O Brasil está sendo roubado nas Olimpíadas? Torcedores acusam favorecimento ao Japão

Brasileiros reclamam da nota que prejudicou o surfista Medina e das decisões que eliminaram a judoca Maria Portela; nas redes sociais, há quem veja generosidade para os atletas da casa

  • Por Jovem Pan
  • 29/07/2021 17h12 - Atualizado em 29/07/2021 17h13
  • BlueSky
Jonne Roriz/COB - 27/07/2021 Gabriel Medina, de camiseta branca, completa manobra no mar Gabriel Medina foi eliminado pelo japonês Kanoa Igarashi na semifinal do torneio olímpico de surfe

Assim que a primeira bateria da semifinal do surfe terminou nas águas de Tsurigasaki e consagrou o japonês Kanoa Igarashi como primeiro finalista da história do surfe nas Olimpíadas, a internet explodiu no Brasil. Torcedores de Gabriel Medina ficaram inconformados com a eliminação do bicampeão mundial nos minutos finais da disputa. Para muitos, o 9.33 para o aéreo de Igarashi foi mais do que generoso. Até Yasmin Brunet, namorada do surfista brasileiro, digitou em favor do amado. “O Gabriel foi roubado na cara dura”, desabafou a influenciadora. “Infelizmente o surfe é subjetivo, dá para roubar fácil. Puxam para o país [que sedia o evento]”, acrescentou.

Dois dias antes, a vitória de outro japonês havia mexido com a torcida brasileira. As manobras de Yuto Horigome não impressionaram o público verde-amarelo, mas ele ficou com o primeiro ouro do skate nos Jogos. O paulista Kelvin Hoefler foi prata. Adotado pela torcida verde-amarela, o peruano Angelo Caro Narvaez terminou em quinto e não subiu no pódio. “O peruano, fazendo o skate girar 77 vezes, levou 8. O japonês só desceu bem ‘nhé’ e levou 9,80. Me expliquem essa justiça”, reclamou um torcedor no Twitter. “Eu achei que o peruano foi ótimo, e ele tirou 8. O japonês deu um pulinho, tirou 9,50″, desabafou outro.

A última reclamação brasileira foi no judô. Desta vez, não teve o Japão envolvido, embora alguns torcedores argumentem que a eliminação de Maria Portela tenha tirado uma forte competidora do caminho dos judocas da casa. Portela reclama que aplicou um wazari que daria a classificação contra a russa Madina Taimazova, mas o árbitro mexicano Everardo Garcia entendeu que o golpe não foi completado. Apesar das reclamações, não há consenso de que os brasileiros estão sendo roubados em Tóquio. Confira abaixo as polêmicas:

Surfe

Não foi só Yasmin Brunet que ficou na bronca. A eliminação de Gabriel Medina foi a mais contestada pela torcida brasileira. Faltando alguns minutos para o fim da bateria, Kano Igarashi fez o que parecia impossível: conseguiu um 9.33 e ultrapassou o brasileiro (17.00 e 16.76). Os “medinistas” apontam que o japonês não tinha repertório para bater o bicampeão mundial e que Medina havia dado um aéreo muito parecido. “O Medina está meio na bronca com a nota. Por que o aéreo dele valeu 8.7 e o do japonês valeu mais de 9 se o japonês ainda botou a mão na prancha?”, questionou o locutor Galvão Bueno.

“A onda do Kanoa vale, no mínimo, meio ponto a menos do que a do Gabriel. Teve mão na prancha, onda menor… Tudo bem que a projeção dele foi boa, quase perfeita, mas o Gabriel fez um aéreo de backside, aterrissou bem e sem a mão na borda da prancha. A final era para ser brasileira. O Gabriel também foi prejudicado na disputa do bronze. Então, tem muita má vontade da WSL [sigla em inglês da Liga Mundial de Surfe] com os brasileiros, e isso vai ser cada vez mais frequente”, reclamou Allan Menache, preparador físico de Medina, em entrevista à Jovem Pan. “A grande diferença dos dois aéreos foi a angulação da rabeta da prancha. Uma coisa é você ficar de cabeça para baixo com a rabeta para cima, outra é fazer o giro com a rabeta na diagonal, não na vertical. Isso tem um grau de dificuldade muito maior. E o fato de o Gabriel Medina não ter segurado com a mão na borda. Fez 99% a rotação completa. No segundo aéreo, fez a mesma rotação. O aéreo do Kanoa Igarashi foi ruim? Não, foi bom. Mas se você analisar nos mínimos detalhes, vai ver que a prancha não ficou na vertical. E ele usou o artifício da mão na borda. O que me impressionou mais na volta da manobra dele é que teve um pouco mais de amplitude para frente, e ele aterrissou no flat, na base da onda. E isso pode ter gerado uma questão mais impactante para os jurados”, disse André Gionaraelli, ex-surfista, ex-juiz de surfe e analista das transmissões da WSL.

Gionarelli ressaltou que respeita a decisão dos jurados. Que não foram todos japoneses, como alguns imaginam. O júri em Tóquio foi composto por 11 árbitros de 7 países diferentes. Entre eles, um brasileiro, Luli Pereira, que deu nota 9,00 para o aéreo de Kanoa Igarashi. Durante a transmissão na Globo, o ex-surfista Teco Padaratz rejeitou um complô para prejudicar Medina e dar a vitória ao japonês. “Pode existir um erro de julgamento, mas complô não existe.”

Skate

Quem é do ramo não contestou a vitória de Yuto Horigome no street masculino. A lenda do skate Bob Burnquist, comentarista da Globo e ex-presidente da CBSkate (Confederação Brasileira de Skate), considerou justo o título do japonês. Segundo ele, as manobras foram complexas e executadas com alto grau de dificuldade. A contestação veio da internet. Brasileiros supuseram que o skatista da casa contou com a simpatia dos jurados. “Acho que os juízes em Tóquio estão demonstrando uma certa preferência para os atletas do Japão. No skate, já tinha ficado com esta desconfiança. Agora, no surfe, fiquei com toda a certeza”, declarou, no Twitter, a atriz Fernanda Concon. Por outro lado, alguns torcedores “brasucas” admitiram que o desempenho de Horigome foi digno de medalha de ouro.

Judô

A derrota de Maria Portela indignou estrelas brasileiras do judô. A gaúcha de 33 anos, que chegou à capital japonesa como favorita a uma medalha, ficou esperançosa quando conseguiu derrubar a russa Madina Taimazova, mas a arbitragem entendeu que ela não conseguiu completar o wazari. Além disso, a punição que eliminou Portela foi bastante controversa. “Nunca gostei de falar da arbitragem, mas meu Deus, o que foi essa luta? Wazari não marcado e uma punição muito injusta”, reclamou João Derly, campeão pan-americano e mundial. “Para que serve o VAR? Francamente, lamentável”, vociferou Flavio Canto, medalha de bronze em Atenas 2004. Com a autoridade que suas duas medalhas olímpicas lhe conferem (uma prata em Sidney-2000 e um bronze em Pequim-2008), Tiago Camilo decretou: a brasileira foi prejudicada. “Tanto no golpe não pontuado quando na decisão do golden score”, explicou.

 

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.