Foco na experiência garantiu sucesso do Brasil no Mundial de Judô, avalia Aurélio Miguel

  • Por Cléberson Santos/Jovem Pan
  • 07/09/2017 08h13
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Divulgação / CBJ Equipe brasileira conquistou a medalha de prata na inédita prova de equipes mistas no Mundial

O Brasil alcançou no último final de semana o seu melhor desempenho na história do Mundial de Judô. A delegação formada por 21 atletas (18 para as provas individuais e três para a inédita prova de equipes mistas) voltou de Budapeste, da Hungria, com um ouro, duas pratas e dois bronzes. A organização do evento, que não somou a prata na prova por equipes, colocou o Brasil no quarto lugar do quadro de medalhas.

O resultado é superior ao alcançado nos Jogos do Rio de Janeiro, quando o Brasil terminou com três medalhas. Para o ex-judoca Aurélio Miguel, primeiro campeão olímpico do judô brasileiro em Seul 1988, a estratégia traçada pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ) em valorizar as provas em que o País apresentava melhores resultados foi primordial para o sucesso no Mundial.

“Cada ano que passa o Brasil vem crescendo. Eu acho que o Brasil está passando por uma transição. Por exemplo, na categoria peso médio nós não levamos nenhum atleta para competir. A Confederação preferiu investir nos dois atletas da categoria ligeiro e dois pesados, que acabaram tendo um resultado positivo, tanto o Baby (Rafael Silva) quanto o David (Moura). Eles entenderam que ainda não há um atleta no peso médio, que é uma categoria que precisa de renovação e preferiram apostar nos pesos que já são consagrados. Foi uma programação adequada”, analisou Aurélio em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

EFE

Na avaliação do gestor de auto-rendimento da CBJ, Ney Wilson, o desempenho alcançado em Budapeste dá confiança aos atletas na caminhada até os Jogos de 2020: “começar o primeiro Campeonato Mundial pós-Olimpíadas com esse resultado só dá mais motivação, não só para a comissão técnica, mas principalmente aumenta a autoconfiança dos nossos atletas. Isso é fundamental para esse início de ciclo olímpico, para que a gente possa construir nesses próximos três anos um trabalho que permita que a gente consiga um resultado semelhante em Tóquio”, afirmou Ney.

Presentes em Budapeste, os três medalhistas olímpicos de 2016 apresentaram resultados equilibrados. Ouro no Rio, Rafaela Silva não medalhou no Mundial. Mayra Aguiar se tornou a primeira bicampeã mundial de judô do Brasil no Mundial e teve um desempenho melhor que o bronze no Rio. Já Rafael Silva repetiu o bronze.

Na opinião de Aurélio, ainda é muito cedo para apontar mudanças, tanto positivas quanto negativas no judô após os Jogos do Rio, de um ano para o outro. Porém, ele ressalta que a estrutura oferecida aos atletas é muito melhor que a conhecida por ele mesmo há mais de duas décadas.

“Muito cedo para falar em mudanças, praticamente um ano dos Jogos. Não tem muito o que mudar. Da minha época mudou muito, eu queria estar competindo agora, com a estrutura e o incentivo que eles têm. Nós não tínhamos nem médico para competir lá fora, tinha que pegar emprestado dos cubanos e de outros países para poder resolver qualquer problema. Hoje não, hoje tem estrutura. Hoje eu acho que o judô brasileiro é consagrado”, afirmou o ex-judoca.

A experiência e o futuro

Uma característica em comum entre três dos quatro medalhistas brasileiros é a idade. Erika Miranda, David Moura e Rafael Silva chegaram ao pódio nesta edição do Mundial aos 30 anos. Caso mantenham o nível de competitividade, brigarão pelas medalhas olímpicas de Tóquio com 33 anos de idade. Para Aurélio Miguel, que conquistou a prata no Mundial de 1997 também aos 33 anos, o peso da idade não deve ser uma influência no desempenho dos judocas em 2020.

“Depende muito da preparação deles, eles se preservarem, focarem nisso. Não tem segredo, no esporte você tem que ter talento, tem que se aprimorar o tempo inteiro e tem que treinar muito. Logicamente que, com a experiência de 30 anos, você não pode cometer erros que cometeu no passado. Mas eu acho que eles podem chegar muito bem nos Jogos Olímpicos”, afirma.

Quanto aos novos atletas, o Brasil contou com quatro judocas estreantes neste Mundial: Stefannie Koyama, Samanta Soares, Phelipe Pelim e Eduardo Yudi. Aurélio fez questão de ressaltar que a renovação do judô brasileiro “não será feita de um dia para o outro”, mas que resultados como o deste Mundial têm como principal legado o fator educacional, essencial para o futuro da modalidade.

“A renovação acontece naturalmente, se aparecerem atletas que realmente conseguem se superar e mostrar o seu potencial e se consolidar, eu acho que eles vão estar na Seleção. Isso é consequência dos trabalhos, tem que ter paciência. Não vou comprar pastel de ouro, de prata, de bronze, leva tempo. Eu acho que a confederação está no caminho certo. O grande trunfo do judô é essa parte educacional. A partir daí, com um grande número de atletas praticando a modalidade, você vai ter atletas que vão despontar para disputar os Mundiais e Jogos Olímpicos e manter essa continuidade de bons resultados para o Brasil”, declarou Aurélio.

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