Tese frágil e rigor exemplar: o que fez Alecsadro levar gancho tão pesado
Alecsandro foi suspenso por dois anos após doping por uso de anabolizantes
Alecsandro foi suspenso por dois anos após doping por uso de anabolizantesAlecsandro foi condenado a dois anos de suspensão por uso de anabolizantes. O atacante poderá recorrer da decisão, mas, ao que tudo indica, não conseguirá reverter o quadro. Desde antes do julgamento no TJD, afinal, a situação do jogador do Palmeiras já se desenhava irreversível.
Minutos antes de comparecer à audiência que determinaria o afastamento de Alecsandro dos gramados até 2018, o presidente da Comissão de Doping da CBF concedeu entrevista exclusiva ao Jovem Pan Online e deu indícios de que o gancho ao atacante de 35 anos seria muito pesado.
Por duas razões.
O primeiro motivo que levou Alecsandro a ser punido de maneira tão dura foi a frágil tese apresentada pela defesa. De acordo com o atacante, a substância proibida O–Dephenylandarine apareceu no seu corpo graças a um tratamento de implante capilar feito por ele em dezembro do ano passado.
Segundo a defesa, Alecsandro usou durante o tratamento loções e medicamentos que continham Flutamida – uma substância legalizada, mas que, metabolizada pelo fígado, poderia produzir radicais semelhantes aos do elemento flagrado no exame antidoping realizado após a partida contra o Corinthians, em abril, pelo Campeonato Paulista.
Porém, para o presidente da Comissão de Doping da CBF, Fernando Solera, tal tese não se sustenta. “Nós encontramos ali um anabolizante. Não é possível que um remédio para calvície se transforme dentro do corpo de qualquer ser-humano do mundo em um anabolizante daquele tipo”, afirmou. “Não sei te dizer se o uso foi voluntário, mas posso te garantir que naquela urina tinha substância proibida“, acrescentou.
A convicção de Solera explica a outra razão que levou Alecsandro a pegar um gancho tão pesado no TJD: a comissão antidoping da CBF tem se notabilizado pelo extremo rigor. A entidade conta com cerca de 400 profissionais especializados espalhados por todos os estados do Brasil e, a cada duas semanas, envia amostras para a severa análise da conceituada Universidade da Califórnia (UCLA) – o sistema é tão eficiente, que já foi até oferecido para uso nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Mas o caso de Alecsandro não ocorreu em esfera estadual? Sim. No entanto, o atual presidente da Comissão de Doping da CBF também é o chefe da Comissão Antidoping da Federação Paulista de Futebol. Fernando Solera representa, portanto, o elo entre as duas entidades – que não costumam aliviar em casos como o do palmeirense.
“O controle antidoping da CBF é rigoroso, feito quase que diariamente e em todas as partidas de futebol do Brasil. Então, é muito difícil que um jogador que tenha usado substância proibida escape da minha mão. Se o atleta usa, a gente pega”, garantiu o especialista.
Vantagem esportiva?
O uso de anabolizantes certamente beneficiou Alecsandro no Campeonato Paulista – já que a substância flagrada em seu organismo queima gordura e aumenta o rendimento muscular. Para Fernando Solera, porém, isto conta pouco nos julgamentos de doping. A simples constatação de uma substância proibida no corpo de um atleta já é o bastante para uma punição do TJD.
“Por incrível que pareça, a vantagem esportiva é a última das situações que você pega no jogador que usou uma substância proibida. Vantagem esportiva não tem nada a ver... Vamos pensar: cocaína… O atleta tem alguma vantagem esportiva? Nenhuma. E é proibido do mesmo jeito“, exemplificou.
“Óbvio que o uso de anabolizantes contribui para o melhor rendimento muscular de um atleta, mas o objetivo do exame antidoping não é de forma alguma ir atrás de alguém que esteja tendo vantagem desportiva. E sim ir atrás de pessoas que estejam fraudando uma competição. Não é uma relação de causa e efeito instantânea. Não é porque o cara usou anabolizante que ele vai fazer dois gols… É mais complexo do que isto”, encerrou.
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