Rodízio, Libertadores e mercado: por que futebol do SP “murchou” em 45 dias
São Paulo venceu apenas três dos últimos dez jogos disputados na temporada
São Paulo venceu apenas três dos últimos dez jogos disputados na temporadaNão é mera impressão: o São Paulo que, em 18 de maio, não se aguentou de felicidade e voltou ao gramado do Estádio Independência para celebrar a vaga à semifinal da Libertadores não é o mesmo São Paulo que saiu do Pacaembu abatido pela incontestável derrota para o Santos, no último domingo, pelo Campeonato Brasileiro. Os jogadores escalados por Edgardo Bauza nas duas ocasiões não foram os mesmos, é verdade, mas não dá para ignorar que, durante os 45 dias que separaram o Horto do Pacaembu, o futebol do time tricolor encolheu – em aspectos anímicos, táticos e técnicos.
Seria ingenuidade comparar o espírito de uma equipe pilhada por uma emocionante classificação na Libertadores com a aura de um time que, desde então, só entrou em campo para disputar partidas de um campeonato de pontos corridos. Mais ingênuo ainda seria fechar os olhos para a nítida queda de rendimento dos comandados por Edgardo Bauza durante este período. Desde a doce derrota por 2 a 1 para o Atlético-MG, em Belo Horizonte, foram dez partidas disputadas pelo São Paulo e uma grande marca: a inconstância. Na última dezena de partidas, o Tricolor acumulou três vitórias, três empates e quatro derrotas. Um mísero aproveitamento de 40%.
O momento, definitivamente, não faz o torcedor são-paulino ter a segurança de que o time será finalista da Copa Libertadores daqui a algumas semanas. Mesmo tendo perdido jogadores importantes desde a classificação à semifinal, no mês passado, o Atlético Nacional, da Colômbia, ainda põe pulgas atrás das orelhas tricolores. Muito, é claro, por causa da involução do São Paulo nos últimos 45 dias. O próprio clube paulista admite que vive um perigoso momento de irregularidade às vésperas das partidas mais importantes da temporada.
Em entrevista exclusiva a Beetto Saad para o Plantão de domingo, da Rádio Jovem Pan, o auxiliar-técnico do São Paulo, Pintado, revelou que Edgardo Bauza se incomodou com a queda de rendimento do time e até convocou uma reunião com os integrantes da comissão técnica tricolor para falar sobre o tema nos últimos dias. Os motivos da piora são-paulina foram, então, discutidos. E eles passam por três fatores.
O primeiro deles é o rodízio que, por opção ou necessidade, Bauza se viu obrigado a fazer. Seja por lesões, desgaste, suspensões, problemas pessoais ou convocações, o técnico argentino só conseguiu repetir a escalação do São Paulo uma vez nos últimos dez jogos. O time titular, que superou Toluca e Atlético-MG nos dois últimos embates da Libertadores, não foi mandado a campo nenhuma vez desde 18 de maio.
Internamente, acredita-se que o São Paulo se prejudicou muito por não ter conseguido manter uma escalação-padrão no último mês e meio. Em condições ideais, Bauza optaria por mexer o mínimo possível na equipe, que, então, ganharia mais entrosamento e, por que não, um certo repertório. Mas não foi possível. Os problemas se amontoaram, e o time apresentou tantas caras nos últimos dez jogos, que, agora, corre o risco de chegar sem nenhuma para os confrontos com o Atlético Nacional.
Já é certo, por sinal, que, da equipe-base que jogou o mata-mata da Libertadores, Kelvin não terá condições físicas de entrar em campo ao menos no jogo de ida das semifinais. Maicon foi mantido no clube após longa e cansativa negociação com o Porto, é verdade, mas as preocupações ainda existem. Afinal, nos 40 dias que teve para dar ainda mais rodagem ao time, Bauza não conseguiu escalar os 11 jogadores que praticaram o melhor futebol da equipe na temporada.
“Ter de trocar o time a todo momento, por necessidade, é muito complicado”, admitiu Pintado. “O São Paulo tem uma equipe-base que rende muito bem, é estável e consegue gerar mais confiança a todos nós. Mas ela é muito jovem… Com as modificações necessárias por contusão, calendário e planejamento para a Libertadores, perdeu um pouco de força e acabou tendo dificuldades em jogos contra grandes rivais“, acrescentou.
O segundo fator que explica a queda de rendimento do São Paulo nas últimas semanas diz respeito à própria Copa Libertadores da América. A parada de mais de um mês do torneio por causa da realização da Copa América Centenário fez com que o time praticamente abrisse mão de dez rodadas do Campeonato Brasileiro para se preparar apenas ao próximo compromisso continental. Pintado admite que, dentro de campo, o clube só pensa na competição organizada pela Conmebol – o que certamente explica a irregularidade da equipe nas dez partidas disputadas desde 18 de maio, todas pelo Brasileirão.
“O Brasileiro é muito importante, e o São Paulo sabe que jogar uma competição deste nível demanda sempre uma grande responsabilidade… Mas é impossível que os atletas e funcionários do clube se esqueçam de que estão em uma semifinal de Libertadores, vivendo um momento especial para o clube e para o torcedor… A Libertadores é, sem dúvidas, o momento mais importante para a gente”, confirmou Pintado, embora ciente de que existe, sim, o risco de o time não conseguir recuperar o padrão de antes da parada.
Se o rodízio e a priorização à Libertadores contribuíram para a visível involução são-paulina no último mês e meio, as negociações nas quais o clube se envolveu recentemente também ajudaram a tornar turbulento o ambiente tricolor, tão marcado por problemas políticos nos últimos anos. A permanência de Maicon mobilizou torcedores, dirigentes, jogadores e até custou o cargo de diretor de futebol a Luiz Cunha; o lento processo de renovação de Paulo Henrique Ganso movimentou ainda mais os bastidores são-paulinos; e a polêmica anulação da contratação de Getterson também atraiu holofotes desnecessários ao clube nos últimos dias.
Internamente, fala-se em “dia-a-dia intenso” e “muitos problemas a serem resolvidos” no São Paulo. Nenhum deles, contudo, pode se sobressair ao que começará a ser encarado pelo tricampeão da América no próximo dia 6 de julho, no Morumbi. Se esbanjou irregularidade e abusou da inconstância nas últimas semanas, o São Paulo não poderá se permitir ter altos e baixos tão impactantes diante do Atlético Nacional, pela semifinal da Libertadores. Caso contrário, o sonho do tetra vai escorrer pelos dedos e se esvair pelo ar.
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