Próxima de receber os Jogos em 2024, Paris quer uma Olimpíada “sustentável”
Para receber os Jogos Olímpicos de 2024 sem quebrar as finanças públicas, multiplicar os estádios subutilizados e as arenas abandonadas, Paris se prepara para refundar o maior evento do esporte mundial. Se de fato concretizar a ambição de receber o evento dentro de sete anos, o que será decidido em setembro, em Lima, no Peru, a capital francesa será a primeira a organizá-lo segundo a Agenda 2020 do Comitê Olímpico Internacional (COI). Trata-se da primeira tentativa séria de reduzir os custos da organização, que extrapolam há 30 anos.
Cem anos depois de receber o evento pela última vez, Paris enfim venceu a disputa, após quatro derrotas – a mais dolorida para Londres/2012. Com um projeto orçado em 6,2 bilhões de euros (R$ 23 bilhões), a capital da França usará 93% de estruturas já existentes e construirá uma Vila Olímpica que, após os Jogos, será transformada em habitações para famílias de baixa renda. A ideia é aproveitar o evento para, além de beneficiar Paris, completar a transformação da cidade de Saint-Denis.
O objetivo de respeito ao orçamento e de uma organização respeitosa do meio ambiente faz parte do caderno de encargos apresentado pela prefeitura de Paris. “Muitas cidades abandonaram a disputa, na Europa e além dela, porque as opiniões públicas não estão mais convencidas, mesmo que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos continuem a ser o evento planetário mais importante”, reconheceu a prefeita Anne Hidalgo, referindo-se às desistências de Boston (Estados Unidos), Roma (Itália), Hamburgo (Alemanha) e Budapeste (Hungria). A postura definiu a vitória de Paris e Los Angeles (Estados Unidos) para 2024 e 2028 – falta definir a ordem de realização dos eventos.
Segundo a prefeita, Paris tem a ambição de realizar a primeira Olimpíada “ecológica” do mundo em respeito a dois tratados: a Agenda 2020, um documento com 40 diretrizes criado pelo COI para reduzir os custos do evento; e o Acordo de Paris, que estabeleceu objetivos de redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
A maior diretriz de Paris é o reaproveitamento quase total das infraestruturas já existentes. Uma única arena será construída: o centro aquático que será erguido ao lado do Stade de France, em Saint-Denis – a ser transformado em estádio olímpico para receber as cerimônias de abertura e encerramento e as competições de atletismo.
O ginásio de Bercy receberá os esportes coletivos como basquete, handebol e vôlei. O Stade Jean Bouin será o palco do rúgbi. Roland Garros e o Parque dos Príncipes, do Paris Saint-Germain, serão utilizados, como o Velódromo de Saint Quentin en Yvelines e o Stade 92, em Nanterre, ambos na periferia da capital. Até monumentos e parques, como o Grand Palais e o Hotel des Invalides ou o Champ de Mars, onde fica a torre Eiffel, serão adaptados para receberem provas.
A ideia do reaproveitamento é reduzir ao mínimo uso do dinheiro público. O orçamento de Paris prevê 6,2 bilhões de euros (R$ 23 bilhões) em investimento, metade dos quais financiados por patrocinadores, bilheteria e COI. Pelos planos, 1,5 bilhão de euros (R$ 5,5 bilhões) será pago pelo poder público. Se concretizado, os Jogos de 2024 terão custado pouco mais da metade dos de Londres, em 2012.
MAU EXEMPLO – Há nada menos do que oito Jogos Olímpicos consecutivos, a começar por Seul/1988, orçamentos apresentados ao COI acabam estourando e se transformando em bola de neve para governos e contribuintes. Para movimentos franceses de oposição à Olimpíada em Paris, o Rio-2016, que custou R$ 41,03 bilhões, é o “pesadelo” a ser combatido pela sociedade civil.
Depois de Los Angeles, em 1984, a prática de construir infraestruturas superdimensionadas e inúteis após os Jogos se disseminou, resultando na onda de impopularidade que obrigou metrópoles do mundo inteiro a retirarem suas candidaturas. Mas o que tira o sono dos opositores ao evento em Paris é mesmo o Brasil. “Rio é o exemplo do pesadelo perfeito e o que nós gostaríamos de evitar na França”, disse Frédéric Viale, coordenador do “Non aux JO 2024”, que luta contra o evento.
“Quem faz a pior estimativa é quem ganha os Jogos porque para seduzir vende coisas a um preço inferior aquele que custará na verdade. Depois, é preciso pagar a fatura. É isso que chamamos de a maldição do vencedor”, disse Emmanuel Frot, vice-presidente da consultoria Microeconomix, que fez um relatório sobre custos e benefícios dos Jogos em Paris.
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