Ginasta acusa federação em casos de abuso sexual: “disseram para ficar quieta”

  • Por Estadão Conteúdo
  • 17/01/2018 12h37
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Reprodução / Instagram ALy Raisman conquistou três medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio

Em meio à audiência do caso dos abusos sexuais na ginástica dos Estados Unidos, uma das atletas fez grave acusação contra a Federação de Ginástica do país. Aly Raisman, dona de seis medalhas olímpicas, afirmou nesta quarta-feira (17) que membros da entidade pediram a ela para ficar quieta após ter sofrido abusos do médico Larry Nassar, que já admitiu ter cometido crimes sexuais contra as atletas e foi condenado em dezembro a 60 anos de prisão.

“Me disseram para eu ficar quieta”, disse Raisman, em entrevista ao canal ESPN dos Estados Unidos. “Acho que, quando alguém em um cargo importante te diz para ficar quieta, logo depois de você sofrer um abuso, isso é uma ameaça, principalmente quando a primeira preocupação deles deveria ser garantir que eu estou bem, buscar informações comigo para ver se outras atletas também estão sendo abusadas”, criticou a atleta.

Raisman foi uma das primeiras ginastas da seleção dos Estados Unidos a denunciar os casos de abusos sexuais cometidos pelo médico Larry Nassar. Ele atacou as atletas quando era o médico da equipe norte-americana, atuando também na Universidade Estadual de Michigan. Nesta semana, ele está sendo alvo de audiência judicial em que quase 100 mulheres estão dando seus testemunhos sobre os supostos casos de crime sexual.

Nassar, que passou mais de duas décadas como médico da equipe de ginástica dos EUA, admitiu ter abusado sexualmente das ginastas, possuir pornografia infantil, além de ter molestado as meninas que buscavam tratamento médico. Ele foi condenado em dezembro a 60 anos em prisão federal por possuir pornografia infantil e enfrenta acusações de mais 40 a 125 anos de prisão depois de se declarar culpado de abusar de sete meninas.

Para Raisman, o que também surpreende no caso foi a duração de Nassar no cargo. “A federação disse apenas que ‘estamos cuidando isso. Estamos por dentro do caso’, como se nos dissesse para pararmos de fazer perguntas. ‘Não fale sobre isso porque você pode prejudicar a investigação’. Eu não queria comprometer nada”, declarou a ginasta.

“No momento em que percebi [que estava sendo abusada], eu contei para a minha mãe e nós contamos à federação. E, para mim, pareceu que eles estavam me ameaçando ao me falar para ficar quieta. A maior prioridade deles desde o começo e até hoje é a reputação deles, as medalhas que conquistam e o dinheiro que conseguem fazer em cima da gente. Eu não acho que eles ligam [para os casos de abusos]. Se eles ligassem, no momento em que soubessem dos casos, eles teriam agido, perguntado sobre se precisaríamos de terapia, se estávamos bem”, declarou.

“Ao contrário, eles permitiram a Larry que continuasse a trabalhar com garotas em Michigan e que pudesse molestar as ginastas por um longo período. Eu não sei como eles conseguem dormir à noite. Estou tão irritada. Depois de eles descobrirem os abusos, deixaram que continuasse a molestar outras ginastas”, reiterou a dona de três medalhas de ouro em Olimpíadas, uma delas conquistada nos Jogos do Rio-2016.

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