O técnico que vale por um time: como Simeone levou e mantém o Atlético na elite

  • Por Jovem Pan
  • 13/04/2016 22h51
EFE Diego Simeone jogou no Atlético e se tornou treinador no fim de 2011; o resto é uma bela história

Quando treinava o Palmeiras, em 2009, Muricy Ramalho criticou o excesso de importância que é dado aos técnicos no futebol. Segundo ele, sua influência nos resultados das equipes é de 25% – mesmo que “25% muito importantes”. Sete anos depois, um treinador desafia a análise de Muricy. Para aqueles que acompanham o Atlético de Madrid, especialmente seus torcedores, o papel de Diego Simeone como treinador não pode ser resumido a uma porcentagem. Graças a ele, o clube voltou a ter um protagonismo que há muito tempo não tinha.

Não que o Atlético de Madrid fosse um clube pequeno antes da chegada de “Cholo”. Ele sempre foi um time importante na Espanha, concorrendo com Valencia, Sevilla e Athletic Bilbao pelo posto de terceira força do futebol do país. Só que foi com o treinador argentino que os colchoneros passaram a brigar de igual para igual com as principais equipes locais e mundiais.

Na verdade, quem comandou a conquista de um título importante do Atlético após quase 15 anos foi o espanhol Quique Flores. Diante do Fulham, a equipe levou a Liga Europa da temporada 2009-2010 e a Supercopa da UEFA contra a Inter de Milão. O sucesso fez os gigantes da Europa cobiçarem os jogadores responsáveis pela conquista, e, ao final da temporada, Sergio Agüero, Diego Forlán e David De Gea foram.

A perda dos astros fez com que o desempenho caísse e Quique Flores fosse demitido. Para seu lugar, foi contratado Diego Simeone, ex-jogador do clube, no qual foi campeão espanhol e da Copa do Rei em 1995-1996. Apesar de jovem, o ex-volante chegava com alguma experiência na nova profissão, tendo treinado Racing, River Plate, Estudiantes e San Lorenzo, na Argentina, e Catania, na Itália.

Brigando entre gigantes

O estilo de jogo praticado pelo Atlético de Simeone não é o mais vistoso. Aguerridos, disciplinados, concentrados ao máximo, seus times não costumam dar show – pelo menos para aqueles que apreciam o futebol ofensivo. Para os que conseguem ver beleza na aplicação perfeita das qualidades descritas acima, o Atlético faz arte. E, além disso, conquista troféus.

Mesmo assumindo o comando dos colchoneros no meio da temporada, Simeone já mostrou a que vinha. Depois de passar por adversários como Lazio e Besiktas, conquistou a Liga Europa 2011-2012. Ao enfrentar o Chelsea, vencedor da Liga dos Campeões, na Supercopa da UEFA, uma goleada por 4 a 1 surpreendeu o mundo. Mas ainda era só o começo. Em 2012-2013, foi a vez de vencer a Copa do Rei da Espanha contra o Real Madrid, com direito a gol de Miranda na prorrogação.

Os maiores feitos de Simeone aconteceram em 2013-2014. Naquela temporada, o Atlético mostrou que não era apenas um time de mata-mata e superou Barcelona e Real Madrid com três pontos de vantagem para vencer o Campeonato Espanhol depois de 18 anos. No mesmo ano, passou por cima de Milan, Barcelona e Chelsea para chegar à final da Liga dos Campeões contra o grande rival de Madri. Apesar dos 4 a 1 para os merengues, o Atlético levava o caneco até os acréscimos, quando Sergio Ramos empatou o jogo em 1 a 1. Na prorrogação, Bale, Marcelo e Cristiano Ronaldo acabaram com o sonho do título inédito.

A arte de recomeçar – e recomeçar de novo, e de novo…

O Atlético de Madrid não é um clube rico como seus rivais da elite europeia. Para se manter, precisa vender os jogadores que se valorizam – melhor ainda se esses jogadores chegam jovens e por custo baixo. As vendas não pararam no trio De Gea, Agüero e Forlán. Nos anos seguintes, destaques como Diego Costa, Miranda, Filipe Luís, Falcao García, Courtois e Arda Turan também saíram.

A Simeone restava tentar manter ao máximo uma base de atletas e repor da melhor maneira possível as perdas sem fazer com que a equipe perdesse sua identidade. E o sucesso nessa tarefa explica bastante os resultados que tem obtido através dos anos. A bola da vez, por exemplo, é o francês Antoine Griezmann, um atacante veloz que, no Atlético, passou a ser goleador e hoje é o principal destaque. Não à toa foi o autor dos dois gols da vitória sobre o Barcelona que garantiu a vaga na semifinal da atual Liga dos Campeões.

Na defesa, o técnico argentino perdeu, em 2015, o zagueiro Miranda, que formou por anos uma dupla quase intransponível com o uruguaio Diego Godín. Para substituir o brasileiro, Simeone apostou em outro uruguaio, o jovem José Giménez. Tudo funciona tão bem que os dois compatriotas formam uma das melhores zagas da atualidade, tanto no Atlético quanto na seleção de seu país.

É bastante possível que, em breve, Griezmann, Koke e Giménez sejam comprados pelos clubes mais ricos da Europa. Diego Simeone, que tem contrato até 2020, terá, então, de recomeçar seu trabalho e remontar o Atlético de Madrid para buscar novas conquistas. Diante de tudo que o argentino tem conquistado, dá para duvidar que conseguirá de novo?

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