Rogério Ceni pode salvar o São Paulo?

  • Por Jovem Pan
  • 23/11/2016 21h51
Igor Amorim / saopaulofc.net Rogério Ceni agora tem a missão de comandar o São Paulo em 2017

O mito está de volta a sua casa. Um dos maiores jogadores da história do São Paulo, Rogério Ceni é o novo técnico da equipe. O anúncio foi feito nesta quinta-feira através de uma brincadeira envolvendo o mascote tricolor, que colou na ponta do banco de reservas e na cadeira da sala de imprensa do estádio Morumbi o número “01”, usado pelo ex-goleiro durante boa parte de sua carreira.

Rogério Ceni chega ao São Paulo com a missão de resgatar a imagem do clube, que ficou manchada nas últimas temporadas pelos problemas de bastidores que a diretoria se envolveu e, principalmente, pelos péssimos resultados alcançados pelo time dentro de campo. A expectativa agora é saber se o mito vai conseguir reviver como treinador, os bons momentos que teve na época de jogador.

Durante os mais de 25 anos vestindo a camisa do São Paulo, Rogério Ceni disputou 1237 jogos e conquistou títulos importantes, como Mundiais de Clubes (2005 e 1993), Libertadores da América (2005 e 1993), Sul-americana (2012), campeonatos Brasileiro (2006, 2007 e 2008) e campeonatos Paulista (1998, 2000 e 2005). Nesse período bateu vários recordes importantes, entre eles, o de maior goleiro-artilheiro da história do futebol (132).

Seu contrato com o São Paulo tem a duração de dois anos (até o fim de 2018), e o ex-goleiro e ídolo do clube assumirá a nova função a partir do início da próxima temporada, na Flórida Cup, torneio amistoso realizado nos Estados Unidos. Até lá, Rogério Ceni vai discutir, junto com a diretoria de futebol, o planejamento da equipe para 2017, e tentar colocar em prática um conceito de futebol moderno no Morumbi.

A busca pela estabilidade

O tempo de contrato de Rogério Ceni indica que o novo treinador quer estabilidade para trabalhar no São Paulo. O mito não quer que aconteça com ele o que se tornou comum nas últimas temporadas. Desde que Muricy Ramalho deixou o tricolor, em abril de 2015, devido a problemas de saúde, sete treinadores diferentes, sendo três deles interinos, passaram pelo time do Morumbi.

Dos quatro técnicos efetivos, o que teve melhor aproveitamento foi o colombiano Juan Carlos Osorio, que antes de chegar ao São Paulo, se destacou no Atlético Nacional. Com ideias novas e uma linha de trabalho diferente, o comandante não teve o mesmo sucesso do clube anterior no tricolor e durou apenas seis meses no cargo: de maio a outubro de 2015, com um aproveitamento de 51% (28J, 12V, 7E, 9D).

O pior treinador que passou no São Paulo nas duas últimas temporadas foi justamente o sucessor do colombiano: Doriva. Vindo da Ponte Preta, o ex-jogador revelado pelo próprio tricolor, ficou pouco mais de um mês no cargo, tendo um aproveitamento pífio de 33% (7J, 2V, 1E, 4D). Já Ricardo Gomes, o último treinador são-paulino, em três meses de trabalho, teve um aproveitamento de 43% (18J, 6V, 5E, 7D).

Para pôr fim a esse rodízio de treinadores, Rogério Ceni terá que alcançar números melhores que seus antecessores, o que não deve ser muito difícil. O ex-jogador e ídolo tricolor tem uma identificação enorme com o clube e conhece melhor do que ninguém a pressão que é trabalhar no São Paulo, ainda mais depois das últimas temporadas, que não foram boas para o time do Morumbi.

A idolatria em risco

Assim como toda aposta, o clube pode ganhar ou perder, e, no caso de Rogério Ceni, ele pode dar certo ou não no São Paulo. Alguns membros do clube acreditam que a contratação do mito é uma jogada política, uma aposta de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, que em abril do próximo ano buscará a reeleição no Morumbi. O receio é que o ídolo esteja sendo usado como cabo eleitoral pelo dirigente e isso possa vir a atrapalhar o time dentro de campo.

Mesmo tendo sido um atleta diferenciado ao longo da carreira, de postura exemplar dentro e fora de campo, com um conhecimento profundo do futebol, Rogério Ceni não tem experiência como treinador. Ele poderia estar colocando em risco sua nova carreira, caso os resultados não sejam positivos logo de início e, talvez, até a idolatria que construiu durante os mais de 25 anos defendendo o tricolor.

Rogério Ceni e o São Paulo vão precisar que os reforços cheguem o quanto antes para que o time fique competitivo na temporada 2017. Outra questão importante é saber como será a relação do mito com os seus comandados, alguns antigos companheiros da época em que era jogador. Ao longo de sua carreira, sua personalidade forte chegou a incomodar alguns atletas e agora, na nova função, isso pode se tornar um problema.

Além disso, Rogério Ceni terá que quebrar uma escrita no futebol brasileiro: a de treinadores que fracassaram nos times aonde se tornaram ídolos como jogadores. Paulo Roberto Falcão, no Internacional, é o mais recente exemplo da falta de sucesso de um ídolo na função de treinador. Em três passagens pelo Colorado, o ex-volante comandou o time em apenas 41 jogos, conquistando apenas um título, o Campeonato Gaúcho de 2011.

Preparado para o cargo

Para que isso não aconteça, Rogério Ceni veio se preparando para trabalhar como treinador desde que se aposentou, no final do ano passado. Durante a atual temporada, o ex-goleiro passou a se dedicar aos estudos, realizando cursos na Europa e acompanhando de perto o trabalho dos principais técnicos do velho continente, entre eles o italiano Claudio Ranieri, do Leicester City, o alemão Jurgen Klopp, do Liverpool, e o argentino Jorge Sampaoli, do Sevilla.

A vontade de comandar o tricolor era antiga. Em 2012, quando se recuperava de uma lesão no ombro, Rogério Ceni visitou o espanhol Pep Guardiola e o português José Mourinho, então treinadores de Barcelona e Real Madrid, respectivamente. Segundo pessoas próximas ao ex-goleiro, ele ficou interessado pela função e a ideia foi amadurecendo ao longo dos anos, até que após pendurar as luvas, decidiu ser treinador.

Neste ano, em uma das raras entrevistas exclusivas pós-aposentadoria, o mito revelou ao locutor Nilson Cesar, da Jovem Pan, o interesse em trabalhar no clube que defendeu por mais de 25 anos: “Quem sabe, no futuro, eu possa estar dentro do São Paulo. Num futuro um pouco mais distante, eu acho. É um sonho que eu tenho, mas misturado com um pouco de receio por tudo que foi construído durante estes 25 anos e meio como atleta do clube”.

O futuro chegou para Rogério Ceni, que assim como o São Paulo, que teve uma temporada decepcionante, irá começar um trabalho do zero em 2017. O tricolor deverá dispensar vários jogadores e buscar alguns reforços para o próximo ano. Com o novo técnico já definido, o time do Morumbi terá mais tempo para realizar esse trabalho de reformulação do elenco e quem sabe voltar a brigar por títulos, que o mito tanto conquistou com a camisa tricolor.

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