Racismo x patriotismo? Entenda a briga entre Trump e atletas da NFL
Os protestos dos jogadores contra Donald Trump tiraram um pouco da atenção dos touchdowns no último fim de semana da NFL, a principal liga de futebol americano nos Estados Unidos. Contrariando o desejo do presidente norte-americano, muitos atletas permaneceram ajoelhados ou com os braços dados durante a execução do hino norte-americano, ato considerado por Trump como “antipatriótico”.
As manifestações desta rodada têm sua origem ainda na temporada passada, mas só ganharam adesão em peso neste fim de semana. Em 2016, o ex-quarterback do San Francisco 49ers Colin Kaepernick permaneceu sentado durante o hino nacional americano em protesto à onda de racismo e mortes de negros por policiais nos EUA.
Mesmo sendo considerado um dos melhores quarterbacks da liga, Kaepernick acabou afastado da franquia e não foi contratado por nenhum outro time nesta temporada. Para Trump, a demissão de jogadores que “não respeitam o hino” deveria ser a resposta dada pelos clubes contra os protestos. “Se um jogador quer o privilégio de fazer milhões de dólares na NFL, ou em outras ligas, ele não deve desrespeitar a grande bandeira americana e deve ficar de pé durante o hino. Se não, você estará demitido. Encontre outra coisa para fazer”, afirmou Trump.
If a player wants the privilege of making millions of dollars in the NFL,or other leagues, he or she should not be allowed to disrespect….
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 23, 2017
…our Great American Flag (or Country) and should stand for the National Anthem. If not, YOU'RE FIRED. Find something else to do!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 23, 2017
A declaração foi feita no Twitter após o presidente “desconvidar” Stephen Curry, principal estrela do Golden State Warriors e atual campeão da NBA, da tradicional visita da equipe à Casa Branca. O atleta já havia declarado que não pretendia ir ao encontro com Trump.
“Ir à Casa Branca é considerada uma grande honra para os campeões. Se Stephen Curry hesita, portanto eu retiro o convite”, escreveu o presidente americano.
Going to the White House is considered a great honor for a championship team.Stephen Curry is hesitating,therefore invitation is withdrawn!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 23, 2017
Declarações de repúdio às palavras do presidente vieram de outros astros do basquete e até do comissário da NFL. Roger Goodell afirmou que Trump apresentava uma “falta de respeito aos jogadores e uma incapacidade de entender a força em prol do bem que os times e atletas dão às suas comunidades”. Em resposta, Trump sugeriu um boicote aos jogos da NFL, que, segundo ele, vivem em “constante queda de audiência”.
A resposta dos jogadores às declarações de Trump no sábado (23) começaram a ser dadas no domingo à tarde, logo nos primeiros jogos da rodada. Na partida entre Tennessee Titans e Seattle Seahawks, nenhum jogador foi ao gramado para a execução do hino, entoado pela cantora Meghan Linsey, que se ajoelhou após cantar.
.@meghanlinsey – If you are so offended by the #NationalAnthem – why did you agree to sing it? pic.twitter.com/XU0bT6bLvB
— toddstarnes (@toddstarnes) 24 de setembro de 2017
Já no jogo entre Steelers e Bears, apenas um jogador, o left tackle de Pittsburgh Alejandro Villanueva, deixou o vestiário durante o hino. A situação, de acordo com ele, foi um mal-entendido e não um desacordo com o restante da equipe.
Ex-combatente do exército, Villanueva disse que “queria ver a bandeira norte-americana”, e não ficar diante dos holofotes. Ao perceber que já estava sendo filmado, o atleta achou que ficaria pior se recuasse. Mesmo assim, a camisa do jogador foi uma das mais vendidas nos sites especializados nesta segunda-feira (25).
Até donos dos times, a quem Trump pediu a demissão de jogadores, aderiram ao protesto. Foi o caso do paquistanês Shad Khan, proprietário do Jacksonville Jaguars, e de Jerry Jones. Mesmo sendo um dos principais doadores da campanha de Trump à presidência, Jones ficou ajoelhado junto com os jogadores do Dallas Cowboys, time mais rico e de maior torcida da NFL. O confronto entre Dallas e Arizona, que fechou a rodada na segunda-feira, foi o que mais teve vaias à manifestação dos atletas.
#EUA: Em partida na noite dessa segunda, equipe do Dallas Cowboys foi vaiada ao se ajoelhar durante execução do hino nacional pic.twitter.com/wYwTuV3kUB
— RENOVA (@RenovaMidia) 26 de setembro de 2017
Durante a rodada, Trump deu mais declarações de repúdio ao comportamento dos jogadores durante o hino nacional. O presidente chegou a aceitar os protestos em que os atletas permanecem de braços dados, mas tratou como “inaceitável” aqueles que se ajoelham, voltando a usar a palavra “desrespeito” algumas vezes.
Trump também elogiou aqueles que vaiaram os protestos na arquibancada da Nascar, que no fim de semana ameaçou demitir pilotos que se manifestassem durante o hino, além da equipe de hóquei no gelo Pittsburgh Penguins, atuais campeões da NHL – e que farão a visita presidencial. Muitos críticos ao presidente lembraram que tanto a Nascar quanto a NHL quase não possuem atletas negros em comparação ao futebol americano e ao basquete.
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