“O que ela está passando é seguramente pior”, diz psicólogo sobre torcedora

  • Por Carlos Aros e Thiago Uberreich
  • 04/09/2014 18h27
PORTO ALEGRE,RS,04.09.2014:CASO-ARANHA - Flagrada gritando a palavra macaco para o goleiro Aranha na partida Grêmio x Santos, a torcedora Patricia Moreira chega à 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre (RS), para prestar depoimento na manhã desta quinta-feira (4). O esquema especial de segurança, com viaturas a policiais do GOE, foi montado para proteger a integridade física da torcedora, que sofreu ameaças após o episódio na Arena. (Foto: André Antunes/Futura Press/Folhapress) Folhapress Gremista chega à delegacia debaixo de protestos

A torcedora do Grêmio, Patrícia Moreira, deu explicações sobre ter chamado de “macaco” o goleiro Aranha, na última semana, no jogo entre o seu time e o Santos, que acabou com 2 a 0 para os paulistas. A jovem foi xingada e precisou de proteção para não ser agredida a caminho da delegacia, mostrando que sua vida daqui em diante não será fácil, após toda a repercussão nacional.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Cristiano Nabuco, pós-doutor pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, comentou que o que a garota está passando é muito pior do que o goleiro sofreu após o fim da partida na Arena Grêmio.

“O que ela está passando é seguramente pior. A medida que você tem a internet que conecta as pessoas, você tem a perspectiva de ser observado por centena de milhares de pessoas, com velocidades que só aumentam. Se a gente tem no episódio do jogo que dura 10 segundos, aquilo cessa. Na internet não, fica reverberando e arregimentando para que tenham a mesma visão ou uma visão contrária, fazendo com que possivelmente o nível de retaliação que ela venha sofrer agora e no futuro seja infinitamente maior”, explicou.

Para o doutor, o fato de Patrícia ter afirmado que apenas “entrou na onda” da torcida que já gritava a palavra depreciativa comprova a tese de que a atitude de pessoas pacíficas muitas vezes são regidas pelo grupo no qual está inserido do que pelo indivíduo em si.

“O que nós observamos é que vários dos comportamentos que nós testemunhamos dentro de um desenho mais coletivo muitas vezes são regidos pelo grupo do que propriamente pelo individuo. Vamos nos recordar da época das passeatas, não era raro observar pessoas de família, com valores de cidadania e eram vistas dentro do movimento jogando pedras, isso tem um componente biológico muito forte. A força do grupo modela o nosso comportamento”, finalizou.

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