segurança e o medo extraordinário do crime com que vivem Pistorius e a sociedade sul-africana, em que não são inverossímeis erros fatais como o que o atleta alega ter cometido.

Além disso, o caso expôs o funcionamento do sistema judiciário sul-africano, com seus problemas, limitações e grandes estrelas como o promotor Gerrie Nel e o advogado defensor Barry Roux, que se transformaram em verdadeiros fenômenos midiáticos.

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