“Se não ganhássemos o ouro, falariam que o Tite teve participação?”, dispara Damiani

  • Por Jovem Pan
  • 22/02/2017 18h09

Erasmo Damiani era o coordenador de base da CBF quando a Seleção ganhou o ouro no Rio

Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação Erasmo Damiani era o coordenador de base da CBF quando a Seleção ganhou o ouro no Rio

Demitido pela CBF após o fracasso no Sul-Americano Sub-20, o ex-coordenador de base da Seleção, Erasmo Damiani, minimizou a importância de Tite para a conquista do inédito ouro olímpico. Em entrevista exclusiva a Bruno Prado que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan, o dirigente indicou que o técnico da Seleção principal não teve nenhuma influência no trabalho conduzido por Rogério Micale durante a Rio-2016. 

Se nós tivéssemos perdido a medalha de ouro, a imprensa e a torcida estariam falando que houve participação do Tite? Não. Isentariam. Até as pessoas envolvidas diriam que não haviam tido participação“, reclamou Damiani. 

De acordo com o ex-coordenador de base da CBF, a interação da comissão técnica principal com a base durante os Jogos Olímpicos não teve nenhum efeito prático no desempenho do time dentro de campo – Tite fez algumas visitas a Rogério Micale durante a Olimpíada, o que fez muita gente creditar parte do sucesso da Seleção no torneio à uma possível ajuda do ex-técnico do Corinthians. 

A forma como Micale jogou, que foi no 4-2-4, é completamente diferente da forma como o Tite joga. As pessoas criam e tornam isso verdadeiro. É um pouco também da mania do brasileiro de subestimar o que deu certo. Só porque deu certo com uma pessoa desconhecida, disparou.

Damiani ainda citou uma possível interferência do coordenador de seleções, Edu Gaspar, na sua demissão da CBF, relembrou como foi trabalhar com Neymar durante a Olimpíada e revelou o que pretende fazer no futuro.

Veja abaixo! 

O que justifica a sua saída da CBF? 

“É uma saída que eu já esperava. Quando se muda o coordenador, às vezes ele tem a necessidade de levar alguém da sua área, para não trabalhar com alguém que seja da antiga administração. Eu fui comunicado pelo presidente da CBF (Marco Polo Del Nero), e não pela pessoa que seria responsável pelo meu trabalho, o meu chefe direto (Edu Gaspar). A saída faz parte de um processo que é muito forte no futebol… Você não pensa em continuidade. Não se analisa o que estava sendo feito, o que se propõe a fazer e o que pode ser melhorado… Infelizmente, isso acontece.” 

Havia reuniões na CBF para avaliar o trabalho da base? 

“Sim… Nós tínhamos reuniões. Na época do Gilmar (Rinaldi, ex-coordenador de Seleções da CBF), eu passava que tínhamos uma necessidade, uma demanda maior. Nós tínhamos apenas cinco observadores. E um coordenador. Não havia analista de desempenho. Falei com o Gilmare eles foram atrás. Foi crescendo. Estava acontecendo. Mas depois da saída do Gilmar e da Olimpíada, nós perdemos dois funcionários, e não houve reposição. A partir do segundo semestre de 2016, as coisas começaram a andar mais devagar do que esperávamos. Até entendo a minha saída e a saída do (Rogério) Micale (ex-técnico da Seleção sub-20)… Mas, agora, vai ser como começar do zero.” 

O Tite teve alguma participação na conquista do ouro olímpico? 

“Se nós tivéssemos perdido a medalha de ouro, a imprensa e a torcida estariam falando que houve participação do Tite? Não. Isentariam. Até as pessoas envolvidas diriam que não haviam tido participação. A forma como Micale jogou, que foi no 4-2-4, é completamente diferente da forma como o Tite joga. As pessoas criam e tornam isso verdadeiro. É um pouco também da mania do brasileiro de subestimar o que deu certo. Porque deu certo com uma pessoa desconhecida.”

O que explica a evolução da Seleção a partir do terceiro jogo na Rio-2016? 

“Quem estava lá dentro e conviveu com a gente viu que a nossa forma de conduzir o trabalho não mudou do primeiro para o terceiro jogo. É claro que, quando você não consegue ganhar os dois primeiros jogos, existe uma pressão. Nós tivemos uma conversa em Salvador, antes do jogo contra a Dinamarca, que foi muito franca. Passamos aos atletas que confiávamos neles e que precisávamos de apenas uma vitória para ganhar confiança. Foi que aconteceu. A torcida veio para o nosso lado depois daquela partida.” 

Como foi trabalhar com Neymar durante a Olimpíada? 

“Eu convivi com o Neymar por mais de um mês… E não posso falar um “a” dele. Participava de todo treino com muita vontade e dedicação. Era o ídolo de muitos jogadores daquele grupo e conseguiu conduzi-los de uma forma muito profissional. No dia-a-dia, o Neymar sempre foi muito profissional. Nunca se portou como estrela. Em um primeiro momento, nós conversamos muito com ele. Falamos para ele não tentar resolver tudo sozinho… Mas, ao mesmo tempo, havia uma cobrança muito grande em cima dele por parte da torcida e da imprensa. O último pênalti tinha de cair nos pés dele, mesmo. Ele foi de massacrado a herói.” 

O que pensa para o futuro? 

“Eu sou um profissional do futebol. Estou aberto ao que aparecer, para analisar, ver se vale. O futebol oscila muito. Tenho que estar preparado tanto para receber uma oferta daqui a dez dias, quanto para ficar esperando por seis meses. Não posso determinar se vou trabalhar só com base. Neste primeiro momento, estou descansando um pouco, porque não tive férias. Daqui a pouco, se aparecer alguma coisa, eu sento e analiso antes de assumir um novo compromisso.”

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