Bolt evita eleger “sucessor” antes de adeus, mas exalta velocista sul-africano
Após se tornar o maior nome do atletismo e um dos maiores do esporte ao fazer história com inúmeros títulos mundiais e olímpicos, além de estabelecer os recordes do planeta dos 100 e dos 200 metros, Usain Bolt está prestes a dar adeus às pistas. O primeiro capítulo desta despedida virá nesta sexta-feira (3), quando o jamaicano participará das eliminatórias da prova mais rápida da modalidade no dia inicial de disputas do Mundial de Atletismo de Londres.
De volta à cidade onde conquistou três ouros olímpicos nos Jogos de 2012, o astro sabe também que está deixando um legado de glórias para todos os competidores, entre eles os muitos que deixou para trás em quase todas as competições que disputou. O domínio que impôs aos rivais foi tamanho que faz com que o velocista admita que hoje não é capaz de eleger um possível “sucessor” que poderia passar a dominar o cenário das provas em que se consagrou ou que poderia se tornar o novo principal nome em atividade na modalidade.
Ao ser pressionado pelos insistentes jornalistas nesta semana sobre quem poderia herdar o seu trono de “rei do atletismo”, porém, Bolt apontou o sul-africano Wayde van Niekerk como um competidor que ao menos ele vê como dono de um grande desejo de assumir a condição de maior protagonista nas pistas. Essa condição estará em jogo após a muito próxima aposentadoria do homem mais rápido do mundo, que começará logo depois do fim de sua participação neste Mundial de Londres.
“Uma pessoa que eu sei que vai se aproximar e está indo muito bem é Van Niekerk, que está realmente mostrando que quer muito assumir o meu lugar”, afirmou Bolt ao falar sobre o atleta que conquistou a medalha de ouro da prova dos 400 metros nos Jogos Olímpicos do Rio, no ano passado, quando ainda quebrou o recorde mundial da distância.
O velocista sul-africano chegou à capital inglesa com uma série de outras credenciais que o colocam como sério candidato a se tornar um dos maiores nomes deste Mundial. Além de ser o detentor do recorde do planeta nos 400 metros, possui o melhor tempo da história dos 300m, prova não olímpica que raramente é realizada, e é o dono da segunda marca mais rápida do ano nos 200m e a sexta dos 100m, que foi de 9s94, superior aos 9s95 que garantiram o ouro ao Bolt nesta disputa na etapa de Mônaco da Diamond League, última competição de preparação do jamaicano para o evento maior desta temporada.
Van Niekerk não estará presente na corrida por medalhas nos 100m deste Mundial, mas correrá os 200m e os 400m. E a ausência de Bolt nos 200m, após o astro optar por disputar apenas a prova mais veloz do atletismo e o revezamento 4x100m com a equipe jamaicana em seu adeus às pistas, aumentou de forma expressiva a chance de o sul-africano se consagrar com dois ouros nas duas disputas em que competirá.
O sul-africano de 25 anos de idade, porém, admite que não tem uma característica que sobra a Bolt e o ajudaria a ser visto como um novo astro do atletismo: o carisma. “Eu acho extremamente difícil chegar perto sequer um pouco do que Usain representa de várias maneiras também por todo o seu carisma”, afirmou o sul-africano, para depois enfatizar que o jamaicano “colocou a barra muito alta” ao atingir um nível de popularidade que parece impossível de ser igualado por qualquer outro atleta desta modalidade.
Mas, se por um lado não é cativante para o público, por outro Van Niekerk vem mostrando que pode ser capaz de atingir grandes feitos nas pistas, como foi a própria quebra do recorde mundial dos 400m, que pertencia ao lendário ex-velocista norte-americano Michael Johnson desde 1999 e parecia inatingível. Naquela ocasião, nos Jogos do Rio, ninguém apostava no sul-africano, mas ele disparou em um dos maiores sprints da história olímpica para não dar chances aos seus concorrentes e ainda estabelecer a nova marca do mundo na distância, de 43s03.
O recorde mundial dos 200 metros que Bolt conquistou, de 19s19, também é visto como praticamente inatingível, mas Van Niekerk acredita que é possível superá-lo. “Há um bom tempo eu deixei de crer que não há nada imbatível”, ressaltou.
O status do sul-africano neste Mundial de Londres também aumentou por causa de ausências de peso confirmadas às vésperas da competição, como por exemplo a do britânico David Rudisha, que foi medalhista de ouro dos 800 metros nos Jogos de 2012, quando também quebrou o recorde mundial da distância. Ele não poderá voltar a competir em casa aos olhos dos seus fãs por causa de uma lesão muscular.
Existia a expectativa também de que o canadense Andre De Grasse se tornasse o primeiro ganhador da prova dos 200 metros do Mundial após nove anos de reinado de Bolt na distância, mas na última quarta-feira o velocista anunciou a sua desistência da competição por motivo de lesão.
Aos 30 anos, Bolt disse que a sua própria idade conspirou para que ele não pudesse construir uma rivalidade nas pistas com Van Niekerk, o que o astro lamentou. “Isso é uma das coisas mais decepcionantes: que ele apareceu tão tarde que não pude ter a oportunidade de competir contra ele”, admitiu o homem mais rápido do mundo, que nesta sexta-feira irá para a pista nas eliminatórias dos 100m às 16h20 (de Brasília), quando correrá pra confirmar vaga nas semifinais de sábado, quando também ocorrerá a grande final da prova em Londres.
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