Tese frágil e rigor exemplar: o que fez Alecsadro levar gancho tão pesado

  • Por Bruno Landi/Jovem Pan
  • 01/08/2016 23h27
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Alecsandro foi suspenso por dois anos após doping por uso de anabolizantes

Cesar Grecco/Agência Palmeiras/Divulgação Alecsandro foi suspenso por dois anos após doping por uso de anabolizantes

Alecsandro foi condenado a dois anos de suspensão por uso de anabolizantes. O atacante poderá recorrer da decisão, mas, ao que tudo indica, não conseguirá reverter o quadro. Desde antes do julgamento no TJD, afinal, a situação do jogador do Palmeiras já se desenhava irreversível. 

Minutos antes de comparecer à audiência que determinaria o afastamento de Alecsandro dos gramados até 2018, o presidente da Comissão de Doping da CBF concedeu entrevista exclusiva ao Jovem Pan Online e deu indícios de que o gancho ao atacante de 35 anos seria muito pesado. 

Por duas razões. 

O primeiro motivo que levou Alecsandro a ser punido de maneira tão dura foi a frágil tese apresentada pela defesa. De acordo com o atacante, a substância proibida ODephenylandarine apareceu no seu corpo graças a um tratamento de implante capilar feito por ele em dezembro do ano passado. 

Segundo a defesa, Alecsandro usou durante o tratamento loções e medicamentos que continham Flutamida – uma substância legalizada, mas que, metabolizada pelo fígado, poderia produzir radicais semelhantes aos do elemento flagrado no exame antidoping realizado após a partida contra o Corinthians, em abril, pelo Campeonato Paulista. 

Porém, para o presidente da Comissão de Doping da CBF, Fernando Soleratal tese não se sustentaNós encontramos ali um anabolizante. Não é possível que um remédio para calvície se transforme dentro do corpo de qualquer ser-humano do mundo em um anabolizante daquele tipo”, afirmou. “Não sei te dizer se o uso foi voluntário, mas posso te garantir que naquela urina tinha substância proibida“, acrescentou. 

A convicção de Solera explica a outra razão que levou Alecsandro a pegar um gancho tão pesado no TJD: a comissão antidoping da CBF tem se notabilizado pelo extremo rigor. A entidade conta com cerca de 400 profissionais especializados espalhados por todos os estados do Brasil e, a cada duas semanas, envia amostras para a severa análise da conceituada Universidade da Califórnia (UCLA) – o sistema é tão eficiente, que já foi até oferecido para uso nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Mas o caso de Alecsandro não ocorreu em esfera estadual? Sim. No entanto, o atual presidente da Comissão de Doping da CBF também é o chefe da Comissão Antidoping da Federação Paulista de Futebol. Fernando Solera representa, portanto, o elo entre as duas entidades – que não costumam aliviar em casos como o do palmeirense. 

O controle antidoping da CBF é rigoroso, feito quase que diariamente e em todas as partidas de futebol do Brasil. Então, é muito difícil que um jogador que tenha usado substância proibida escape da minha mão. Se o atleta usa, a gente pega”, garantiu o especialista. 

Vantagem esportiva? 

O uso de anabolizantes certamente beneficiou Alecsandro no Campeonato Paulista – já que a substância flagrada em seu organismo queima gordura e aumenta o rendimento muscular. Para Fernando Solera, porém, isto conta pouco nos julgamentos de doping. A simples constatação de uma substância proibida no corpo de um atleta já é o bastante para uma punição do TJD. 

“Por incrível que pareça, a vantagem esportiva é a última das situações que você pega no jogador que usou uma substância proibida. Vantagem esportiva não tem nada a ver... Vamos pensar: cocaína… O atleta tem alguma vantagem esportiva? Nenhuma. E é proibido do mesmo jeito“, exemplificou. 

“Óbvio que o uso de anabolizantes contribui para o melhor rendimento muscular de um atleta, mas o objetivo do exame antidoping não é de forma alguma ir atrás de alguém que esteja tendo vantagem desportiva. E sim ir atrás de pessoas que estejam fraudando uma competição. Não é uma relação de causa e efeito instantânea. Não é porque o cara usou anabolizante que ele vai fazedois gols… É mais complexo do que isto”, encerrou.

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