Wada diz estar investigando alegações de falhas no controle de doping no Brasil

  • Por Estadão Conteúdo
  • 11/06/2017 17h31 - Atualizado em 29/06/2017 00h03
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Facebook/Reprodução Hoje treinador na Índia

A Agência Mundial Antidoping, Wada, confirmou que está investigando alegações de falta de controle do uso de substâncias ilegais no esporte brasileiro. A declaração foi publicada neste domingo (11), depois que a TV alemã ARD revelou como uma rede clandestina forneceria produtos proibidos para atletas e mesmo para a elite do futebol nacional.

“A Wada está ciente do documentário publicado pela emissora alemã ARD”, apontou o comunicado da Wada. “Os assuntos levantados no documentário fazem parte de uma investigação em curso atualmente sendo realizada pelo time de investigação e inteligência da Wada”, confirmou a entidade com sede no Canadá. De acordo com a agência, nenhum detalhe pode ser dado neste momento sobre a apuração.

No sábado (10), a ARD revelou amplas falhas de controle e pressão de instituições no Brasil. A denúncia apontou até mesmo para o envolvimento de ex-jogadores da Seleção Brasileira, como Roberto Carlos, consagrado ex-lateral da equipe nacional.

De acordo com a investigação, o País não conta com um sistema de controle suficiente, o treinamento é inadequado, o abastecimento de produtos é amplo, a pressão das instituições é real e a ação judicial é falha.

Apresentando como agente estrangeira de jogadores de futebol em busca de anabolizantes, a equipe de TV entrou em contato com uma rede de abastecimento clandestina e chegou até mesmo a visitar uma fábrica de anabolizantes.

Julio Cesar Alves, um dos médicos que prometia fornecer o material, fica em Piracicaba, no interior paulista. Ao conversar com o grupo alemão sem saber que falava com jornalistas, ele revelou como seus produtos abasteciam jogadores, como o ex-lateral da Seleção.

Com uma câmera escondida, o grupo ouviu do médico ofertas por clenbuterol e orientando os clientes a deixar de tomar o produto 15 dias antes de uma competição para evitar serem pegos em um exame de doping. Alves ainda os promete dez doses de EPO, o famoso doping sanguíneo.

Uma das atletas pegas no doping no Brasil foi Eliane Pereira. Aos jornalistas, ela garante que não sabia o que Alves a receitava e tomava acreditando que era algo legal. Mas ela admite que o médico ensinava como escapar dos testes e como teve um encontro com um “grande ídolo” da seleção brasileira no consultório do médico. Eliane, porém, se recusa a revelar seu nome.

Flagrado em uma gravação, Alves insiste que já forneceu seus produtos a dois jogadores da seleção. “Eu tratei de Roberto Carlos. Ele chegou a mim com 15 anos”, disse, louvando-se de ter ajudado a jogador a ser o que ele se transformou.

De acordo com a ARD, documentos de uma investigação no Brasil também apontariam o envolvimento do ex-lateral. Mas procuradores disseram desconhecer o caso. Procurado, o ex-jogador não deu uma resposta à emissora.

Importação

De acordo com a investigação, parte dos produtos no mercado brasileiro são importados. Em Assunção, no Paraguai, o grupo de jornalistas chegou a ser levado a uma fábrica de anabolizantes. No encontro, os empresários confirmaram que vendiam anabolizantes e que seu principal mercado era o setor de futebol do Brasil, em grandes quantidades.

“Vendemos para todos os esportes, como atletismo”, disseram. “Há pessoas ainda que compram para jogadores que querem ainda atuar quando são mais velhos. Com 34 ou 35 anos ou para aqueles que tiveram alguma lesão”, explicou. Segundo o empresário, o produto é enviado para Brasil e Argentina. “Dois ou três fisioterapeutas de clubes brasileiros comprar isso aqui para seus jogadores em fase de recuperação de lesões”, disse. “Em um momento que não pode ser detectado em exames de doping”, completou.

A investigação ainda aponta como as falhas nos controles seriam amplas no Brasil. Uma das investigações da Wada ocorre justamente com empresas que são terceirizadas no Brasil para realizar os testes.

Numa gravação telefônica que está de posse da Wada, uma das empresas deixa claro que o organizador de um torneio agiu para escolher quem ele quer testar. Ao ser questionada quem seria testado, a empresa responde: “Normalmente testamos os três primeiros colocados e mais três outros. Mas você pode decidir isso”, disse.

Para mostrar como o controle é falho, a investigação ainda acompanha como testes de doping são realizados no Palmeiras. A constatação é de que jogadores fiquem à vontade e com tempo suficiente para eventualmente manipular as amostras. Para os especialistas, os testes não ocorrem dentro das regras internacionais.

Entre os diversos especialistas e pessoas excluídas do controle de doping no Brasil, a ARD fala ainda com Luis Horta, ex-chefe de planejamento da ABCD e que denunciou as autoridades brasileiras por terem impedido exames fora de competições com atletas nacionais na preparação para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

De fato, por meses, os atletas brasileiros deixaram de ser testados fora de competições. “Antes dos Jogos Olímpicos, estávamos sob pressão a não realizar testes de doping sem aviso prévio”, disse. “Sob pressão do Comitê Olímpico Brasileiro”, esclareceu. “Eu percebi que eles (atletas) não têm o mesmo objetivo. Eles querem medalhas, medalhas, medalhas. Limpas ou não”, atacou.

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