Não só dom! Como CR7, bicampeão Medina é exemplo de foco e dedicação: ‘É uma máquina’
“Foi algo histórico. Nunca antes na história desse País a gente viu um cara com tamanha força de vontade e foco para conquistar um título mundial”.
A declaração de Allan Menache, preparador físico de Gabriel Medina, diz muito sobre o primeiro brasileiro bicampeão mundial de surfe. Extremamente talentoso, mas igualmente dedicado, o paulista de Maresias é a personificação daquilo que se convencionou chamar de “atleta perfeito”.
Gabriel une arte e suor nas mesmas proporções. De nada adiantaria o dom de surfar, afinal, se pernas e braços não fossem fortes o suficiente para atravessar rebentações, dropar no vazio e alternar aéreos, rasgadas e batidas. Como Cristiano Ronaldo no futebol, Medina é uma “máquina” de treinar. Seja na academia ou dentro de casa, o surfista faz de halteres, cordas e bolas personagens importantes de uma vida que está longe de ser apenas “pegar ondas” e “curtir festas”.
“O Gabriel é, de fato, um cara muito requisitado. E que, como qualquer jovem de 24 anos, gosta de sair, de se divertir… Mas ele tem uma característica de não se deixar abalar com os compromissos. Quando ele entra no modo treinamento, foco e concentração, é difícil vencê-lo”, resumiu Allan Menache, em entrevista exclusiva a Raphael Thebas, da Rádio Jovem Pan.
“Por mais sucesso e exposição que tenha, ele possui essa característica de saber o que precisa fazer no momento em que precisa fazer. Ele sabe a hora em que tem de se divertir e a hora em que tem de se concentrar”, acrescentou o preparador físico.
Em 2018, Gabriel Medina derramou inúmeras gotas de suor. Da pré-temporada em São Paulo à conquista do bi no Havaí, o surfista não parou. “É evidente que, durante o ano, ele surfa muito mais do que treina fisicamente, mas o Gabriel não para… Ele se mantém sempre preparado e ativo”, explicou Menache.
Tudo começou ainda antes da primeira etapa do ano, em março, na Gold Coast. “Treinamos forte na pré-temporada, porque ela visa a uma perna longa, que é a perna australiana, com três etapas. Então, no início, a gente teve de se preparar para ele ficar 45 dias longe, competindo. Durante esse período, o Charles (Medina, padrasto de Gabriel) cuidou da manutenção, manteve o Gabriel sempre em movimento”, contou Allan Menache.
“Depois disso, a gente teve várias oportunidades de realizar diferentes preparações. Como o Campeonato Mundial de Surfe tem 11 etapas ao longo do ano, a preparação física nunca vai ser a mesma de uma etapa para a outra. A gente tem de atender a algumas características específicas em relação à onda que vai ser surfada. E a gente pôde desenvolver treinamentos muito bons no ano”, complementou.
A dedicação nos treinos, segundo o preparador físico, é um dos grandes diferenciais do bicampeão. Em um esporte como o surfe, que conta com atletas muitas vezes mais dispostos a estar mais na água do que na academia, Gabriel se destaca por ser tão talentoso quanto aplicado.
“Tem um exemplo ótimo, que é a etapa de Surf Ranch”, iniciou Menache, referindo-se à disputa na piscina de ondas artificiais de Kelly Slater. “Ela exige muito dos membros inferiores dos atletas. Então, neste ano, como foi a estreia da etapa, a gente via os atletas sentindo as pernas, chegando ao fim das ondas com dores musculares, colocando as mãos nas coxas. E o Gabriel, não… Ele treinou demais e surfou com muita desenvoltura… Chegava ao fim da ondas inteiro. Isso é uma prova de como ele assimila bem o trabalho físico. Ele é um fenômeno, uma máquina”, exaltou o preparador.
Tamanho esforço fez com que o surfista surpreendesse a própria equipe, que, em julho, chegou a questionar a possibilidade de conquista do bicampeonato mundial – àquela altura, Gabriel ainda não havia vencido nenhuma etapa no ano. “No meio da temporada, a gente estava naquela dúvida… Pô, será que vai dar, será que não vai dar? Mas, de repente, ele acertou, ganhou o campeonato na piscina do Kelly e deslanchou de uma maneira incrível, muito típica dele. Foi um título sensacional”, finalizou Allan Menache.
Consagrado em 2014 e 2018, Gabriel Medina é o único brasileiro bicampeão mundial de surfe. À frente dele no ranking histórico de campeões mundiais, há apenas cinco surfistas: Tom Curren, Andy Irons, Mick Fanning (todos com três títulos), Mark Richards (cinco títulos) e Kelly Slater (11 títulos).
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