Sem pilotos, Brasil marcará presença no “Lado B” da Fórmula 1
Pela primeira vez desde 1969, o Brasil não terá um piloto no grid da Fórmula 1 nesta temporada. Mas o País não ficará sem representantes na principal categoria do automobilismo mundial. Dois brasileiros vão atuar nos bastidores, entre o trabalho na fábrica da Force India e a checagem dos motores Renault nas pistas.
Se o Brasil não terá a fama e as habilidades de pilotagem de Felipe Massa ou de Rubens Barrichello nos traçados, terá a discrição do engenheiro mecânico Ricardo Penteado em cada uma das 21 etapas do campeonato, além dos testes dentro e fora da temporada.
Nascido em Teresópolis (RJ), o funcionário da Renault tem 41 anos e soma mais GPs no currículo do que pilotos consagrados como Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna. Foram 185 corridas em que esteve nas pistas checando e avaliando os motores Renault na própria equipe e também naquelas que contam com o propulsor da fornecedora francesa.
Penteado, de 41 anos, ocupa a função de “Trackside Operations Manager”. Em bom português, ele é o chefe de operações da pista. Com passagens por Lotus e Toro Rosso, antes de chegar à Renault, o engenheiro já passou por tantas equipes quanto Massa. E se aproxima do recorde de 19 temporadas de Rubinho na categoria. Penteado, estreante na Fórmula 1 em 2001, atua em sua 18ª temporada, em 2018.
“É uma rotina complicada, estressante, apaixonante e com centenas de coisa para cuidar ao mesmo tempo”, disse Penteado, que mora na cidade francesa de Thonon, próximo a Viry-Chatillon, onde fica a fábrica da Renault. Neste ano, ele será responsável pelos motores que abastecem a própria equipe francesa, a McLaren e a Red Bull. “Cuido também de baterias e ferramentas e coordeno a logística de tudo isso com a fábrica.”
Enquanto o automobilismo brasileiro aguarda por descendentes de famílias famosas como Fittipaldi e Piquet, o País tem nas coxias Marcos Lameirão, filho do ex-piloto Francisco Lameirão, que se destacou até fora do Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Chiquinho, como era conhecido, se destacou em provas estaduais e nacionais da Fórmula Ford e da Super Vê. Internacionalmente, participou de etapas de Fórmula 2 no Brasil, onde enfrentou nomes já conhecidos da F-1, como James Hunt, Fittipaldi e Nelson Piquet.
Marcos, de 43 anos, sonhou rapidamente com o mundo do automobilismo, mas desistiu ainda no kart, aos 14 anos. Preferiu seguir o caminho dos bastidores. Formou-se engenheiro mecânico e se arriscou na Inglaterra ao responder um anúncio da Force India na prestigiada revista Autosport. A aposta deu certo e o paulistano virou desenhista sênior, atuando no departamento de aerodinâmica da equipe, considerada uma das medianas da F-1.
Longe das curvas das pistas, Lameirão vive sua paixão pelo automobilismo ao ajudar a projetar as curvas e os traços dos projetos da Force India, em uma das fábricas do time, em Brackley, na Inglaterra. Ele trabalha na equipe desde março de 2013.
“Desenhamos tudo o que está em contato com o ar no carro”, contou o engenheiro. “O que faço está mais restrito à fábrica porque o departamento de aerodinâmica está sempre trabalhando no passo seguinte do carro. Por isso não vou às corridas. Hoje lido mais com computadores do que com a graxa.”
Com larga experiência no automobilismo, Lameirão lamenta o fato de ser um dos raros representantes do Brasil na Fórmula 1. “Desde que nasci, sempre lembro de algum brasileiro correndo. E, agora, sem nenhum é meio triste de ver”, afirmou.
Sem pilotos do Brasil para acompanhar, o engenheiro vai manter a torcida pelos representantes da própria equipe: o mexicano Sergio Pérez e o francês Esteban Ocon. A dupla colocou a Force India no quarto lugar no Mundial de Construtores do ano passado, mesmo resultado de 2016. “Os últimos dois anos foram excelentes para a equipe”, diz Lameirão.
Pérez e Ocon chamaram atenção também em 2017 pelos atritos internos, que até custaram posições nas corridas e pontos no campeonato. Mas o brasileiro, prudente, evita comentar o trabalho dos pilotos de sua equipe. “Na Fórmula 1, aprendi a ter a mentalidade de focar somente no meu trabalho dentro do time. Claro que perder pontos nunca é um negócio legal, mas controlar isso é função de outra pessoa.”
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