Analistas trabalham nos bastidores e revolucionam tênis, basquete e vôlei
Analistas de estatísticas estão causando uma verdeira revolução nos esportes. Especialistas em tênis, basquete e vôlei avaliam diversos dados e trabalham nos bastidores, causando mudanças significativas nos times e atletas.
Australiano, Craig O’Shannessy é formado em jornalismo, mas atuou como treinador de tênis por 20 anos, trabalhando com atletas como o sul-africano Kevin Anderson, atual vice-campeão de Wimbledon. Intitulado analista de estratégia, presta serviços ao Aberto da Austrália e ao Grand Slam britânico.
No entanto, seu maior feito é mudar o estilo de jogo de Novak Djokovic. Contratado pelo sérvio em 2017, ele foi um dos responsáveis por levar o tenista ao topo do ranking novamente. Seu maior “insight” foi perceber que, segundo os seus próprios números, tenistas que vencem o maior número de pontos curtos em uma partida acabam faturando a vitória em 85% dos casos.
“Não faz sentido ficar treinando pontos longos porque, na verdade, eles representam apenas 10% dos pontos disputados em uma partida”, explica. De acordo com sua análise, foi isso que fez a diferença para Djokovic na conquista do Aberto da Austrália deste ano. “Os dados vão criar uma mudança de paradigma e este novo aprendizado influenciará fortemente os treinos”, aposta.
A análise de dados também tem ajudado o Houston Rockets, na NBA, graças ao trabalho do gerente-geral, o norte-americano Daryl Morey, um engenheiro da computação com um MBA no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Nos Rockets desde 2007, ele foi o criador do “true shooting percentage” (porcentagem de chute verdadeiro). O sistema mostrou que arremessos de três pontos, apesar de terem um aproveitamento menor que os de dois, são mais efetivos se tentados em maior quantidade. Assim, a NBA passou por uma grande revolução. Até mesmo o lugar “perfeito” para a execução da jogada existe: o canto da quadra, onde a linha dos três pontos está mais perto da cesta.
Em 2012, James Harden foi contratado justamente para atender as necessidades apontadas pelos dados. A aposta deu certo. Ele registra médias de 35,9 pontos por jogo e corre atrás de seu segundo prêmio de melhor jogador da liga. Como efeito de comparação, a melhor temporada de Michel Jordan teve exatos 35 pontos de média.
Como resultado das apostas de Morey, os Rockets foram na última temporada a primeira equipe na história da NBA a terminar os 82 jogos da temporada regular tentando mais chutes de três (3.470) do que de dois pontos (3.436). No último domingo, os Rockets converteram 27 cestas de três contra o Phoenix Suns e estabeleceram novo recorde na NBA. A marca anterior era do próprio Houston, que tinha convertido 26 duas vezes na atual temporada.
Vôlei
No esporte no qual o Brasil é referência, a presença do chamado “Big Data” se faz presente desde o início da década de 1980. Henrique Modenesi, analista de desempenho da seleção brasileira masculina, usa os dados em treinos, análises pré-jogo, durante as partidas e no pós-jogo. E aponta o saque como o grande beneficiado pelo trabalho com os dados.
“De uns dez anos para a cá o saque evoluiu muito, tanto o ‘viagem’ como o ‘flutuante’. Existem trabalhos específicos que usam análise de dados para entender o efeito na recepção, a velocidade e a frequência que os jogadores devem sacar, o ritmo. Se é para colocar a bola em jogo ou forçar”, disse o especialista. Para garantir a precisão dos números, as equipes chegam até a usar radares de velocidade durante os treinamentos
Atuando desde 2009 na área, ele explica que software mais difundido no vôlei atualmente é o “Data Volley”, criado na Itália, mas algumas comissões optam por desenvolver sistemas próprios. Foi isso que aconteceu na troca alguns membros da seleção brasileiro na saída de Bernardinho, em 2017.
Com Estadão Conteúdo
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