Punido, ex-presidente da federação do Chile faz duras críticas à Fifa
O chileno Harold Mayne-Nicholls, presidente do comitê que avaliou as candidaturas para Copa do Mundo de 2018 e 2022, entrará com recurso contra a punição de sete anos longe do futebol imposta pela Fifa, após esperar 192 dias para receber o teor da denúncia, documento necessário para apresentar sua defesa.
“Impotência, desamparo, falta de proporcionalidade nos castigos, paranoia e ausência de liderança na Fifa” são alguns dos termos usados por Mayne-Nicholls para definir sua situação em entrevista à Agência Efe durante uma curta passagem por Madri.
Após viajar, acompanhado de seu advogado, Carlos Morales, do Chile a Zurique para ir à Fifa, o ex-presidente da Associação Nacional de Futebol Profissional (ANFP) do Chile, entidade que comandou entre 2007 e 2011, encontrou “as portas fechadas”.
“O que ocorre na Fifa é muito estranho. Difícil de entender. As portas estavam fechadas. Não as abriram e ninguém se desculpou. Nunca tinha visto algo assim. É como uma paranoia. Algo não está de acordo com a cultura de anos de bom tratamento e boa educação. Isso demonstra que não há alguém exercendo liderança”, disse.
Horas depois de sua visita à Fifa na última quarta-feira, o Comitê de Ética da Fifa publicou ontem os motivos da punição imposta ao dirigente no dia 6 de julho. Segundo a entidade máxima de futebol, Mayne-Nicholls “pedia repetidamente favores pessoais” para familiares quando presidia a comissão de avaliação e de “não atuava em interesse da Fifa”.
Mayne-Nicholls explicou à Efe que, após conhecer a Academia Aspire de Doha, conversou com os responsáveis pela escola sobre a possibilidade de seu filho e seu sobrinho estudassem no local durante um ano. O dirigente afirmou que os dois nunca se matricularam na instituição, “como confirma um documento apresentado pela academia em documento enviado à Fifa.
“Saí com a sensação que não havia muita objetividade. O período entre a audiência, que foi na sexta-feira antes da final da Copa América, até a segunda-feira seguinte, quando divulgaram a punição, fez com que eu avalie que o tema não foi julgado com atenção. Minhas respostas pareciam não ter grande importância, era uma burocracia, não tive sensação de real imparcialidade”, completou.
Desde então, o ex-presidente da ANFP tenta obter mais informações das acusações contra ele. Mayne-Nicholls mandou duas cartas e três ou quatro e-mails reivindicando os fundamentos da sanção.
“De acordo com as regras, só a válida a comunicação que é feita por fax. E o divertido é que para mim eles fizeram tudo por e-mail. Ninguém usa mais fax, tivemos que arrumar um”, explicou o dirigente, que, apesar de revoltado com a situação, não perdeu o humor.
Mayne-Nicholls afirmou que irá recorrer da punição da Fifa e tem sete dias para apresentar um recurso. Primeiro passo é acionar o Tribunal de Apelação da própria Fifa. Depois, caso a sanção seja mantida, ele promete ir à Corte Arbitral do Esporte (CAS).
“A Academia Aspire mostrou por escrito que não fazia parte do processo de candidatura do Catar para organizar a Copa de 2022. Se tratava de uma oportunidade de dar educação a duas crianças, e não é um conflito de interesse porque eu assumi as despesas”, reiterou.
“Não consigo entender a lógica. Falam de falta de cooperação, mas contestei todos os e-mails. Só não pude ir em uma das datas em que fui convocado e propus outra, mas não aceitaram. Há pessoas que não contestaram nada, que não foram punidas ou só receberam uma multa”, acrescentou o dirigente, questionando a “falta de proporcionalidade” nos casos nos quais houve cobranças ou ofertas de dinheiro.
O sul-coreano Chung Mong-Joon foi punido por seis anos acusado de oferecer dinheiro para investir no futebol caso a Coreia do Sul fosse escolhida para sediar a Copa do Mundo de 2022. Já o responsável pelo caso do ex-secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, propôs que o francês seja afastado por nove anos do futebol por seu suposto envolvimento em um esquema ilegal de vendas de ingressos para o Mundial de 2014.
Questionado sobre a imagem atual da Fifa, Mayne-Nicholls disse que as consequências da corrupção são “muito grandes em termos de credibilidade e comerciais”. “Prejudicou o futebol. As empresas vão se preocupar também com a imagem se não vier alguém que possa evitar situações como essas”, afirmou.
“O novo presidente deve trabalhar para recuperar o futebol para a sociedade. Entrei na Fifa em 93 e o futebol era o mais importante, mas, com o tempo, o marketing e a televisão foram ganhando importância. É preciso recuperar a credibilidade do futebol”, concluiu.
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