William critica leis e diz que futebol brasileiro trabalha contra própria evolução

  • Por Jovem Pan
  • 01/04/2014 10h00
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William “Capita” Machado parou de jogar futebol em 2010, aos 34 anos, mas não quis abandonar o mundo da bola. Logo em 2011 assumiu – por pouco tempo – a gerencia de futebol do Corinthians, último clube pelo qual atuou e ergueu muitas taças, e depois juntou-se a um sócio e, utilizando o conhecimento financeiro de quem se formou em Ciências Contábeis e a experiência como jogador, montou uma assessoria para blindar e proteger o ganho de atletas. No fim de 2013 deixou de lado essa função para aceitar o convite do Bahia para ser diretor de futebol. Problemas pessoais, no entanto, o fizeram abandonar o cargo apenas três meses depois.

Em entrevista exclusiva à Rádio Jovem Pan, William contou como é a vida de jogador aposentado e falou o que pensa sobre concentração, justiça esportiva e rumos do futebol. Ele explicou que já planejava o pós-carreira antes mesmo de parar, e que pensava na necessidade dos atletas de direcionar o dinheiro. “Você ganha dinheiro em espaço curto de tempo e não tem assessoria adequada para se organizar em relação a isso. Minoria ganha bem e ainda acredita que vai ter para o resto da vida, e se cerca de várias pessoas, às vezes com boas intenções, mas que não tem competência necessária pra assessorar bem”.

Sobre a proposta do Bahia, ele destacou a ousadia, e elogiou a diretoria do clube baiano. Disse que estava preparado para receber críticas e apagar incêndios diários, por nadar contra a maré, mas que por questões familiares precisou abandonar. “Em 15 anos de carreira eu sempre priorizei a profissão, agora estava na hora de dar atenção à família. Acabei saindo, mas virei torcedor, ajudei no processo de contratar outro profissional, e fiquei feliz com os três meses de experiência, fã da direção que lá está porque está propondo ideias novas, com propostas arrojadas”.

Como alguém que viveu o ambiente de futebol dentro e fora dos gramados, William criticou as leis do futebol e solicitou uma revisão dos processos, com a possibilidade de demissão de jogadores por justa causa, por exemplo. Para ele, as leis protegem demais o atleta, e são benéficas para os profissionais, mas que atrapalha o processo no caso de atletas que não são comprometidos.

“Se um profissional chega atrasado em outra área ele recebe uma, duas advertências e depois pode ser mandado embora por justa causa. No futebol brasileiro ninguém foi, e sabemos de muitos casos de jogadores que não se comprometem. Clube tem que ter respaldo da justiça para que, se o atleta não estiver se comprometendo, poder demitir por justa causa, sem ter que pagar o restante do contrato”.

Para ele, a falta de punição cria jurisprudência para fazer errado, e o mau exemplo ganha forças, deixando o futebol refém do atleta. Usando referencias do futebol do exterior, ele reforça que no Brasil o técnico muitas vezes é punido no lugar do jogador, e que o futebol brasileiro trabalha contra a evolução do próprio futebol ao manter essa cultura.

“Atleta não pode ser maior que uma equipe de futebol. Lembro que no [Manchester] United o Rooney foi afastado por mau comportamento. E eu entendo que às vezes o treinador não quer prejudicar o time, mas é necessário um exemplo. Se ele cobra, orienta e na hora do jogo o jogador não faz o pedido não é o técnico que é burro, é o atleta, então tem que afastar e colocar outro no lugar, mas muitas vezes a ligação entre dirigentes e agentes imperam, e isso é ruim para o futebol”.

Outra colocação polêmica do ex-zagueiro é a contra a concentração. Para ele é uma questão de cultura brasileira, que acredita que o jogador irá aprontar se estiver livre, mas que não é exatamente assim. “Hoje com celulares que filmam e tiram fotos, nem que queira o jogador consegue fazer muita coisa. Sempre vai ter um ou outro que vai contra a linha, mas é um processo. À medida que conhece o grupo você vai transferindo responsabilidade, pois se ficar em casa o jogador tem que se alimentar bem, dormir cedo. E é uma ilusão que na concentração isso ocorre. Ninguém dorme antes de 2h, 3h quando tá na concentração”.

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