“Eles estavam atordoados”: há 30 anos, Brasil dava aula aos EUA no basquete

  • Por Jovem Pan
  • 23/08/2017 08h00
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Divulgação Seleção Brasileira masculina de basquete venceu os EUA por 120 a 115 na final dos Jogos Pan-Americanos de 1987, em Indianápolis

“Quando eu me lembro daquele jogo, a primeira imagem que me vem à mente é a cara de desespero dos americanos, de jogadores a membros da comissão técnica, por não terem uma resposta ao que estava acontecendo dentro de quadra. Eles estavam atordoados, não sabiam o que fazer…”.

A declaração é de João Vianna, o Pipoka, reserva da Seleção Brasileira que, há exatos 30 anos, desafiava o impossível e derrubava a seleção norte-americana masculina de basquete dentro dos Estados Unidos.

A vitória mais impressionante da história do esporte brasileiro completa três décadas nesta quarta-feira, 23 de agosto de 2017.

O triunfo por 120 a 115 na final dos Jogos Pan-Americanos de 1987 foi um marco. Oscar, Marcel e companhia calaram as 16 mil pessoas que lotaram a Market Square Arena, em Indianápolis, e escreveram um dos mais surpreendentes capítulos da história do esporte mundial.

“A cada vez que eu assisto àquele jogo, é uma emoção diferente. Mesmo sabendo o resultado, rola uma ansiedade, uma mão gelada, um frio na barriga”, relata Pipoka, em entrevista exclusiva a Fredy Junior, para a Rádio Jovem Pan. “Aquela vitória quebrou um paradigma no basquetebol mundial”.

E ele tem razão.

Aquela foi a primeira derrota da seleção masculina de basquete dos EUA dentro de casa. Foi, também, a primeira derrota dos norte-americanos em finais e a primeira vez que os inventores do basquete levaram mais de 100 pontos em um mesmo jogo dentro de seu território.

O time comandado pelo técnico Denny Crum era formado apenas por jogadores universitários, é verdade – a única estrela era o pivô David Robinson, futuro integrante do Dream Team de 1992. Mesmo assim, no entanto, não se imaginava outro resultado que não uma vitória tranquila dos donos da casa – que chegavam à final do Pan com um saldo positivo de 25 pontos por jogo no torneio.

O favoritismo era enorme. Saltava às vistas. Mas, naquele 23 de agosto de 1987, jogou a favor do Brasil.

“Na minha visão, foi mais difícil jogar contra o México, na semifinal, do que contra os EUA, na final. Contra os EUA, nós éramos franco-atiradores. Entramos sem nenhum peso nas costas. Àquela altura, já havíamos cumprido a nossa missão”, explica Pipoka. “Além disso, o México tinha um modelo de jogo mais parecido com o nosso, o que dificultava a nossa vida”.

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O tal “modelo de jogo” brasileiro era uma novidade na época. Em 1987, poucas seleções chutavam tanto de longa distância quanto o Brasil de Oscar e Marcel. A linha de três pontos, afinal, havia sido adicionada às quadras de basquete há pouco tempo, apenas em 1982. A arma era pouco explorada até mesmo pelos norte-americanos – hoje especialistas nesse tipo de disparo.

“Os chutes de três fizeram toda a diferença na final. Aquele Brasil foi uma espécie de vanguarda do basquetebol. Nós arremessamos quase 30 bolas de três naquele jogo, enquanto os times da NBA chutavam, em média, cinco bolas de três por jogo. Hoje, a média de arremessos de três pontos deles é quase igual à daquele Brasil. São sempre mais de 20 arremessos por partida”, argumenta Pipoka.

Depois de um primeiro tempo morno – que terminara com triunfo parcial dos EUA por 68 a 54 –, Oscar e Marcel calibraram a mão e fizeram chover bolas de três na metade final do confronto. Foram 13 arremessos longos convertidos pelo Brasil no jogo, contra apenas dois dos EUA.

Oscar e Marcel somaram para surreais 77 pontos durante o jogo (46 de Oscar e 31 de Marcel) e deram a vitória ao Brasil após uma incrível parcial de 66 a 47 na segunda etapa – a dupla foi responsável por 55 dos últimos 66 pontos brasileiros na partida.

“No primeiro tempo, eu e o Israel tínhamos a missão de segurar um pouco mais o jogo, tirar o ímpeto da seleção americana. Já no segundo, nós fomos apenas um suporte para o Oscar e para o Marcel. Éramos os escudeiros dos dois”, relembra o pivô Gérson, também em entrevista exclusiva a Fredy Junior, para a Rádio Jovem Pan.

“O nosso grupo era muito inteligente. Nós aceitávamos a condição de o Oscar ser um dos melhores jogadores do mundo na época. Então, todo mundo dava um pouquinho a mais de si na defesa para deixá-lo com liberdade para atacar. Se ele estivesse muito marcado, o Marcel era a válvula de escape”, acrescenta Pipoka.

A tática deu certo. Tanto que nem trinta anos foram suficientes para apagar “a cara de desespero” dos americanos da memória dos brasileiros.

Foi uma vitória histórica.

Que deixou uma doce lembrança.

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