COI admite que denunciante de compra de votos pelo Rio 2016 o procurou em 2012

  • Por Estadão Conteúdo
  • 07/09/2017 12h01
Severino Silva / Agência O Dia / Estadão Conteúdo Carlos Arthur Nuzman prestou depoimento na sede da Polícia Federal na última terça-feira (5)

O Comitê Olímpico Internacional (COI) justificou que é “prematuro” falar sobre o futuro de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e escolhido pela entidade como um dos membros do Comitê de Coordenação dos Jogos de 2020, em Tóquio. Mas confirmou que, em 2012, foi contactada pela principal testemunha no caso que envolve a compra de votos pelo Rio para sediar os Jogos de 2016. Segundo o COI, porém, o assunto teria sido “um problema entre a Federação de Desportos no Gelo e o COB”. A sugestão do COI foi de que o tema fosse tratado diretamente com o COB.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou nesta quinta-feira (7) que a suspeita de compra de votos pelo Rio para sediar os Jogos de 2016 foi repassada ao COI antes do evento ocorrer no País. Mas a entidade olímpica não teria reagido e, em abril de 2017, chegou a distribuir três cargos para ex-diretores do Comitê Rio 2016, inclusive para Nuzman.

Questionada pelo jornal se o COI tomaria alguma medida em relação ao COB, se estaria considerando uma intervenção ou se Nuzman perderia seu cargo internacional, a entidade em Lausanne se limitou a dizer que seria “prematuro comentar neste momento”.

No dia da operação no Rio, a entidade rapidamente tentou se distanciar da crise, indicando que ele teria “maior interesse” em “esclarecimentos” e pediu que os investigadores o informassem de qualquer assunto relacionado ao movimento olímpico. A entidade ainda insistiu que proteger a integridade do processo de escolha de sedes é de seu maior interesse e que um dos focos do processo, Lamine Diack, já havia sido excluído do COI em 2015. O processo, naquele momento, se referia a seu papel no doping de atletas.

Mas a informação de uma suspeita sobre o COB, segundo apurado pelo O Estado de S. Paulo, chegou ao COI de pelo menos duas formas. A primeira delas ocorreu por meio da procuradoria francesa que, no início de 2016, já havia aberto inquérito sobre a situação do Rio e de Tóquio, sede dos Jogos de 2020. Naquele momento, advogados do COI procuraram as autoridades em Paris. Representantes do Comitê de Ética da entidade também teriam procurado os investigadores naquele momento.

A informação também foi repassada pelo ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Eric Walther Maleson. Sem uma reação satisfatória, a testemunha teria optado por prestar depoimento de forma voluntária ao Ministério Público da França, antes mesmo do início dos Jogos de 2016 no Brasil.

Procuradores europeus envolvidos no caso indicaram à reportagem que o comportamento do COI foi considerado como “estranho” por parte dos investigadores. O COI confirmou que Maleson o procurou em 2012. Mas indicou que isso teria ocorrido no período de eleições e que estava relatando “um problema entre a Federação de Desportos no Gelo e o COB”. “Naquele momento, o COI pediu a Maleson que entrasse em contato diretamente com o COB para resolver qualquer potencial disputa”, explicou a entidade, por meio de um e-mail.

O COI ainda afirmou que “não tem a capacidade de realizar investigações criminais”. “Portanto, se alguém trouxer à nossa atenção supostas atividades criminais, ele ou ela serão aconselhados a entrar em contato com as autoridades relevantes”, explicou.

O presidente do COI, Thomas Bach, ao invés de tomar providências ou abrir um processo interno diante da existência de uma investigação, optou por premiar Nuzman, o escolhendo para fazer parte do Comitê de Coordenação dos Jogos de 2020, em Tóquio. Outros dois ex-diretores brasileiros também ganharam cargos em outros comitês do COI.

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